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Morre Tonito, cofundador do Timoneiro e grande personalidade canoense, aos 93 anos
Faleceu nesta quinta-feira, 22, dia de fechamento de edição do jornal Timoneiro, o seu mais ilustre fundador, Canabarro Tróis filho, o famoso Tonito, aos 93 anos.
Tonito nasceu em São Francisco de Assis, no dia 27 de novembro de 1926. Reside em Canoas desde 1941. Como jornalista, colaborou nos jornais locais Correio de Canoas, Expressão, Gazeta de Notícias, O Gaúcho, Radar, Folha de Canoas e Diário de Canoas. Foi cofundador, em 1965, de O Momento, que dirigiu até 1968.
Foi cofundador do jornal “O Timoneiro”, que dirigiu de 1966 a 1992. Em 1967/68 foi redator e cronista da Folha da Tarde, de Porto Alegre. Ele seguia trabalhando como um dos colunistas mais ativos do jornal Timoneiro, sempre abordando assuntos ligados à cultura e às pessoas de Canoas. Pessoas, aliás, sempre foram o foco da obra de Tonito que, não por acaso, é autor de Gente é Mais Importante.
Em 1976, conquistou o 3º lugar em concurso nacional de crônicas promovido pelo Instituto Estadual do Livro e a Associação Rio-Grandense de Imprensa. Foi Patrono da Feira do Livro de Canoas, em 1999.
Dentre seus livros publicados estão:
– O Sal e o Blá (crônicas);
– Hino das Vilas (poemeto histórico);
– Postais (poemas);
– Boi Gordo é o Governo (versos satíricos);
– Doce Exílio (crônicas);
– Da Cabeça de Deus Todos os Pensamentos (versos sobre pensamentos clássicos);
– Urgência de Eternidade (poemas);
– Flagelo faz 40 anos (coletânea de notícias / poesia), com Moacir Ayres da Siqueira;
– Gente é mais importante (histórias sobre canoenses).
Sua última entrevista concedida à nossa equipe de reportagem, pela comemoração dos 50 anos do Timoneiro, ele falou sobre a criação do semanário, carreira, política, Canoas e vida.
Timoneiro – Como foi o processo de criação do jornal O Timoneiro?
Tonito – Eu nem pensava em jornalismo na época. Eu tinha me envolvido com um jornal, chamado O Momento, no qual a equipe era composta por mim, pelo Valter Galvani e por outros amigos. Ele durou três anos, de 1955 a 1958. Depois disso, eu escrevia esporadicamente. Um dia eu estava em casa de noite e bateram na porta o professor Otomar Elvanger e o contabilista Cirilo Rodrigues Lacerda. Na época eles queriam abrir um jornal, procuraram o Lagranha, que era prefeito e falou pra eles: “isso é com o Tonito”. Acabou que eu aceitei e fundei com eles O Timoneiro. Entrou na equipe também o Mário Porto Inda, mas com o tempo eles foram saindo e fiquei só.
Como foi a escolha da linha editorial do jornal?
Fui eu que influi mais para estabelecer esta linha que é seguida até hoje. Uma linha de independência e com alguma agressividade, não contra o governo, mas a favor do povo.
Qual era o contexto da imprensa na cidade naquela época? Algum veículo seguia linha similar?
Era um oba-oba, puro laudatório. Naquele momento os jornais estavam todos vinculados a algum interesse ou a algum partido.
Como era Canoas no período em que OT foi lançado?
Era como é hoje, mas bem menor. Havia uma vida social intensa no Centro. Tinha o Clube Comercial, o Canoas Tênis Clube e o Gremio Niterói, que foi considerado o melhor clube do interior. Foi uma judiaria o que fizeram com aquele clube, deixaram quebrar, depois de tantos anos de história.
Foi na sua gestão que OT começou a fazer frequentes reportagens sobre problemas relativos à habitação. Por que motivo esta situação parece não ter melhorado com o passar dos anos?
Tem coisas irreversíveis. Antigamente os velhos coronéis facilitavam a vinda de gente do interior para morar nos banhados de Canoas. O poder público não tinha autoridade, e quando tinha não usava. Os caras chegavam aqui, faziam loteamento no banhado, vendiam os terrenos, ganhavam um monte de dinheiro e iam embora. A Prefeitura ficava com o pepino, de botar escola lá e levantar o nível da rua pra água não entrar. As enchentes que vieram em seguida completaram a tragédia. Canoas é um modelo de como não administrar uma cidade. A Estância Velha ainda está deserta em grande parte, enquanto um monte de gente mora no banhado.
Quais são as diferenças entre os políticos de hoje e os da época da fundação do jornal?
Diferença é em número, hoje tem mais deles, mas o perfil era o mesmo. Naquela época era mais difícil ser vigarista e lograr o povo. A pessoa era vista por todo mundo como o ladrão, o incompetente. Agora está pulverizado, está cheio de vigaristas aí. Gente que se aproveita e se elege sem servir o povo. Um vereador ganhar R$ 12 mil em Canoas é uma vergonha. Enquanto isso o professor ganha R$ 2 mil. E o retrato do Brasil, a ignorância bem remunerada e a sabedoria mal paga.
Por que as pessoas que vêm morar ou trabalhar em Canoas demoram para criar uma identificação com a cidade?
Naquele tempo, quando começamos o jornal, havia uma identidade, um espírito comunitário maior. Havia uma identidade dos bairros Niterói e Rio Branco, depois do Mathias Velho também. Hoje quem governa Canoas é gente daqui? O prefeito nasceu aqui e mora aqui, mas e os secretários e o diretor do fórum moram aqui? Eu acho que não moram por aqui. Naquela época, Lenine Nequette era diretor do Fórum e morava aqui. Havia um relacionamento mais direto com as pessoas. O prefeito andava a pé e tomava cafezinho na esquina. Hoje eu não sei, esse prefeito eu nunca vi na rua. A cidade fica sem feição humana, sem cheiro de gente, parece que dirigida por controle remoto. Canoas está atravessando um período muito triste.
Como você vê as lutas recentes de OT em prol do meio ambiente?
Eu não entro na Villa Mimosa desde que construíram um edifício de apartamentos no meio daquela mata virgem. Eu não boto os pés lá, me recuso. Aquilo foi um crime. Como que a Prefeitura permitiu e não fez nada contra? Eu era amigo da família Ludwig, muito frequentei aquela propriedade. Aquele espaço era para ser preservado, daria um ótimo parque. Se não tivesse outro lugar para fazer prédios eu entenderia, mas tinha. São modelos de degradação urbana. Nas esquinas da Pedro Weingartner com a Guilherme Schell e da Fioravante Milanez com a Victor Barreto existiam arvoredos maravilhosos e agora não tem mais nada, é uma pena isso.
Como você o atual posicionamento do jornal?
A imparcialidade não existe. E o jornal reflete o caráter de quem o faz. Eu vejo isso com satisfação, o jornal que eu ajudei a criar não se submeteu ao poder político e ao poder financeiro, isso é muito bom. Pena que os governos não saibam conviver com a imprensa livre.
Como era, em 1966, a relação dos políticos com o jornal?
Jogo político sempre foi assim. A estratégia é a mesma, convidam a gente pra eventos, almoços, jantares e tentam fazer um relacionamento amistoso e vão levando. Por outro lado as empresas amigas do governo ajudam quem está no poder negando comprar espaços publicitários de quem não se submete. O esquema é bem montado, mas pode nem ser intencional, é instintivo. Se o chefão da cidade não gosta do jornal, o pequeno empresário que depende do chefão não vai prestigiar o veículo.
E como lidar com aqueles que estão na oposição?
A gente deve procurar sempre um equilíbrio. Não se deve fazer uma campanha contra a Prefeitura ou contra quem quer que seja e nem devemos proteger lado nenhum.
E como foi sua passagem como vereador na Câmara?
Eu fui vereador e não concorri à reeleição na época, pois eu sou contra isso. Me elegi pelo Partido Democrata Cristão. Embora eu não seja católico praticante eu gostei do programa e em Canoas elegemos dois vereadores, para a legislatura 1964-1967, eu e a professora Lina, primeira mulher vereadora da cidade.
Como foi conciliar a função de vereador com o trabalho de jornalista?
Eu encarava muita discussão com os outros vereadores e até com o prefeito. Por causa de uma reportagem sobre problemas no colégio André Leão Puente o Lagranha brigou comigo. Daí um dia eu botei na capa do jornal um bilhete para ele, dizendo que ele cuidasse da Prefeitura, onde ele tinha autoridade, porque no jornal ele não tinha. Apesar disso, eu acho que o Lagranha era bem melhor do que o que temos hoje.
O colégio estava com a escada podre, quase caindo. A gente fazia matéria e ele, como prefeito, tomava as dores. E eu acho que ele estava certo em se preocupar com o assunto, mesmo sendo uma instituição estadual. Tudo que acontece na cidade o prefeito tem a ver. Ele é o prefeito da cidade e não de parte dela. Mesmo que não seja da competência dele, é dever cobrar dele cobrar de quem é responsável.
Na sua visão, por que não prosperam muitas empresas em Canoas?
Em parte, pela proximidade com a capital atrapalha. E também as lideranças empresariais e oficiais parece que não gostam de Canoas e tratam a cidade como terra de garimpo. As autoridades de Canoas festejam seu aniversário em Porto Alegre. Isso cria um desânimo na população.
O gosto pelo trabalho comunitário é algo que vem de família?
Meu pai foi vereador da segunda legislatura de Canoas também foi presidente duas vezes do clube Bolão Gaúcho. Ele nasceu em Santa Maria e minha mãe em Bagé. Nos mudamos de São Francisco de Assis, onde nasci, para Triunfo, em 1939. Chegamos aqui em Canoas no dia 8 de setembro de 1941 e desde essa época eu já via meu pai se interessando pelas pessoas da cidade.
Você veio para Canoas ainda criança, com seus pais, mas depois nunca mais foi embora. Qual foi o motivo que o levou a ficar nesta cidade?
Tive três oportunidades de sair, mas eu não gostava de coisa pronta, queria eu fazer a coisa. Valter Galvani me levou para trabalhar na Folha da Tarde, no grupo Caldas Júnior. Lá ele criou uma equipe que chamou de estagiários, e me integrou nela. Chegou num ponto que eu não podia descuidar do Timoneiro para ser empregado de uma grande empresa. Mas para mim foi uma experiência de crescimento pessoal e profissional impressionante.
Como você define a relação entre ética e jornalismo?
A ética é a medida exata do uso da razão a serviço de uma causa justa e digna, é não sair do trilho e não exagerar e nem ofender o semelhante. É manter uma justa medida para que todos possam divergir, mas sem o intuito de destruir o oponente.
Em que Canoas precisa mudar?
Precisa de um novo plano diretor, para recuperar o urbanismo da cidade, valorizar o Centro Histórico. A antiga Estação Ferroviária abrigou durante 25 anos a Fundação Cultural, que prestou serviços que o atual governo, por falta de competência, jamais seria capaz de prestar. Este prefeito fechou a fundação em 2009, o prédio ficou ocioso, apodrecendo. Agora fizeram uma reforma e tiraram a identidade do prédio. Toda restauração deve preservar as características originais do prédio e agora eles trocaram a cor dele. Esse tipo de imposição não é boa. A mesma coisa acontece na feira do livro, ela não é de Canoas, ela é em Canoas. Eles fazem um evento para mostrar para os canoenses o que os de fora fazem. A Prefeitura paga R$ 200 para um escritor canoense falar e R$ 150 mil para uma cantora se apresentar. Eles estão mais preocupados em aparecer na mídia nacional às nossas custas.
Como você espera ser lembrado daqui a 50 anos, no aniversário de 100 anos do jornal?
Como um aldeão, um cronista da aldeia, que só tem a pretensão de ser compreendido por uma ou duas pessoas. Eu gosto muito de gente. Eu tenho uma série de livros chamada Gente é Mais Importante, que vai ter agora o quarto volume. Quero ser lembrado por escrever sobre pessoas que muitas vezes foram importantes para a cidade e a prefeitura nem sabe que ela contribuiu, ou sabe e não faz nada para valorizar.
Obrigada por tudo, mestre!
Destaques
Prestes a completar 85 anos, Canoas olha para o passado para projetar o futuro
por Marcelo Grisa
marcelogrisa@gmail.com
A cidade de Canoas completa 85 anos de emancipação política no dia 27 de junho, enquanto ainda se recupera da maior tragédia de sua história.
As chuvas que atingiram o RS entre o final de abril e o começo de maio de 2024 entraram para a história em todo o Estado. Em Canoas, entretanto, mais de 60% da área urbana da cidade ficou debaixo d’água.
O Grupo O Timoneiro, no objetivo de discutir os rumos do município e para que a importância desse assunto não seja esquecida, foi atrás de histórias anteriores a que os canoenses vivem hoje.
Fala-se muito nas enchentes de 1941, que definiram políticas para as décadas seguintes em Porto Alegre e na Região Metropolitana. Entretanto, os mais antigos lembram-se também de 1967, quando muitos dos bairros que alagaram no mês passado.
Falamos com algumas dessas pessoas que já sabem, a 57 anos, o que é passar por uma enchente.
Primeiras memórias
Zenona Muzykant, de 85 anos, havia chegado a Canoas, vinda de Dom Feliciano, a menos de dois anos quando as águas atingiram a cidade.
Então moradora do Mathias Velho, ela se recorda de ficar confusa ao receber informações, já que pouco conhecia Canoas à época. “A gente ficava sabendo das coisas por quem passava na rua”, relata.
A água chegou até a metade das janelas da sua casa, na Rua Maceió. “O pessoal levantou tudo, não perdemos muita coisa. Mas muitos parentes meus perderam tudo que tinha em casa”, aponta Zenona.
A sensação que ela tem com a enchente de 2024 é bem diferente. “Parece que muito mais gente foi atingida dessa vez”, diz.
Entretanto, para a moradora do bairro Igara, o mais importante é a manutenção da vida. “O resto se batalha e consegue com garra, vontade e fé.”
Socorrista e resgatado
Samuel Eilert nasceu no bairro Rio Branco e, como ele mesmo diz, cresceu na beira do Rio Gravataí. Os diques estavam em construção, e a estrutura que foi afetada em 2024 não estava pronta em 1967.
Então com 23 anos, o professor aposentado saiu pelas ruas junto com seu pai, Douglas, fazendo o que muitos canoenses fizeram em 2024: o resgate dos vizinhos e amigos que não tinham como fazê-lo.
“Naquele momento, os lugares seguros eram dois: a Praça da Igreja ou os trilhos do trem. As pessoas acampavam por lá”, relembra.
Com menos informações a respeito dos rios do que hoje em dia, Samuel diz que não era possível prever o que aconteceria em seguida. “Auxiliávamos e esperávamos. Eu conhecia o terreno, mas nunca tinha visto algo assim”, explica.
Em 2024, o professor Samuca, como muitos ex-alunos o chamam, esteve do outro lado da mesma situação. No mês passado, ele foi resgatado em sua casa por um grupo de jovens em um barco.
“Me senti da mesma forma quando eu resgatava, lá em 67. A juventude salva”, afirma.
Samuel acredita que, assim como no passado, os fatos recentes farão com que os rios não se comportem mais da mesma forma. “A gente precisa que o poder público se prepare de outras formas agora”, diz.
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Prefeitura de Canoas disponibiliza formulário para população se cadastrar no Auxílio Reconstrução do Governo Federal
Todos os canoenses que residem em regiões atingidas pela enchente já podem se cadastrar no formulário disponível pela Prefeitura, para terem acesso ao Auxílio Reconstrução do Governo Federal.
A iniciativa vai garantir R$ 5,1 mil diretamente à população, com pagamento realizado pela Caixa Econômica Federal, via PIX. O município cadastrou todos os CEPs das áreas afetadas. O programa não possui nenhum corte ou limitação de renda, nem a necessidade de inscrição no CadÚnico.
Os canoenses devem realizar o cadastro neste link.
Após o cadastro, a pessoa indicada como responsável deve acessar um sistema do Governo Federal, que será aberto na próxima segunda-feira (27/05), para confirmar o pedido. É necessário ter uma conta GovBr. Quem já possui conta na Caixa receberá o dinheiro diretamente nela. Para quem não tem, será aberta automaticamente uma poupança, onde será depositado o benefício.
No momento do cadastro, os canoenses devem preencher as seguintes informações:
– Nome completo e CPF do responsável da família;
– Nome completo e CPF de todos os outros membros da família;
– Endereço completo e CEP.
– Telefone de contato
*Após a inscrição, o morador deve assinar uma autodeclaração se responsabilizando pelas informações prestadas.
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DESASTRE NO RS: Total de mortos sobe para 83; 111 estão desaparecidos
Na manhã desta segunda-feira, 6, um boletim divulgado pela Defesa Civil apontou que o número de mortos em decorrências das chuvas e enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul subiu para 83. Ainda estão sendo investigadas outras 4 mortes, e há 111 desaparecidos e 276 pessoas feridas.
De acordo os dados da Defesa Civil, 141,3 mil pessoas estão fora de casa, sendo 19,3 mil em abrigos e 121,9 mil desalojadas (na casa de amigos ou familiares). Ao todo, 345dos 496 municípios do estado registraram algum tipo de problema, afetando 850 mil pessoas.
Risco de inundação extrema
O nível do Guaíba, em Porto Alegre, está quase 2,30 metros acima da cota de inundação. Em medição realizada às 5h15min desta segunda-feira, 6, o patamar estava em 5,26 metros. O limite para inundação é de 3 metros.
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