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27/07/2024
 

Cultura

SAPUCAÍ: enredos são marcados por Literatura, mitos e história

Redação

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SAPUCAÍ: enredos são marcados por Literatura, mitos e história

Por Daniela Uequed e Douglas Angeli

Boa parte dos desfiles do grupo especial do carnaval carioca que acontecem nos próximos dias de 11 e 12 de fevereiro, serão conduzidos por leituras da história, das mitologias e por adaptações de livros. Os enredos, concebidos pelos pesquisadores e carnavalescos, são ao tema dos sambas, das alegorias, fantasias e demais quesitos. Quatro escolas usarão este recurso: Portela, Grande Rio, Unidos da Tijuca e Paraíso do Tuiuti.

Já os mitos e lendas ligados a Portugal serão tema da Unidos da Tijuca, enquanto o Paraíso do Tuiuti exaltará a figura de João Cândido, líder da revolta da Chibata em 1910.

Portela

A Portela, dos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga, prepara uma adaptação da obra de Ana Maria Gonçalves, Um defeito de cor, enquanto a Grande Rio, dos carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad, baseia seu enredo no livro Meu destino é ser onça, de Alberto Mussa.

Na primeira, o olhar está na história da luta contra a escravidão no Brasil tendo como  condutor o protagonismo de Luzia Mahin e de Luís Gama, mãe e filho.

A luta contra a opressão estará presente na Portela. No livro Um defeito de cor, Ana Maria Gonçalves se inspira na figura de Luiza Mahin, ou Kehinde, narrando a saga de sofrimento, rebelião e a busca por reencontrar seu filho, que, liberto, se tornaria o advogado abolicionista de Luís Gama. Os carnavalescos da Portela imaginaram uma carta onde o filho responde a mãe, prometendo um desfile onde a tônica será o afeto e o questionamento, como no argumento da sinopse do enredo: “Narrar essa história é como narrar a busca pelo sentido da nossa existência enquanto sujeitos negros ativos neste Brasil. Por que somos? Por que assim fazemos? Por quem lutamos? Em memória do que?”.

No ensaio técnico do domingo, dia 28, a Portela encerrou sua apresentação com a presença de mulheres que se identificavam como “Mães da Maré” e “Mães de Manguinhos”, indicando que a parte final do desfile trará a história de Kehinde para o presente.

Grande Rio

O foco está na cosmovisão tupinambá. Com o mito tupinambá de criação e recriação do mundo, baseado no livro Meu destino é ser onça, de Alberto Mussa. Seu fio condutor é a onça e sua posição central nas narrativas míticas dos povos originários e sua presença no imaginário brasileiro. Os mitos também são o eixo central do enredo da Unidos da Tijuca, mas para falar de outro lado da história e do Atlântico: Portugal.

A sinopse de Um conto de fados, do carnavalesco Alexandre Louzada, apresenta o tom do enredo: “Navegar é preciso, nesse lendário lugar, onde, por mais que se procure diferir, tudo rima com mar, desbravar, invadir, glorificar. […] Dos ilês de África, contidos nas conchas do Ifá, lavar a alma, o espírito de aventureiro de sal e de sol, ao vento, percorrer no intento, contornos do Reino de Matamba até as praias de Zanzibar”.

Tijuca

Contudo, conseguirá a Tijuca executar seu desfile sem incorrer em narrativa acrítica acerca do mito de um povo predestinado a navegar e descobrir? Conseguirá demonstrar que não se trata de uma romantização dos mitos e ideologias que justificaram a dominação colonial de tantas terras e povos?

A cosmovisão tupinambá do enredo da Grande Rio nos lembra que os mares navegados pelos portugueses levaram à colonização da própria natureza, à modificação drástica dos modos de se relacionar com essa natureza e sua exploração – que se deu através da escravização de seres humanos. O que podemos antecipar é que as escolas de samba, mais uma vez, apresentarão um espetáculo que nos permitirá ler e reler o mundo, imaginar e reimaginar a vida, e pensar a vida e o mundo historicamente.

Paraíso do Tuiuti

É com viés de revisitar a história que o carnavalesco Jack Vasconcelos promete contar a vida e a luta de um herói geralmente esquecido: o gaúcho João Cândido, que comandou a revolta dos marinheiros em 1910. Passadas duas décadas da abolição da escravidão, em 1888, e da Proclamação da República, em 1889, a vida dos marinheiros negros não havia melhorado, restando baixos soldos, alimentação ruim e o castigo das chibatadas. Diante de tal cenário, estoura aquela que mais tarde, pelo livro do jornalista Edmar Morel, ficaria conhecida como a Revolta da Chibata.

Esse não é um passado que já não ressoa no presente: em 2023, mais de cem anos após a revolta liderada pelo almirante negro contra as chibatadas, o entregador Max Ângelo dos Santos foi agredido com uma coleira de cachorro por uma mulher branca na zona Sul do Rio de Janeiro. Heroicizando os oprimidos e relendo a nossa história, a Tuiuti convidou Max para representar João Cândido em seu desfile.

História

A aposta na literatura, nos mitos e na história não constitui novidade na trajetória das escolas de samba. A centenária Portela destacou-se nos anos 1960 e 1970 por apresentar obras da literatura em seus desfiles: Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, em 1966, e Macunaíma, de Mário de Andrade, em 1975, entre outros. As mitologias africanas e dos povos originários foram tema de diversos enredos da Beija-Flor de Nilópolis, como A criação do mundo na tradição nagô, em 1978, e O mundo místico dos caruanas em 1998.

Desde os carnavais realizados sob a ditadura do Estado Novo (1937-1945), a história do Brasil foi muitas vezes lida e relida nos desfiles. Dos heróis oficiais, como D. João VI e Duque de Caxias, passando por episódios tantas vezes repisados como a guerra contra os holandeses, a independência do Brasil e a guerra do Paraguai, o que mudou ao longo do tempo foi o enfoque da história dos vencedores para a história dos vencidos, dos oprimidos, dos grupos que lutam por emancipação.

Isso desde os históricos enredos do Salgueiro, que imprimiram protagonismo aos personagens e às lutas afro-brasileiras, como Navio Negreiro, em 1957, e Quilombo dos Palmares, em 1960, até o desfile questionador da Mangueira em 2019, quando a escola apresentou a “história que a história não conta, o avesso do mesmo lugar”.

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Cultura

Cia Municipal de Dança promove espetáculo solidário no Theatro São Pedro

Redação

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Cia Municipal de Dança promove espetáculo solidário no Theatro São Pedro

O espetáculo solidário Dança em Boa Cia acontecerá no dia 31, às 20h, no Theatro São Pedro, para arrecadação de fundos em benefício dos artistas, escolas e companhias atingidos pela enchente.

A apresentação reunirá a Cia Municipal de Dança de Porto Alegre e 20 convidados. Os ingressos podem ser adquiridos pelo site ou na bilheteria duas horas antes do espetáculo.

Os recursos arrecadados serão destinados ao fundo criado pela Associação Gaúcha de Dança (Asgadan). O evento tem a parceria da Asgadan e do Theatro São Pedro e é produzido pela Cia Municipal de Dança e pelo Centro de Dança da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa.

Artistas participantes:

  • Cia Municipal de Dança de Porto Alegre
  • Al Malgama
  • Alexandre Santos Estúdio de Dança
  • Ballet da UFRGS
  • Ballet Elizabeth Santos
  • Ballet Lenita Ruschel – Ballet
  • Ballet Vera Bublitz
  • Carol Dalmolin Estúdio de Dança
  • Companhia H
  • Duo TAP (Gabriella Castro e Leonardo Dias)
  • Flamenco RS (Andrea Franco, Silvia Canarim e Juliana Prestes)
  • Gira Centro de Dança
  • Grupo Andanças
  • Grupo Diversidade
  • Grupo Gross
  • Pertence Cultural – Projeto Fábrica de Sonhos
  • Restinga Crew
  • Tanguera Estúdio de Danza
  • Transforma Cia de Dança
  • Uthopia Cia de Dança

Ingressos

– Na bilheteria do teatro 2h antes do espetáculo
– Plateia: R$ 60
– Camarote Central: R$ 50
– Camarote lateral: R$ 40
– Galeria: R$ 30

Descontos

  • 50% para idosos com idade igual ou superior a 60 anos;
  • 50% para estudantes em até 40% da lotação do teatro:
    – até 15 anos mediante RG;
    – acima de 16 anos portando carteira da UGES, UEE, UNE;
  • 50% para jovens entre 16 e 29 anos, pertencentes a famílias de baixa renda, mediante comprovação de matrícula do Cadúnico
  • 50% para pessoas com deficiência, inclusive seu acompanhante quando necessário, e doadores de sangue.

Outros descontos

  • 50% para artistas com registro profissional e regulamentado na carteira de trabalho
  • 50% para até 50 associados da AATSP.

Site do Theatro São Pedro

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Cultura

Bolsa do Ministério da Cultura para o RS tem inscrições abertas até 5 de agosto

Redação

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O Ministério da Cultura disponibilizou R$ 4,5 milhões de reais para 150 bolsas culturais no Rio Grande do Sul após as enchentes de maio.

A Bolsa Funarte de Apoio às Ações Artísticas Continuadas 2024 tem inscrições abertas até o dia 5 de agosto. As bolsas podem ter valor bruto de até R$ 30 mil.

A iniciativa, que faz parte do Programa Retomada Cultural RS, é destinada a espaços, eventos, grupos e coletivos artísticos dos segmentos das artes visuais, circo, dança, música e teatro, com formalização jurídica e atuação de pelo menos três anos consecutivos nos 95 municípios em situação de calamidade pública no Estado.

A inscrição ocorre por um formulário presente no edital, que está disponível na Plataforma Prosas.

As bolsas são destinadas para uma ou mais atividades artísticas como pesquisa e criação de novas obras, desenvolvimento técnico e artístico, participação em eventos estratégicos, ações de intercâmbio e circulação, restauração de acervos artísticos, entre outras.

O edital também está disponível no site da plataforma.

Dúvidas devem ser enviadas para o mail retomadars@funarte.gov.br.

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Cultura

Festival Movimenta Cena Sul tem inscrições abertas, prevendo oportunidades para cerca de 300 trabalhadores

Redação

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Festival Movimenta Cena Sul tem inscrições abertas, prevendo oportunidades para cerca de 300 trabalhadores

Com o foco em apoiar trabalhadores da cultura afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul, o governo do Estado anunciou, entre uma série de medidas emergenciais para o segmento cultural, o Festival Movimenta Cena Sul.

A iniciativa ocorre de 19 a 27 de julho, com desdobramentos de ações descentralizadas que seguirão até dezembro. As inscrições estão abertas até 5 de julho para a primeira fase e 15 de julho para a segunda.

Sobre o festival

O festival é uma iniciativa que propõe ações para fomentar a cadeia produtiva das artes cênicas no Rio Grande do Sul. A programação contempla 15 apresentações no Theatro São Pedro e Multipalco, quatro oficinas virtuais e 30 intervenções artísticas em municípios do Estado.

O festival prevê atrair mais de 10 mil espectadores com uma programação integralmente gratuita e beneficiar cerca de 300 trabalhadores do setor.

Dividido em duas etapas, o festival selecionará, na primeira, 15 espetáculos de teatro, dança e circo que receberão de R$ 10 mil a R$ 15,3 mil por apresentação.

Além disso, o evento também contempla um eixo formativo com quatro oficinas virtuais abordando as temáticas de dramaturgia, produção, técnicas de palco e decolonialidade.

Seleção de profissionais

Para participar das oficinas, serão selecionados 160 profissionais das artes cênicas, sendo que 80 receberão uma bolsa de R$ 700 cada, e 80 poderão participar como ouvintes.

A segunda etapa ocorrerá entre 16 de agosto e 1º de dezembro, contemplando 30 propostas de intervenções artísticas que podem ser executadas em escolas, abrigos e espaços alternativos de diversos municípios do Rio Grande do Sul, com cachê de R$ 3 mil cada.

“O apoio ao festival corrobora o trabalho do governo do Estado para restabelecer a força da cultura gaúcha, com medidas que contribuem decisivamente para agilizar a necessária recuperação do setor cultural”, afirma a secretária da Cultura, Beatriz Araujo.

A seleção dos projetos será feita por uma curadoria de profissionais das artes cênicas e de instituições envolvidas, por meio de chamada pública. Os formulários de inscrições estarão disponíveis no site do Theatro São Pedro.

O Festival Movimenta Cena Sul tem realização da Associação Amigos do Theatro São Pedro (AATSP); apoio da Fundação Teatro São Pedro (FTSP) e do Instituto Estadual de Artes Cênicas (IEACEN), ambos vinculados à Secretaria da Cultura (Sedac); apoio cultural da Associação de Produtores de Teatro do Brasil (APTR) e da SP Escola de Teatro; e patrocínio do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul).

Chamada pública – Festival Movimenta Cena Sul:

Inscrições

Ação 1 – Espetáculos de artes cênicas

Ação 2 – Oficinas virtuais

Ação 3 – Intervenções artísticas

 

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