Opinião
Artigo: “O CAUSA” (por Carlos Marun – Ex-Ministro de Estado)
Por Carlos Marun – Ex-Ministro de Estado
Nem o terrorismo do Hamas e nem o terrorismo de Estado de Israel são causa do que está acontecendo agora. Ambos são consequência do fracasso das tentativas de pacificação empreendidas ao longo dos anos.
É verdade que se os Árabes tivessem concordado em 1948 com a partilha determinada pela ONU seria até possível que a situação hoje fosse outra. Mas não era fácil aceitar que o remorso do mundo frente o que aconteceu na Alemanha fizesse com que eles tivessem que deixar suas terras e casas para que elas fossem entregues a gente vinda de todas as partes do mundo. Fez-se necessário que Israel conquistasse na Guerra o direito de existir, e nestes combates, inclusive o terrorismo foi utilizado como forma de luta.
A história andou. Israel venceu as Guerras de 56 e 67. Porém, em 1973, um grande ataque promovido por Egito e Síria por pouco não derrotou Israel. Isto abalou o mito da sua invencibilidade e abriu caminho para a Paz. Alguns países árabes celebraram acordo com Israel e os Palestinos restaram como esquecidos.
E daí foram eles próprios à luta. Ali também sendo praticado o terrorismo, mas foi a Intifada a principal forma de resistência.
Chegou-se então a Oslo, onde um Presidente Americano, Bill Clinton, realmente ansioso por encerrar com aquela Guerra, patrocinou um acordo seguido de um histórico aperto de mãos entre Itzak Rabin e Yasser Arafat. Com base no reconhecimento mútuo do direito de existência de dois Estados livres e soberanos nunca se chegou tão perto da Paz.
É aí que entra em cena “O Causa” do que está acontecendo hoje. Yasser Arafat voltou a Palestina e, mesmo tendo reconhecido a existência de Israel e abandonado a luta armada, foi aclamado como um herói e eleito Presidente da Autoridade Nacional Palestina com mais de 90% dos votos.
Os movimentos radicais como o Hamas praticamente não existiram naquela eleição. Não tinham força. O Povo Palestino queria a Paz. Já Rabin voltou a Israel e a oposição aos Acordos passou a ser liderada por um jovem e ambicioso político. Homem que nunca havia lutado em uma Guerra, mas que não aceitava a Paz. Benjamim Nethaniahu é o seu nome.
Itzak Rabin não se dobrou. Antigo herói de guerra foi a luta, desta vez guerreando pela paz. Em 4 de novembro de 1995 liderou imensa manifestação de pacifistas, mas ao final da mesma foi assassinado com dois tiros pelas costas por um partidário de Nethaniahu, que ao final deste processo venceu Shimon Pérez na eleição que se sucedeu e chegou ao poder. O eleitorado israelense infelizmente provou que ainda queria a Guerra.
Dali para a frente muita coisa aconteceu, mas foi sempre Nethaniahu a figura maior da política israelense e foi ele quem sempre boicotou as chances de que uma convivência pacífica baseada na dignidade dos dois povos pudesse acontecer.
É ele “O Causa” maior de tudo que está acontecendo hoje. Agora admite isto e até se vangloria de ter sempre boicotado as chances de instalação de um Estado Palestino. São deles estas palavras: “A minha insistência foi que impediu durante anos o estabelecimento de um Estado Palestino que representaria um perigo existencial para Israel”.
Até relativizar a culpa de Hitler no Holocausto ele já tentou. Foi ele quem convenceu os israelenses de que Israel não precisava de paz, mas de segurança. O resultado é que impediu que a Paz avançasse e falhou enormemente na segurança, levando as FFAA de Israel a uma acachapante derrota no dia 07/10/2023 e ao massacre de muitos de seus compatriotas.
Para boicotar a Paz e enfraquecer a Autoridade Nacional Palestina, Bibi apoiou o fortalecimento do Hamas. Para se manter no Poder e longe da cadeia, se uniu a setores ainda mais radicais do que ele e o resultado é que tanto Israel quanto Gaza passaram a ser governados por fundamentalistas religiosos perigosíssimos.
Sou um simpatizante da Causa Palestina. Defendo o direito de Israel existir como resultado de suas conquistas militares, mas defendo também o direito de os Palestinos terem a sua Pátria. Então, ao mesmo tempo em que repudio o terrorismo do Hamas em 07/10, repudio veementemente a vingança genocida que Israel está empreendendo em Gaza, com bombardeios que já mataram milhares de civis e tiveram resultados militares pífios, já que até agora só conseguiram libertar dois reféns e que a Resistência Palestina faz com que diariamente, em função dos combates terrestres, cadáveres de soldados israelenses sejam retirados de Gaza e entregues para suas famílias.
A solução militar fracassou. Estes bombardeios só produzem hoje estatísticas com número de mortos palestinos que servem para que o “Causa” continue passando ao seu eleitorado a falsa impressão de que está ganhando a Guerra e continue no Poder.
Outro prejuízo imenso que “o Causa” causa (pleonasmo intencional) ao Povo Judeu é o aumento do antissemitismo no mundo, sentimento este resultante da revolta causada pelas imagens que diariamente percorrem os lares do Planeta mostrando em tempo real corpos de mulheres e crianças destroçadas por bombas e o martírio de um povo assolado pela doença e peja fome.
Chega de tudo isto! Só a Paz pode derrotar radicais. Sei que para que a Paz se estabeleça nem o Hamas e nem o Governo Nethaniahu devem permanecer existindo. Porem, para que as coisas comecem a acontecer, o eleitorado de Israel deve reparar o erro que cometeu em 1996, quando colocou no Poder este fanático inimigo da Paz.
A vingança em relação aos atentados de 07/10 já foi imensa. O primeiro sinal de que as coisas podem mudar deve vir do mais forte, que é Israel. E este sinal deve ser a demissão pelo eleitorado israelense do “Causa” de tudo isto. Rogo que os homens e mulheres de boa vontade que existem e muitos em Israel se transformem em maioria e tenham coragem para fazer isto.
Por fim, quanto a fala de Lula sobre o Holocausto, penso que ele foi duro, mas não disse inverdades. E foi determinado, desejando que sua fala chocasse Nethaniahu. É compreensível que boa parte da colônia judaica tenha se abalado com a referência àquela imensa tragédia. É, ainda, evidente a diferença de escala entre os massacres, mas existem semelhanças entre os dois acontecimentos. Além disto, o Genocídio praticado no Holocausto não deve ficar enclausurado.
A melhor maneira de se prestar homenagem às vítimas daquela tragédia é fazer com que ela seja sempre lembrada e sirva de exemplo nefasto, até para que barbáries como aquela não voltem a acontecer nem em maior nem em menor escala!
Opinião
“Quando o Jogo Se Torna Armadilha: A importância da Educação Financeira em Tempos de Apostas” (por Cristiane Souza)
O crescimento das plataformas de apostas, popularmente conhecidas como “bets“, tem gerado um impacto profundo e preocupante em diferentes segmentos da população brasileira, especialmente entre as famílias em situação de vulnerabilidade econômica.
O fácil acesso a essas plataformas, aliado à promessa de ganhos rápidos, atrai indivíduos que, diante de oportunidades limitadas e dificuldades financeiras, veem no jogo uma esperança de alívio imediato. No entanto, essa promessa frequentemente se transforma em uma armadilha perigosa, levando a perdas financeiras expressivas e aumentando ainda mais a instabilidade das famílias.
Um dos aspectos mais alarmantes desse fenômeno é o uso de recursos provenientes de programas assistenciais, como o Bolsa Família, para financiar apostas. Segundo dados do Banco Central, em agosto deste ano, cerca de 3 bilhões de reais destinados a apoiar famílias em extrema pobreza foram direcionados para plataformas de apostas. Embora o Bolsa Família seja apenas uma das fontes de renda afetadas, o impacto das apostas não se restringe a esses beneficiários, atingindo diversas famílias de baixa renda que, por falta de orientação financeira, acabam comprometendo seu sustento em busca de ganhos ilusórios, oferecidos por jogos online.
Nesse aspecto, a educação financeira surge como uma ferramenta essencial para evitar que famílias sejam atraídas pelas armadilhas do jogo. Porque muitas vezes, a falta de conhecimento sobre os riscos envolvidos nas apostas e a ausência de planejamento financeiro adequado levam as pessoas a decisões impulsivas, agravando sua situação econômica. A falta de controle sobre os gastos, a tentação de compensar perdas com novas apostas e a dificuldade em priorizar necessidades básicas criam um ciclo vicioso que coloca em risco não apenas as finanças, mas também o bem-estar emocional e social dessa população.
É crucial que a educação financeira seja acessível e adaptada às realidades dessas populações, ensinando-as a planejar, poupar e gastar de forma consciente. Mais do que nunca, em um cenário de crescente popularidade das apostas, as famílias, especialmente as em situação de vulnerabilidade precisam ser capacitadas para tomar decisões financeiras responsáveis, evitando que o sonho de um ganho rápido as leve a uma armadilha de dívidas e frustrações.
Além disso, a conscientização sobre os perigos das apostas deve ser acompanhada por políticas públicas que incentivem o uso responsável dos recursos e ofereçam alternativas viáveis para melhorar a qualidade de vida dessas famílias. O jogo, em si, não é a raiz do problema, mas sim a combinação de vulnerabilidade econômica, falta de informação e ausência de planejamento financeiro que expõe famílias aos riscos das apostas.
Em tempos de apostas, é urgente reforçar a importância da educação financeira para proteger as famílias e oferecer-lhes a oportunidade de construir um futuro mais seguro e estável. Somente com conhecimento e conscientização será possível romper com o ciclo de perdas e garantir que os recursos recebidos sejam utilizados para sua verdadeira finalidade: promover dignidade e segurança.
Cristiane Souza – Educadora financeira e estudante de Psicologia
Opinião
ARTIGO: “Palmas para um derrotado” (por Carlos Marun- Ex-Ministro de Estado)
No dia 24 de Julho de 2024 a Democracia Americana viveu mais um dia triste, coisa que tem infelizmente se tornado comum por lá. Quase a totalidade dos congressistas republicanos e boa parte dos democratas receberam sob aplausos Benjamin Nethaniahu, que pela 6a vez discursou no Capitólio, um símbolo da Democracia Universal, onde um fascínora como este Primeiro-Ministro sequer deveria ser autorizado a pisar.
Nethaniahu chegou ao poder depois do assassinato por um correligionário seu, com um tiro pelas costas, de Ytzak Rabin, um líder forjado na guerra e que teve coragem de buscar a paz. Convenceu o eleitorado israelense de que ele não precisava de paz, mas de segurança. Recebeu uma procuração deste eleitorado para acabar com o processo de Paz. E o fez, também com um tiro pelas costas. Continuou escravizando os palestinos e fortalecendo militarmente Israel, sempre com o apoio incondicional dos Estados Unidos da América.
Tudo parecia estar correndo bem. É verdade que Nethaniahu para continuar no poder e longe da cadeia teve que se unir ao que de mais radical e fanático existe na política israelense, mas os líderes da maioria dos Estados Árabes, contaminados pelo vírus da indignidade, já caminhavam para iniciar negócios com Israel, através de acordos de Paz que se constituíam em tratados comerciais e que esqueciam os Palestinos.
Até que chegou o 07 de outubro. Infelizmente, no lugar de limitar sua ação aos ataques a bases militares de Israel inicialmente praticados, o Hamas permitiu que se instalasse a barbárie de um imenso atentado terrorista. Isto, naturalmente aproximou de Israel e solidariedade do mundo. E o contra-ataque foi ao início imensamente apoiado. Biden foi até lá abraçar Bibi, encostou em Gaza um imenso porta-aviões e autorizou Nethaniahu a lá buscar o armamento que quisesse a fim de destruir o Hamas. O conflito acabaria em alguns dias pensaram muitos. Afinal em 1967 foram necessários somente 6 dias para que Israel derrotasse vários exércitos árabes de uma vez só.
Mas daí as coisas começaram a fugir do script. Nethaniahu não queria só aniquilar o Hamas. Queria aniquilar Gaza. O alvo preferencial passou a ser a infraestrutura do enclave. Seus prédios, escolas, hospitais, igrejas… suas crianças. Um Genocídio começou a ser executado e, desta vez, televisionado. O Mundo começou a se horrorizar com o que assistia. O apoio a barbárie praticado pelas Forças Armadas de Israel, sob o comando de Nethaniahu e de seu governo composto por assassinos fanáticos, começou a minguar. E a se transformar em um pesado fardo para os que mantinham esta posição.
E os combates? Ali o fiasco está sendo pior. Em mais de 9 meses de luta, já são 688 os militares israelenses reconhecidamente mortos e mais de 10 mil os feridos, tudo isto no enfrentamento a um grupo de milicianos famintos e mal armados. E não passaram de 7 os reféns vivos libertados. As FFAA de Israel só tem sido eficientes nos bombardeios aéreos, isto porque não existem armas antiaéreas em Gaza e porque o chão é impossível de errar. E no chão do “gueto” mais densamente povoado do mundo, as bombas não tem dificuldade para acertar as cabeças de civis, sejam eles homens, mulheres ou crianças, que se protegem sob lonas de barracas.
Este novo cenário militar tem animado outros grupos a participarem do conflito em apoio aos Palestinos, aí se destacando o Hezbolah, que há anos já acabou com a ocupação militar do Sul do Líbano, e os Houtis, que do distante Iêmen tem sido hoje a novidade e que já conseguiram atingir até Tel-Aviv.
Biden, acossado por movimentos internos de repúdio a um genocídio praticado com o uso de munição americana teve que passar a rever sua posição. Chegou a aprovar na ONU um razoável plano de cessar-fogo, mas tem recebido em troca a costumeiramente ingrata e arrogante resposta negativa de Bibi.
É este o Nethaniahu que viajou a Washington. Humilhado e isolado. Foi pedir mais munição, em um reconhecimento de que sozinho não pode vencer o Hamas. No lugar disto foi recebido com protestos e apelos por um cessar-fogo tanto de Biden como de de ambos os candidatos a eleição presidencial. Recebeu também aplausos de muitos congressistas é verdade e penso que Nethaniahu visitou o único lugar do mundo onde pode ser hoje aplaudido. Em Israel não pode sequer sair às ruas.
Porém, eis que, quando isto parece se constituir em mais um episódio do triste “fim de carreira” da Democracia Americana, surge o pronunciamento de Kamala Harris imediatamente após seu encontro com Bibi, e renova as nossas esperanças. Ela de forma altiva hipotecou apoio irrestrito a existência de Israel, mas repudiou a forma da vingança de Nethaniahu e reafirmou apoio a instalação do Estado da Palestina. Ou seja, a única coisa aproveitável desta desastrada visita é que aqueles viciados em otimismo como eu passamos a ter para quem torcer naquela eleição.
Carlos Marun- Ex-Ministro de Estado
Opinião
Neuropsicóloga fala sobre saúde mental nas escolas
Prof Dra.Gilca Lucena Kortmann
Psicóloga CRP-07/38742/ Neuropsicóloga
Todo aluno ao entrar na escola, traz consigo uma bagagem de valores, aptidões, angústias, um mundo interior configurado a partir de uma combinação de fatores que procedem de fontes biológica e ambiental na qual desponta como fator primacial a influência dos pais, colegas, professores. As aprendizagens de crianças e adolescentes são processos evolutivos que estão imbricados no relacionamento destes com a escola e com a figura do professor(a), e em tempos pós pandêmicos, seguidos de manifestações da natureza que colocou a todos em situação de cansaço mental ou estafa mental, estresse crônico com sobrecarga das funções do cérebro, causando desregulação no sistema nervoso, abrimos espaço para reflexão e compreensão dos sentimentos , manifestações em termos de saúde mental destes atores envolvidos no espaço escolar procurando identificar as respostas tóxicas frente a este estresse que viveram e vivem após inúmeras perdas: de casa , escolas, pertences de recordações..
Quando as crianças e adolescentes vivenciam uma dificuldade forte frequente e prolongada, sem apoio emocional de um adulto, entre elas estão a negligência, abuso físico e emocional, ou exposição à violência, ou elevada carga de perdas como esta que vivemos no RS no mês de maio, com as catástrofes climáticas, devemos tomar alguns cuidados com as soluções adotadas especialmente no caso das crianças e adolescentes , pois o estresse é uma resposta fisiológica a uma situação adversa, e quando produzido, desencadeia mudanças químicas em seus corpos que podem afetar os sistemas imunológico, endocrinológico e psiconeurológico.
Vivemos neste momento, uma enxurrada de informações, em uma velocidade e complexidade que interpela nossa vida pessoal, profissional, com inúmeras demandas, produzimos o tempo todo e, em nosso entorno problemas sociais, angústias, depressões, cansaço dos professores: tristezas, isolamentos, problemas com o sono (Revista Nova Escola/2021).
De que forma acolher nossos alunos? Crianças e adolescentes com comportamentos disruptivos por excesso de telas, e quando os pais retiram ficam sem controle de impulsos, sem controle das suas emoções, pais desgastados faltam com ajuste parental. Portanto, o trabalho de refletir sobre a saúde mental de crianças e adolescentes, fazer modificação na rotina diária, no estilo de vida é um desafio. Força de vontade, é um fator preponderante, não espere! Dê seu modelo.
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