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07/09/2024
 

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Opinião: So.correr – Rogério Ceratti

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So.correr

Rogério Ceratti*

Não lembro exatamente a data, acho que quando recém tinha feito minha carteira de motorista, tive meu primeiro carro, um fusca cor bege. Ele não era apenas meu, era praticamente um patrimônio da família, pois minha avó comprou do meu tio, depois passou para minha mãe, depois eu usava, depois foi para a minha tia e, após, meu primo. Hoje nem sei com qual parente está.

Naquela época, as preocupações e os problemas não causavam transtorno algum. Tudo era motivo de festa. Até estragar o carro se tornava interessante e é exatamente isso que me faz lembrar um episódio. Estava eu, vindo de algum lugar ou deixando alguém no trem (me esforcei, mas não recordo), e quando entrei no fusca novamente (estacionado na Coronel Vicente, próximo da estação de trem), começou a penúria de tentar ir para casa de carro. Tentei de tudo, mas nada fazia o coitadinho ligar. No mesmo momento comecei a falar com algum amigo pelo telefone, que me disse que iria lá me socorrer. Três apareceram.

Abriam capô, “batiam” ignição. Tentaram tudo que podiam, mas nada solucionava a situação. Até que um indagou: “vamos empurrar?”. Para constar, eu resido no bairro Nossa Senhora das Graças, do outro lado dos trilhos do trem. Eu disse: “não, é longe”. Afinal, eu já havia deixado o carro diversas vezes parado por alguma rua da cidade, depois voltava para buscar. Mas insistiram e eu cedi. Começamos nós quatro a empurrar o “cascudo”. Ele era leve, mas afinal se tratava de uma descida, então todo santo ajuda. Dobramos pela Rua Doutor Barcelos, paramos para comprar umas latas de cerveja, sempre empurrando, conversando, rindo. Quando estávamos passando pelo Condomínio Las Brisas, encontramos mais um amigo, que também aderiu ao esforço. Um deles até perdeu o chinelo no caminho ao atravessar correndo a rua. Até que chegamos ao “viaduto da metrovel” ou cautol, para os mais antigos. Aos novos nem da metrovel é mais. Bom, se já tínhamos ido até ali, o que seria subir um viaduto?

Começamos a correr, empurrar até o topo, quando lá em cima pensamos: “e agora? Como faremos?”. Ele não funcionava e o freio de mão não era bom o suficiente para andar com ele desligado. Um dos cinco pensou: “eu tenho a solução!”. Imagine qual seria. E lá foi ele “segurar o trânsito” para o fusca descer e passar pela Guilherme Schell, entrar na Inconfidência e dobrar na Rua Humaitá. Este “segurar o trânsito” seria apenas para que pudéssemos atravessar até o outro lado, apenas isto, nada mais. Como quem diz: “cara, é só parar o trânsito”. Quando começou o carro a correr na “banguela”, sem freio, apenas o de mão, descendo pelo viaduto, outro já estava posicionado abaixo da sinaleira, caso precisasse parar o trânsito. Mas o sinal “fechou”exatamente quando o fusca passou por baixo da sinaleira. Muita sorte. Naquele momento, quando havíamos chegado a Rua Humaitá, a distância até a minha casa era pouca, umas três quadras. Paramos de correr. Íamos caminhando, rindo do que tinha acontecido e de quem teve a ideia de fazer isso.

Chegamos em casa e o fusca ficou na garagem por alguns dias. Hoje, não está mais comigo. Mas, os amigos que empurraram o carro permanecem. Nada me faz esquecer aquele dia que meus amigos me ajudaram. Estenderam o braço. Fizeram esforço em conjunto. Eu não pedi para eles, eles que se ofereceram. Jamais pediria para que me ajudassem levar o carro a uma distância tão grande. Ainda mais para subir um viaduto. Quando nos deparamos com problemas difíceis e amigos estendem a mão, tudo fica mais fácil. A sociedade precisa mais disso, de solidariedade, de fraternidade. De pessoas pensando no outro. A satisfação de saber que temos a capacidade de ajudar o próximo é impagável, imensurável. Divido esse episódio para demonstrar a gratidão que tive, e sempre terei com esses amigos. Mais do que terem me ajudado a levar meu carro pra casa, esse fato me instiga a ter esperança que o ser humano tem solução, que a humanidade não está perdida e que só depende de nós acharmos ela. Sempre, dentro de si.

*Advogado e Escotista

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Prestes a completar 85 anos, Canoas olha para o passado para projetar o futuro

Redação

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Prestes a completar 85 anos, Canoas olha para o passado para projetar o futuro - Enchente 67
por Marcelo Grisa
marcelogrisa@gmail.com

A cidade de Canoas completa 85 anos de emancipação política no dia 27 de junho, enquanto ainda se recupera da maior tragédia de sua história.

As chuvas que atingiram o RS entre o final de abril e o começo de maio de 2024 entraram para a história em todo o Estado. Em Canoas, entretanto, mais de 60% da área urbana da cidade ficou debaixo d’água.

O Grupo O Timoneiro, no objetivo de discutir os rumos do município e para que a importância desse assunto não seja esquecida, foi atrás de histórias anteriores a que os canoenses vivem hoje.

Fala-se muito nas enchentes de 1941, que definiram políticas para as décadas seguintes em Porto Alegre e na Região Metropolitana. Entretanto, os mais antigos lembram-se também de 1967, quando muitos dos bairros que alagaram no mês passado.

Falamos com algumas dessas pessoas que já sabem, a 57 anos, o que é passar por uma enchente.

Primeiras memórias

Zenona Muzykant, de 85 anos, havia chegado a Canoas, vinda de Dom Feliciano, a menos de dois anos quando as águas atingiram a cidade.

Então moradora do Mathias Velho, ela se recorda de ficar confusa ao receber informações, já que pouco conhecia Canoas à época. “A gente ficava sabendo das coisas por quem passava na rua”, relata.

Na época, Zenoma Muzykant estava em Canoas a apenas dois anos

Na época, Zenoma Muzykant estava em Canoas a apenas dois anos

A água chegou até a metade das janelas da sua casa, na Rua Maceió. “O pessoal levantou tudo, não perdemos muita coisa. Mas muitos parentes meus perderam tudo que tinha em casa”, aponta Zenona.

A sensação que ela tem com a enchente de 2024 é bem diferente. “Parece que muito mais gente foi atingida dessa vez”, diz.

Entretanto, para a moradora do bairro Igara, o mais importante é a manutenção da vida. “O resto se batalha e consegue com garra, vontade e fé.”

Socorrista e resgatado

Samuel Eilert resgatava pessoas de barco na enchente de 1967

Samuel Eilert resgatava pessoas de barco na enchente de 1967

Samuel Eilert nasceu no bairro Rio Branco e, como ele mesmo diz, cresceu na beira do Rio Gravataí. Os diques estavam em construção, e a estrutura que foi afetada em 2024 não estava pronta em 1967.

Então com 23 anos, o professor aposentado saiu pelas ruas junto com seu pai, Douglas, fazendo o que muitos canoenses fizeram em 2024: o resgate dos vizinhos e amigos que não tinham como fazê-lo.

“Naquele momento, os lugares seguros eram dois: a Praça da Igreja ou os trilhos do trem. As pessoas acampavam por lá”, relembra.

Com menos informações a respeito dos rios do que hoje em dia, Samuel diz que não era possível prever o que aconteceria em seguida. “Auxiliávamos e esperávamos. Eu conhecia o terreno, mas nunca tinha visto algo assim”, explica.

Em 2024, o professor Samuca, como muitos ex-alunos o chamam, esteve do outro lado da mesma situação. No mês passado, ele foi resgatado em sua casa por um grupo de jovens em um barco.

“Me senti da mesma forma quando eu resgatava, lá em 67. A juventude salva”, afirma.

Samuel acredita que, assim como no passado, os fatos recentes farão com que os rios não se comportem mais da mesma forma. “A gente precisa que o poder público se prepare de outras formas agora”, diz.

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Prefeitura de Canoas disponibiliza formulário para população se cadastrar no Auxílio Reconstrução do Governo Federal

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Prefeitura disponibiliza formulário para população se cadastrar no Auxílio Reconstrução do Governo Federal

Todos os canoenses que residem em regiões atingidas pela enchente já podem se cadastrar no formulário disponível pela Prefeitura, para terem acesso ao Auxílio Reconstrução do Governo Federal.

A iniciativa vai garantir R$ 5,1 mil diretamente à população, com pagamento realizado pela Caixa Econômica Federal, via PIX. O município cadastrou todos os CEPs das áreas afetadas. O programa não possui nenhum corte ou limitação de renda, nem a necessidade de inscrição no CadÚnico.

Os canoenses devem realizar o cadastro neste link.

Após o cadastro, a pessoa indicada como responsável deve acessar um sistema do Governo Federal, que será aberto na próxima segunda-feira (27/05), para confirmar o pedido. É necessário ter uma conta GovBr. Quem já possui conta na Caixa receberá o dinheiro diretamente nela. Para quem não tem, será aberta automaticamente uma poupança, onde será depositado o benefício.

No momento do cadastro, os canoenses devem preencher as seguintes informações:

– Nome completo e CPF do responsável da família;
– Nome completo e CPF de todos os outros membros da família;
– Endereço completo e CEP.
– Telefone de contato

*Após a inscrição, o morador deve assinar uma autodeclaração se responsabilizando pelas informações prestadas.

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DESASTRE NO RS: Total de mortos sobe para 83; 111 estão desaparecidos

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DESASTRE NO RS: Total de mortos sobe para 83; 111 estão desaparecidos

Na manhã desta segunda-feira, 6, um boletim divulgado pela Defesa Civil apontou que o número de mortos em decorrências das chuvas e enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul subiu para 83. Ainda estão sendo investigadas outras 4 mortes, e há 111 desaparecidos e 276 pessoas feridas.

De acordo os dados da Defesa Civil, 141,3 mil pessoas estão fora de casa, sendo 19,3 mil em abrigos e 121,9 mil desalojadas (na casa de amigos ou familiares). Ao todo, 345dos 496 municípios do estado registraram algum tipo de problema, afetando 850  mil pessoas.

Risco de inundação extrema

O nível do Guaíba, em Porto Alegre, está quase 2,30 metros acima da cota de inundação. Em medição realizada às 5h15min desta segunda-feira, 6, o patamar estava em 5,26 metros. O limite para inundação é de 3 metros.

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