Enchente 2024 Canoas
Histórias do Recomeço: famílias em casas provisórias contam como é a vida depois da enchente

Marcelo Grisa
marcelogrisa@gmail.com
“Enquanto há vida e saúde, há esperança.” Indianara Santos da Silva era moradora do bairro Mato Grande até o dia 3 de maio. Desde 5 de julho, ela é uma das primeiras moradoras do Centro Humanitário de Acolhimento (CHA), que fica nas imediações da Refinaria Alberto Pasqualini, a Refap, próximo da divisa entre Canoas e Esteio. Ao local foi dado o nome de Recomeço.
Ela relata que tudo começou de forma comum, na quinta-feira, 2 de maio. “Acumulou água na rua, mas nada que a gente não estivesse acostumado. A água até baixou, e a princípio tudo bem”, explica.
Entretanto, na sexta-feira, 3 de maio, Indianara e seu marido acordaram já com a água no pátio. Na tarde desse mesmo dia, eles e seus cinco filhos precisaram ser resgatados.
Foram levados ao bairro Niterói, de onde precisaram ser retirados à noite, quando ocorreram avisos de evacuação do bairro por conta da ação das águas.
Indianara e sua família não conseguiram recuperar nada da casa que alugavam. “Mas do que adianta ter recuperado tudo se eu tivesse perdido um filho? O que importa é que estamos todos juntos aqui. O resto a gente recupera”, aponta Indianara.
O lugar
Os CHAs são geridos pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), órgão que integra o sistema da Organização das Nações Unidas (ONU). Em Canoas, dezenas de membros da organização trabalham com as 320 pessoas nas casas provisórias montadas pelas Forças Armadas. O local tem capacidade para até 630 habitantes.
As moradias têm 17,5 metros quadrados, e são feitas de aço leve, suportando ventos de até 100 quilômetros por hora. A estrutura contém porta com fechadura, quatro janelas e quatro saídas de ventilação. Há revestimento no piso, iluminação LED e painel de energia solar.
Entretanto, como o material é inflamável, não é possível ter tomadas. No pavilhão anexo, além de espaços comuns como refeitório, lavanderia e centro de distribuição de mantimentos, há uma série de locais para a recarga de celulares e outros equipamentos eletrônicos.
Anneli Nobre, coordenadora de projetos da OIM, é quem faz a gestão do espaço. Segundo ela, o acolhimento dos desabrigados pelas cheias é somente a primeira parte do trabalho da organização. “Temos feito articulação com os governos municipal e estadual para dar seguimento às demandas de saúde, educação e assistência social. Já temos esses serviços por aqui também”, relata.
Por fim, a agência da ONU deverá atuar para conseguir escola para todas as crianças abrigadas no Recomeço e fazer ações de empregabilidade para as famílias que estejam morando por lá. Muitos dos desabrigados também perderam seus empregos, ou os danos às empresas resultaram em demissões.

Equipes de cozinheiros e outros voluntários da OIM já atendem 320 pessoas no CHA Recomeço (Foto: Marcelo Grisa/OT)
Diferente do abrigo
É o caso de Lisiane Fagundes, que morava na vila Santo Operário, no bairro Harmonia. Ela atuava como babá. Seu marido trabalhava junto à Ceasa, que também foi invadida pelas enchentes. “Agora é esperar se a gente vai conseguir casa definitiva. Temos que ir atrás de tudo de novo: móveis, eletrodoméstico, emprego, tudo. Vamos ter que conquistar tudo de novo”, lamenta.
Segundo ela, foi bem difícil ver o resultado das águas. “É tudo bem material, mas perdemos tudo. Nem tem como morar mais onde a gente alugava”, lembra.
Lisiane estava no abrigo da Ulbra, que chegou a receber mais de 8 mil pessoas. Para ela, que também chegou em 5 de julho, o novo espaço é bom, mas é necessário se adaptar. “Para quem só ficava dentro de casa, cuidando das crianças, é muito barulho, é meio complicado”, ri.
Ela acredita que o espaço na Ulbra era muito bom, e considera que sempre foi muito bem tratada, mas o Recomeço é um avanço. “Tem um atendimento bom, cobertor quentinho, um espaço para a gente mesmo”, afirma.
Indianara, grávida de oito meses, ficou muito feliz com a mudança para o CHA. “Eu já estou em gravidez de risco. Poder ter essa casa provisória, em que eu posso ficar no meu canto, sem todo mundo em volta como no abrigo, é muito positivo”, argumenta.
Destaques
Estado inicia repasse de R$ 179,7 milhões para sistemas de proteção contra cheias de Canoas

Foi efetivado pelo governador Eduardo Leite na quinta-feira, 24, o início do repasse que terá um total de R$ 179,7 milhões para o município de Canoas, por meio do programa Fundo a Fundo da Reconstrução, que integra o Plano Rio Grande.
O investimento se dará em diversas frentes de ação, como o hidrojateamento de redes de água e esgoto, a modernização de oito casas de bombas do município e a recuperação dos diques de proteção da cidade, danificados durante o evento meteorológico de 2024. Do valor total destinado a Canoas, R$ 62,8 milhões já foram depositados como primeira parcela. O restante será encaminhado conforme as entregas e obras forem sendo realizadas pela prefeitura.
“Não estamos apenas assinando um convênio, mas efetivamente depositando os recursos. Hoje, o Estado já transferiu R$ 62,8 milhões à conta do Fundo de Reconstrução do município. É a primeira parte dos R$ 179,7 milhões aprovados. A liberação é feita por etapas, à medida em que os projetos são executados”, afirmou Leite.
A destinação do Funrigs prioriza a recuperação de sistemas de proteção existentes, como forma de garantir eficácia e execução dentro do prazo previsto até 2027.
“Temos muito cuidado com a aplicação dos recursos. Cada projeto é analisado tecnicamente e validado pelo Comitê Científico, para assegurar que estamos financiando soluções consistentes e que protejam a população”, completou.
Obras vão minimizar o impacto das chuvas
O hidrojateamento permitirá a limpeza e desobstrução das redes pluviais e de esgoto, reduzindo entupimentos e prevenindo problemas futuros nas tubulações, especialmente em períodos de chuvas intensas.
A modernização das casas de bombas também está entre os projetos aprovados pelo governo do Estado. Os recursos serão utilizados na melhoria dos equipamentos e na realização de manutenções necessárias para garantir o funcionamento adequado das estruturas. Os diques que fazem a contenção da água no município receberão obras de recuperação.
“Essas obras são complexas e envolvem várias frentes e regiões densamente povoadas da cidade. Com esse apoio do Estado, vamos acelerar o ritmo e avançar nas etapas que já estavam preparadas. Estávamos tocando com recursos próprios e da venda da Corsan, mas agora podemos acelerar com segurança. O mais importante é devolver a tranquilidade às pessoas”, destacou o prefeito de Canoas, Airton de Souza.
Diques
Entre os projetos contemplados, estão a recuperação do dique da Niterói, com R$ 500 mil para contratação de projetos, e a reestruturação dos diques do Rio Branco e Matias Velho, com valores de R$ 62 milhões e R$ 34,2 milhões, respectivamente. As casas de bombas, que tiveram seu funcionamento comprometido durante a enchente, receberão R$ 78,7 milhões em obras estruturais, eletromecânicas e de automação.
O secretário da Reconstrução Gaúcha, Pedro Capeluppi, reforçou que a liberação para Canoas é resultado de intenso trabalho técnico e colaboração entre as equipes estaduais e municipais. “Essa entrega só foi possível porque tivemos um esforço conjunto, com muito diálogo, ajustes de projeto e foco na solução. Canoas tem papel estratégico na proteção da Região Metropolitana, e o Estado está fazendo sua parte para garantir essa segurança”, pontuou.
Além de Porto Alegre e Canoas, que já tiveram repasses confirmados, cerca de 30 municípios manifestaram interesse e estão em diálogo com o Executivo Estadual para receber recursos do programa Fundo a Fundo da Reconstrução.
Também participaram da reunião o secretário em exercício da Fazenda, Itanielson Cruz, o vice-prefeito Rodrigo Busato e secretários municipais.
Enchente 2024 Canoas
Capacitação gratuita para reconstrução de EMEIs atingidas pela enchente em Canoas segue com inscrições abertas

Seguem abertas as inscrições para os cursos gratuitos de reparos em pintura predial e reparos em circuitos elétricos residenciais, com foco na reconstrução das escolas atingidas pela enchente, EMEIs Pingo de Gente, Recanto do Filhote e Vó Sara, em Canoas.
A qualificação é resultado da parceria entre a Prefeitura de Canoas, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação (SMDEI), a Secretaria de Educação (SME) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial do Rio Grande do Sul (SENAI-RS).
Entre os dias 21 e 28 de julho, serão ofertadas duas turmas, de reparos em pintura predial, das 8h às 12h e reparos em circuitos elétricos residenciais, das 13h às 17h. Ambas acontecem na própria EMEI Pingo de Gente e fazem parte de um esforço conjunto para acelerar a reconstrução das áreas atingidas pela enchente e qualificar a população para o mercado de trabalho da construção civil.
O Termo de Cooperação firmado com o SENAI-RS tem duração de 12 meses e prevê a formação de novas turmas conforme a demanda identificada no município. As aulas práticas dos cursos também contribuem diretamente para a recuperação de cinco escolas da rede municipal.
“A proposta é unir capacitação profissional com o compromisso de reconstruir nossa cidade, aproveitando os próprios espaços públicos como locais de aprendizado e transformação”, destaca Patrícia Augsten, secretária da SMDEI.
Os interessados devem comparecer à sede da SMDEI (Rua Doutor Barcelos, 969), de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, levando os documentos: RG, CPF e declaração de solicitação de matrícula gratuita (emitida no ato pela unidade operacional do SENAI). As inscrições permanecem abertas por tempo indeterminado, conforme a disponibilidade de vagas nas turmas.
Enchente 2024 Canoas
Saiba como ter seu imóvel que foi atingido pela enchente vistoriado em Canoas

Indispensáveis para a participação em programas de habitação relacionados aos financiamentos públicos para a reconstrução de Canoas, os laudos de inabitabilidade continuam sendo emitidos em Canoas. As vistorias são realizadas por técnicos da Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária e devem ser solicitadas nos canais da Central de Atendimento ao Cidadão (CAC).
De acordo com o secretário municipal de Habitação e Regularização Fundiária, Fabiano Siqueira, é muito importante que os canoenses encaminhem seus pedidos de vistoria pela Central de Atendimento ao Cidadão (CAC).
Os pedidos podem ser feitos pelo telefone 0800-5101234 ou presencialmente, das 8h às 18h, de segunda à sexta-feira, na Rua Ipiranga, nº 120 – Centro. Mais informações pelo e-mail: atendimento.cidadao@canoas.rs.
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