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Opinião: Uma tarde de domingo
Por José Carlos Rodriguez
Na tarde de domingo, estava fazendo Zapping, tentando apaziguar a minha ansiedade. Sempre acontece. Às vezes os domingos são chatos, só o que salva é a companhia da família ou dos amigos. Eis que encontro, em um canal, um documentário chamado “Uma noite de 67”. No palco estava a nata da MPB, Chico, Gil, Caetano, Edu Lobo, até o Roberto Carlos estava, sempre com o mesmo penteado (rsrs).
Era 21 de outubro de 1967. No Teatro Paramount, centro de São Paulo, acontecia a final do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. Entrou para a história dos festivais, da música popular e da cultura do Brasil, pois é naquele momento que o Tropicalismo explode, a MPB racha, Caetano e Gil se tornam ídolos instantâneos e se confrontam as diversas correntes musicais e políticas da época.
Disputavam o primeiro lugar Chico, com seu Roda Viva, Gil, com seu Domingo no Parque, e Edu Lobo e seu Pontiado. Edu ficou em primeiro, Gil em segundo e subiu ao palco com Os Mutantes, com o baixista Arnaldo Baptista e aquela roupa estranha, uma jovem Rita Lee mais ao fundo ajudando nos vocais e o cabelo estranho à Lá Beatles de Sergio Dias. Emocionante a execução de Roda Viva de Chico Buarque. Mas o desfrute de tudo estava nas entrevistas, feitas ali mesmo, antes de entrar no palco, com um teatro lotado, todo mundo girando por ali, um jovem Caetano, Gil, Chico, Sergio Ricardo, Roberto Carlos, dando entrevistas, conversando entre eles. Inexplicável o sentimento na hora em que eles cantam cada um sua música, quanta elegância, não só na vestimenta, mas também na postura. A platéia era um show aparte.
No mesmo domingo, a primeira notícia que vejo ao acessar um site de noticias era sobre um show de Jorge Benjor. Um cidadão pagou ingresso, sentou na primeira fila só para chamar Benjor de “Criolo sujo”. Em que cabeça cabe a mentalidade de alguém que paga para avacalhar o artista desse jeito? Como parte dos brasileiros é ingrato com seus artistas, xinga no show, xinga na rua. Eu tinha uma professora de teatro que sempre dizia. “Mesmo não gostando do espetáculo, aplauda. Por trás disso houve um trabalho bem intencionado para fazer alguma coisa melhor”. Eu tenho que entender que se você xinga o Pele na rua, você não entende nada de futebol, portanto insultar o Chico Buarque na rua, e para quem não entende nada de música, pagar ingresso para insultar além de burrice e doentio, e mais, perdeu a noção de identidade. Acredite, gente com Tom Jobim, João Gilberto, Hermeto Pascoal, Gonzaga, Elis Regina, Nana Caymmi, Marisa Monte, Alcione e até Teixeirinha e Gildo de Freitas, só por citar alguns, são expressões da enorme variedade cultural de um país que é um continente, que tem um forte apego aos seus regionalismos, mas tudo faz parte do mesmo. E muitos deles saíram pelo mundo levando essa variedade cultural que e admirada e aplaudida de pé.
Antes do carnaval, houve uma enxurrada de postagens nas redes sociais, criticando o carnaval, a maior, senão a única, expressão da cultura popular, e o reality show BBB, um programa que só existe por que tem candidatos que querem participar. Quando faltar candidatos, termina. Eu imaginava todo esse pessoal sentado na varanda de suas casas, saboreando um chá, lendo livros, ouvindo boa música. As redes sociais acordaram alguns monstros adormecidos em parte da população, o triste é que não vamos atrás do que realmente interessa que é a informação verdadeira e imparcial. Chegaremos a um ponto de odiar nossos artistas só por uma questão político-ideológica, esquecendo o quanto eles contribuíram para a formação cultural e da identidade deste país. Cazuza teve sorte quando ele deu aquela entrevista com a bandeira comunista pendurada na parede. As redes sociais não existiam. Se fosse nos dias atuais, imaginem só.
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“Nunca trabalhei na vida, eu faço o que me dá prazer”; morre Jesus Pfeil aos 85 anos
Morreu no domingo, 24, o cineasta, historiador e escritor, e figura ilustre de Canoas, Antonio Jesus Pfeil. O prefeito de Canoas, Jairo Jorge, decretou três dias de luto oficial. O velório acontece nesta segunda-feira, até 17 horas, no Crematório de Cemitério São Vicente, em Canoas.
Antonio Jesus Pfeil nasceu em 7 de outubro de 1939, na área de Canoas que posteriormente foi emancipada e se tornou Nova Santa Rita. Cineasta, historiador e pesquisador do cinema gaúcho, estudou no Colégio La Salle e passou pelo serviço militar. Em 1960, atuou como ator no Teatro Brasileiro de Comédias, que estava com uma peça em cartaz no Theatro São Pedro. Na ocasião, subiu ao palco ao lado de Nathália Timberg e Leonardo Villar.
Seu primeiro curta-metragem, Cinema Gaúcho dos Anos 20, participou da mostra do Festival de Cinema Brasileiro de Gramado e, em 1974, recebeu um prêmio especial no mesmo festival. Além da carreira como cineasta, Jesus também conquistou espaço como pesquisador, autor de artigos e, paralelamente, atua como participante de conferências e de comissões julgadoras em festivais e outros eventos ligados à História do Cinema Gaúcho e Brasileiro.
Resgate
Como escritor e historiador, Jesus tem profunda contribuição para o resgate histórico da cidade. Ele é autor da coleção Canoas: Anatomia de Uma Cidade, e organizador do livro Origens de Canoas, que conta com artigos de Edgar Braga da Fontoura, primeiro prefeito do município. Estas são apenas algumas dentre muitas obras de Jesus no cinema e na literatura.
No ano 2000, Jesus recebeu uma justa homenagem pela sua contribuição para a cultura na cidade. A biblioteca da Escola Municipal Ícaro foi inaugurada e, desde então, se chama Biblioteca Antonio Jesus Pfeil.
Prazeres
Ao ser indagado pelo O Timoneiro, em 2018, sobre como enxerga a importância de seu trabalho para o meio cultural e para Canoas, Jesus, sempre bem-humorado, brinca: “Trabalho? Que trabalho? Eu nunca trabalhei na vida, eu só tenho prazeres, só faço o que me dá prazer”.
“As pessoas me perguntam ‘Jesus, qual é a novidade hoje?’, e eu respondo: ‘Olha, de manhã eu abri os olhos e estava vivo, não morri dormindo. Vamos ver o que acontece hoje’. Eu sempre digo, e disse no filme Jesus – O Verdadeiro, é que meu futuro foi ontem e não tem como saber o que vai acontecer hoje. Sobre o que eu já vivi, eu posso falar. Meu primeiro Kikito em gramado eu ganhei em 1974 e foi o primeiro Kikito gaúcho do festival. Eu gosto de trabalhar com História porque filme de ficção todo mundo faz e faz igual hoje em dia, só muda o nome dos personagens e o título, é sempre o mesmo roteiro. Um filme que eu fiz e gosto de destacar é o Porto Alegre, Adeus…! É uma carta que eu escrevi ao Glauber Rocha. E o Glauber Rocha tinha aquela frase que dizia que tinha que ter uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Pensando bem, hoje em dia as pessoas, muitas vezes, têm a câmera na mão, mas não têm a ideia na cabeça, por isso fazem tanta coisa igual”.
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Prestes a completar 85 anos, Canoas olha para o passado para projetar o futuro
por Marcelo Grisa
marcelogrisa@gmail.com
A cidade de Canoas completa 85 anos de emancipação política no dia 27 de junho, enquanto ainda se recupera da maior tragédia de sua história.
As chuvas que atingiram o RS entre o final de abril e o começo de maio de 2024 entraram para a história em todo o Estado. Em Canoas, entretanto, mais de 60% da área urbana da cidade ficou debaixo d’água.
O Grupo O Timoneiro, no objetivo de discutir os rumos do município e para que a importância desse assunto não seja esquecida, foi atrás de histórias anteriores a que os canoenses vivem hoje.
Fala-se muito nas enchentes de 1941, que definiram políticas para as décadas seguintes em Porto Alegre e na Região Metropolitana. Entretanto, os mais antigos lembram-se também de 1967, quando muitos dos bairros que alagaram no mês passado.
Falamos com algumas dessas pessoas que já sabem, a 57 anos, o que é passar por uma enchente.
Primeiras memórias
Zenona Muzykant, de 85 anos, havia chegado a Canoas, vinda de Dom Feliciano, a menos de dois anos quando as águas atingiram a cidade.
Então moradora do Mathias Velho, ela se recorda de ficar confusa ao receber informações, já que pouco conhecia Canoas à época. “A gente ficava sabendo das coisas por quem passava na rua”, relata.
A água chegou até a metade das janelas da sua casa, na Rua Maceió. “O pessoal levantou tudo, não perdemos muita coisa. Mas muitos parentes meus perderam tudo que tinha em casa”, aponta Zenona.
A sensação que ela tem com a enchente de 2024 é bem diferente. “Parece que muito mais gente foi atingida dessa vez”, diz.
Entretanto, para a moradora do bairro Igara, o mais importante é a manutenção da vida. “O resto se batalha e consegue com garra, vontade e fé.”
Socorrista e resgatado
Samuel Eilert nasceu no bairro Rio Branco e, como ele mesmo diz, cresceu na beira do Rio Gravataí. Os diques estavam em construção, e a estrutura que foi afetada em 2024 não estava pronta em 1967.
Então com 23 anos, o professor aposentado saiu pelas ruas junto com seu pai, Douglas, fazendo o que muitos canoenses fizeram em 2024: o resgate dos vizinhos e amigos que não tinham como fazê-lo.
“Naquele momento, os lugares seguros eram dois: a Praça da Igreja ou os trilhos do trem. As pessoas acampavam por lá”, relembra.
Com menos informações a respeito dos rios do que hoje em dia, Samuel diz que não era possível prever o que aconteceria em seguida. “Auxiliávamos e esperávamos. Eu conhecia o terreno, mas nunca tinha visto algo assim”, explica.
Em 2024, o professor Samuca, como muitos ex-alunos o chamam, esteve do outro lado da mesma situação. No mês passado, ele foi resgatado em sua casa por um grupo de jovens em um barco.
“Me senti da mesma forma quando eu resgatava, lá em 67. A juventude salva”, afirma.
Samuel acredita que, assim como no passado, os fatos recentes farão com que os rios não se comportem mais da mesma forma. “A gente precisa que o poder público se prepare de outras formas agora”, diz.
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Prefeitura de Canoas disponibiliza formulário para população se cadastrar no Auxílio Reconstrução do Governo Federal
Todos os canoenses que residem em regiões atingidas pela enchente já podem se cadastrar no formulário disponível pela Prefeitura, para terem acesso ao Auxílio Reconstrução do Governo Federal.
A iniciativa vai garantir R$ 5,1 mil diretamente à população, com pagamento realizado pela Caixa Econômica Federal, via PIX. O município cadastrou todos os CEPs das áreas afetadas. O programa não possui nenhum corte ou limitação de renda, nem a necessidade de inscrição no CadÚnico.
Os canoenses devem realizar o cadastro neste link.
Após o cadastro, a pessoa indicada como responsável deve acessar um sistema do Governo Federal, que será aberto na próxima segunda-feira (27/05), para confirmar o pedido. É necessário ter uma conta GovBr. Quem já possui conta na Caixa receberá o dinheiro diretamente nela. Para quem não tem, será aberta automaticamente uma poupança, onde será depositado o benefício.
No momento do cadastro, os canoenses devem preencher as seguintes informações:
– Nome completo e CPF do responsável da família;
– Nome completo e CPF de todos os outros membros da família;
– Endereço completo e CEP.
– Telefone de contato
*Após a inscrição, o morador deve assinar uma autodeclaração se responsabilizando pelas informações prestadas.
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