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14/09/2025
 

Comunidade

Compartilhando Amor, Reciclando Vidas!

Projeto leva o mundo das artes a crianças em situação de vulnerabilidade social

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Cooarlas Guajuviras. Foto: Vanderlei Dutra/OT

Cooarlas Guajuviras. Foto: Vanderlei Dutra/OT

 

Por Vanderlei Dutra
@vanderleidutra

 

Há 12 anos, Francisco Enir Lopes iniciou um projeto que mudaria a sua vida e a de centenas de famílias. No Guajuviras, na cooperativa de resíduos COOARLAS, ele dedicava parte do seu tempo para dar aulas de música às crianças da comunidade. Momentos de estudo, disciplina, atenção e um contato com um mundo que, antes, era visto pela TV por estas crianças: o da arte.

De lá para cá, Francisco recebeu reforços importantes e ampliou o trabalho: hoje o Projeto Compartilhar recebe a chancela e o apoio, com seminaristas voluntários, da IELB (Igreja Evangélica Luterana do Brasil), CEL Paz de Canoas, Capelania da ULBRA, colégio Cristo Redentor e Seminário Concórdia, e atende quatro cooperativas de resíduos (COPCAMAT, COPERMAG, COOARLAS e Renascer) e três escolas de Ensino Fundamental municipais (Guajuviras, Paulo Freire e Nancy Pansera).
Nossa reportagem acompanhou, convidada pela diretora do Sindicato dos Profissionais em Educação Municipal de Canoas (Sinprocan) Cristine Strobelt, as aulas em três destes locais, e conta um pouco, a seguir, do que encontrou e a opinião de participantes.

Escola Guajuviras

Na tarde nublada, duas salas da EMEF Guajuviras estavam agitadas e iluminadas. Cerca de 40 estudantes, pais e professores estavam atentos às flautas e aos violões. Em rodas, os alunos prestavam atenção nos professores de música André Felipe Silva e Cássio Loose e aos sons dos instrumentos e, nem mesmo a presença de pessoas estranhas com máquinas fotográficas, atrapalhou o desenrolar da aula com cara de ensaio.
Não demorou para que se organizasse uma pequena mostra dos dotes da turma, que com facilidade tocou clássicos da música brasileira. A atenção aos detalhes e a cobrança que cada um se faz é de gente grande, contrastando com a pouca idade dos pequenos artistas.

É o terceiro ano do projeto na escola, que conta hoje com a ajuda de alunos do Seminário Concórdia e estagiários do curso de Teologia da Ulbra. Segundo a diretora Inara Maria Soares Raupp, o projeto auxilia principalmente no trabalho com crianças em situações de vulnerabilidade. “Normalmente, os participantes são crianças cujos pais trabalham o dia inteiro. É gritante a modificação no comportamento e na sociabilidade entre os alunos. Esse apoio (do projeto) foi muito importante. Alunos que preocupavam em sala de aula hoje não dão mais problemas. O projeto cresce, sinal que os alunos estão gostando”, disse.

“O CPM da escola é parceiro e atuante junto ao projeto. As mães colaboram, cerca de 10 pela manhã e cinco à tarde, além do Grêmio Estudantil e o Conselho Escolar”, relata Inara.

Segundo Fabiene Moreira, mãe de Maria (11) e Camiele (7), o projeto é um sucesso. “Estou adorando. Elas mudaram o comportamento. Uma é mais rebelde na escola e está bem melhor. Elas adoram. Por elas, teria todo dia”, diz. Maria, sua filha, conta o que mais gosta: “É legal. Gosto de tocar violão e a música que mais gosto é ‘O Senhor é meu Pastor’”, fala.

EMEF Guajuviras. Foto: Vanderlei Dutra/OT.

EMEF Guajuviras. Foto: Vanderlei Dutra/OT.

Paulo Freire

Uma escola com cerca de um ano e meio de funcionamento, que atende uma comunidade em situação de extrema vulnerabilidade social, com muitos casos de indisciplina. Este foi o quadro que Francisco encontrou quando começou o trabalho na EMEF Paulo Freire. Lembra que, em uma das primeiras vezes que foi com seminaristas ao local, saíram assustados, mas lembraram do objetivo do projeto e de suas vidas. “Falamos entre nós: se é aqui que precisam de nós, é aqui que precisamos estar”, relembra.

E assim foi. Com o início do projeto e a chegada da nova diretora Elizabete Fettuccia, as coisas foram melhorando. “Com esse jeito durão e, ao mesmo tempo, maternal, ela foi colocando ordem na criançada”, conta, entre risos, Francisco.
A diretora não esconde este seu jeito durão e interrompe algumas vezes a entrevista com algumas frases mais enérgicas para interromper uma brincadeira mais forte ou até mesmo um princípio de briga. “Já pra sala”, brada ela.

Ela também elogia o projeto: “Esse projeto é maravilhoso. A música ajuda muito na alfabetização. Temos muitos casos com desvio de idade-série, evasão e outras coisas, e a música tem ajudado muito até na postura da turma”, diz.

É o que relata também a professora da turma, Fernanda Spindler. “A minha turma não tinha disciplina, tinha dificuldade de aprendizagem, não sabiam ler, sentar, às vezes nem comer com talheres. Hoje, 80% são alfabetizadas”, conta orgulhosa. Ela ressalta ainda a importância dos alunos terem o contato com outras figuras masculinas para que possam ter outras referências a seguir. “É bom que sejam homens os professores, pois têm as mesmas linguagens dos alunos e, muitas vezes, eles os têm como ídolos. Aprendem que não precisam brigar para se destacar ou chamar a atenção”, salienta.
O sucesso do projeto na escola se resume na fala final da diretora: “Pena que não podemos ter mais turmas com o projeto, pois o nosso espaço não comporta”.

EMEF Paulo Freire. Foto: Vanderlei Dutra/OT.

EMEF Paulo Freire. Foto: Vanderlei Dutra/OT.

COOARLAS

Saindo da escola Paulo Freire, Francisco nos guia até a Cooperativa de Reciclagem de Lixo Amigas Solidárias (Cooarlas). Ainda do lado de fora, escutamos o som das flautas que colore a tranquilidade daquela zona simples, em uma tarde agradável. Ao entrar no galpão, uma cena impactante e bonita: dois jovens recebem aula de violão sentados junto ao lixo compactado e embalado para seguir o destino do reaproveitamento.

Ali, em meio ao lixo que vira sustento para dezenas de famílias, alunos e professor dedicam parte de seu tempo na troca de ensinamentos e experiências a partir da arte. Quem estaria aprendendo mais, os alunos ou o seminarista? Deixamos a aula seguir seu ritmo bonito, caminhamos pelo galpão que tem dezenas de mulheres e apenas um homem trabalhando na triagem dos resíduos que passam em uma grande esteira. Após, entramos em uma casinha, com sala e cozinha conjugadas.

O ambiente simples estava repleto de vida. Cerca de 15 crianças com suas flautas em volta de uma mesa estavam atentas ao professor Mateus, que ensinava leitura de partituras. Ponto importante do projeto. Em todas as aulas que acompanhamos, os alunos estavam seguindo partituras, lendo e interpretando as músicas. “Sempre trabalhamos a leitura de partitura, para poderem depois participar de orquestras”, relata o professor, lembrando casos de alunos que seguiram o caminho musical.

Francisco chama as crianças pelos nomes, pergunta se suas mães e pais estão bem. Ele nos aponta uma menina e conta que a mãe dela foi sua aluna, lá no início do projeto, ali mesmo naquela cooperativa, no início dos anos 2000. “A mãe dela participou do projeto, agora a filha mais velha que já está trazendo a irmã mais nova”, conta.

Cooarlas Guajuviras.  Foto: Vanderlei Dutra/OT.

Cooarlas Guajuviras. Foto: Vanderlei Dutra/OT.

Tio Francisco

De gestos mais contidos, quase tímido, Francisco Enir Lopes, responsável pelo projeto, acompanhou as visitas e nunca falou dele, sempre fez questão de valorizar o trabalho das diretoras, dos professores e dos seminaristas, buscou dar voz aos pais e os alunos. Os adultos o respeitam, os pequenos olham com admiração. Por vezes correm e abraçam suas pernas e deixam escapar um carinhoso “oi, tio!”.

Caminha pelas escolas e pelo galpão de reciclagem como se estivesse em casa. Fala com todos, conhece tudo, lembra histórias destes muitos anos de trabalho pelo próximo.
Nota-se, nas feições do rosto, a satisfação pessoal de ver mudada para melhor a vida de centenas de crianças. E quando não está nos apresentando alguém, nos ensina também: “Precisamos aprender a caminhar juntos, sem ficar questionando (a vida dos outros). Isto procuro passar para os alunos para que eles passem adiante”. Obrigado, Francisco! Aprendemos muito, também.

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Programa de benefício de R$ 2 mil a famílias afetadas pelas chuvas de junho retoma cadastramento

Redação

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Programa de benefício de R$ 2 mil a famílias afetadas pelas chuvas de junho retoma cadastramento

O cadastramento para o programa Volta por Cima já está aberto em Canoas. A medida é voltada a famílias atingidas pelas chuvas e enchentes ocorridas entre 14 e 20 de junho de 2025 e segue até o dia 5 de setembro, nos CRAS Harmonia, Mathias Velho e Rio Branco, conforme o endereço de residência.

O benefício, no valor de R$ 2 mil em parcela única, é destinado a famílias em situação de vulnerabilidade social que atendam aos requisitos estabelecidos pelo Decreto Estadual 58.235/2025. O objetivo é garantir apoio financeiro emergencial às pessoas que não foram identificadas automaticamente pelo mapeamento do governo estadual.

Podem solicitar o benefício as famílias que:

  • Tenham sido desabrigadas ou desalojadas em razão das chuvas intensas e enchentes de junho de 2025;
  • Não tenham sido identificadas automaticamente pelo mapeamento do governo estadual;
  • Residam em município com decreto de situação de emergência ou calamidade pública homologado pelo Estado;
  • Estejam inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) como pobres ou extremamente pobres, com atualização nos últimos 12 meses.

Segundo o secretário de Assistência Social, Márcio Freitas, o cadastramento representa uma oportunidade de reparação para as famílias que ainda não tinham sido contempladas,

“O programa busca assegurar que todas as pessoas em situação de maior vulnerabilidade, impactadas pelas chuvas de junho, recebam o benefício e possam enfrentar este momento com mais dignidade”, destacou.

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Governo do Estado paga mais de R$ 1,3 milhão do Programa Volta por Cima a famílias atingidas pelas chuvas de junho

Redação

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Programa de benefício de R$ 2 mil a famílias afetadas pelas chuvas de junho retoma cadastramento

O governo do Rio Grande do Sul realizou, nesta quarta-feira, 20, o pagamento de R$ 1,3 milhão em benefícios do Programa Volta por Cima para famílias afetadas pelas chuvas e enchentes registradas entre 14 e 20 de junho de 2025. Os valores foram creditados no Cartão Cidadão de 686 famílias de nove municípios, concluindo o sexto lote da iniciativa.

Com esse repasse, o programa já soma mais de R$ 5,3 milhões destinados a famílias em situação de vulnerabilidade. Cada núcleo familiar desalojado ou desabrigado recebeu R$ 2 mil, conforme critérios definidos em decreto estadual, que incluem comprovação de residência em áreas atingidas, cadastro atualizado no CadÚnico e reconhecimento da situação de emergência ou calamidade no município.

O benefício é gerido pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), com apoio da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), da Secretaria da Fazenda (Sefaz) e do Banrisul. Inicialmente, o governo havia destinado R$ 4 milhões ao programa, ampliados com um novo aporte de R$ 1,3 milhão.

As famílias contempladas foram identificadas por meio de mapeamento das áreas afetadas, realizado com imagens de satélite e cruzamento de dados oficiais, em parceria com prefeituras. Em casos excepcionais, municípios poderão cadastrar beneficiários não incluídos automaticamente.

O pagamento é feito pelo Cartão Cidadão. Quem já possui o documento pode acessar o recurso imediatamente. Para os novos beneficiários, o cartão estará disponível para retirada em agências do Banrisul a partir de 4 de setembro, com prazo até 30 de novembro. Valores não resgatados até essa data retornarão aos cofres públicos.

Todas as informações sobre os repasses estão disponíveis no Portal da Transparência do Estado. Denúncias podem ser encaminhadas pela Central do Cidadão.

Nesta etapa, foram contemplados moradores de Eldorado do Sul, Esteio, Mata, Nova Santa Rita, Restinga Sêca, Rio Pardo, São Vicente do Sul e Sapucaia do Sul e Triunfo.

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XVI Conferência Municipal da Assistência Social reúne comunidade e entidades em Canoas

Redação

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XVI Conferência Municipal da Assistência Social reúne comunidade e entidades em Canoas

Na quinta-feira, 14, a Associação Pestalozzi de Canoas foi palco da XVI Conferência Municipal da Assistência Social, que teve como tema “20 anos do SUAS: Construção, Proteção Social e Resistência”. O evento reuniu usuários, trabalhadores, entidades e gestores da política de assistência social, promovendo debates e a troca de experiências.

O objetivo, conforme a gestão municipal, foi fortalecer as ações de assistência social no município, com espaço para discussão sobre políticas públicas municipais, estaduais e nacionais. Para Edina Aparecida Alegro, presidente do Conselho Municipal de Assistência Social, “estamos aqui num momento muito importante de fala para tratar de políticas ligadas à assistência social em todas as esferas”.

Participante do encontro, Paola Estalamartes, integrante da Associação das Senhoras das Campanhas dos Bebês, destacou a relevância do apoio recebido: “Somos gratos pelo apoio da Prefeitura e de instituições parceiras. Nosso foco é trabalhar o fortalecimento do vínculo familiar”.

Representando a gestão municipal, o secretário de Assistência Social, Márcio Freitas, reforçou o compromisso com a área: “Estamos participando deste grande evento com o comprometimento de manter e ampliar as políticas públicas de assistência social, voltadas especialmente para a população que mais precisa”.

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