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27/06/2025
 

Comunidade

OT 50 anos – “A ética é a medida exata do uso da razão a serviço de uma causa justa e digna”

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Antônio Canabarro Tróis filho, co-fundador de O Timoneiro. Foto: Bruno Lara/OT.

Antônio Canabarro Tróis filho, co-fundador de O Timoneiro. Foto: Bruno Lara/OT.

 

Por Émerson Vasconcelos

 

Antônio Canabarro Tróis filho, o Tonito, é co-fundador do jornal O Timoneiro. Até hoje, cinco décadas após a criação deste veículo de comunicação, ele se mantém como um colaborador fixo e ativo. Seria impensável montar o projeto deste caderno especial sem incluir uma entrevista a respeito de sua carreira e da trajetória de OT.

O Timoneiro – Como foi o processo de criação do jornal O Timoneiro?
Tonito – Eu nem pensava em jornalismo na época. Eu tinha me envolvido com um jornal, chamado O Momento, no qual a equipe era composta por mim, pelo Valter Galvani e por outros amigos. Ele durou três anos, de 1955 a 1958. Depois disso, eu escrevia esporadicamente. Um dia eu estava em casa de noite e bateram na porta o professor Otomar Elvanger e o contabilista Cirilo Rodrigues Lacerda. Na época eles queriam abrir um jornal, procuraram o Lagranha, que era prefeito e falou pra eles: “isso é com o Tonito”. Acabou que eu aceitei e fundei com eles O Timoneiro. Entrou na equipe também o Mário Porto Inda, mas com o tempo eles foram saindo e fiquei só.

Como foi a escolha da linha editorial do jornal?
Fui eu que influi mais para estabelecer esta linha que é seguida até hoje. Uma linha de independência e com alguma agressividade, não contra o governo, mas a favor do povo.

Qual era o contexto da imprensa na cidade naquela época? Algum veículo seguia linha similar?
Era um oba-oba, puro laudatório. Naquele momento os jornais estavam todos vinculados a algum interesse ou a algum partido.

Como era Canoas no período em que OT foi lançado?
Era como é hoje, mas bem menor. Havia uma vida social intensa no Centro. Tinha o Clube Comercial, o Canoas Tênis Clube e o Gremio Niterói, que foi considerado o melhor clube do interior. Foi uma judiaria o que fizeram com aquele clube, deixaram quebrar, depois de tantos anos de história.

Foi na sua gestão que OT começou a fazer frequentes reportagens sobre problemas relativos à habitação. Por que motivo esta situação parece não ter melhorado com o passar dos anos?
Tem coisas irreversíveis. Antigamente os velhos coronéis facilitavam a vinda de gente do interior para morar nos banhados de Canoas. O poder público não tinha autoridade, e quando tinha não usava. Os caras chegavam aqui, faziam loteamento no banhado, vendiam os terrenos, ganhavam um monte de dinheiro e iam embora. A Prefeitura ficava com o pepino, de botar escola lá e levantar o nível da rua pra água não entrar. As enchentes que vieram em seguida completaram a tragédia. Canoas é um modelo de como não administrar uma cidade. A Estância Velha ainda está deserta em grande parte, enquanto um monte de gente mora no banhado.

Quais são as diferenças entre os políticos de hoje e os da época da fundação do jornal?
Diferença é em número, hoje tem mais deles, mas o perfil era o mesmo. Naquela época era mais difícil ser vigarista e lograr o povo. A pessoa era vista por todo mundo como o ladrão, o incompetente. Agora está pulverizado, está cheio de vigaristas aí. Gente que se aproveita e se elege sem servir o povo. Um vereador ganhar R$ 12 mil em Canoas é uma vergonha. Enquanto isso o professor ganha R$ 2 mil. E o retrato do Brasil, a ignorância bem remunerada e a sabedoria mal paga.

Por que as pessoas que vêm morar ou trabalhar em Canoas demoram para criar uma idenfificação com a cidade?
Naquele tempo, quando começamos o jornal, havia uma identidade, um espírito comunitário maior. Havia uma identidade dos bairros Niterói e Rio Branco, depois do Mathias Velho também. Hoje quem governa Canoas é gente daqui? O prefeito nasceu aqui e mora aqui, mas e os secretários e o diretor do fórum moram aqui? Eu acho que não moram por aqui. Naquela época, Lenine Nequette era diretor do Fórum e morava aqui. Havia um relacionamento mais direto com as pessoas. O prefeito andava a pé e tomava cafezinho na esquina. Hoje eu não sei, esse prefeito eu nunca vi na rua. A cidade fica sem feição humana, sem cheiro de gente, parece que dirigida por controle remoto. Canoas está atravessando um período muito triste.

Como você vê as lutas recentes de OT em prol do meio ambiente?
Eu não entro na Villa Mimosa desde que construíram um edifício de apartamentos no meio daquela mata virgem. Eu não boto os pés lá, me recuso. Aquilo foi um crime. Como que a Prefeitura permitiu e não fez nada contra? Eu era amigo da família Ludwig, muito frequentei aquela propriedade. Aquele espaço era para ser preservado, daria um ótimo parque. Se não tivesse outro lugar para fazer prédios eu entenderia, mas tinha. São modelos de degradação urbana. Nas esquinas da Pedro Weingartner com a Guilherme Schell e da Fioravante Milanez com a Victor Barreto existiam arvoredos maravilhosos e agora não tem mais nada, é uma pena isso.

Como você o atual posicionamento do jornal?
A imparcialidade não existe. E o jornal reflete o caráter de quem o faz. Eu vejo isso com satisfação, o jornal que eu ajudei a criar não se submeteu ao poder político e ao poder financeiro, isso é muito bom. Pena que os governos não saibam conviver com a imprensa livre.

Como era, em 1966, a relação dos políticos com o jornal?
Jogo político sempre foi assim. A estratégia é a mesma, convidam a gente pra eventos, almoços, jantares e tentam fazer um relacionamento amistoso e vão levando. Por outro lado as empresas amigas do governo ajudam quem está no poder negando comprar espaços publicitários de quem não se submete. O esquema é bem montado, mas pode nem ser intencional, é instintivo. Se o chefão da cidade não gosta do jornal, o pequeno empresário que depende do chefão não vai prestigiar o veículo.

E como lidar com aqueles que estão na oposição?
A gente deve procurar sempre um equilíbrio. Não se deve fazer uma campanha contra a Prefeitura ou contra quem quer que seja e nem devemos proteger lado nenhum.

E como foi sua passagem como vereador na Câmara?
Eu fui vereador e não concorri à reeleição na época, pois eu sou contra isso. Me elegi pelo Partido Democrata Cristão. Embora eu não seja católico praticante eu gostei do programa e em Canoas elegemos dois vereadores, para a legislatura 1964-1967, eu e a professora Lina, primeira mulher vereadora da cidade.

Como foi conciliar a função de vereador com o trabalho de jornalista?
Eu encarava muita discussão com os outros vereadores e até com o prefeito. Por causa de uma reportagem sobre problemas no colégio André Leão Puente o Lagranha brigou comigo. Daí um dia eu botei na capa do jornal um bilhete para ele, dizendo que ele cuidasse da Prefeitura, onde ele tinha autoridade, porque no jornal ele não tinha. Apesar disso, eu acho que o Lagranha era bem melhor do que o que temos hoje.
O colégio estava com a escada podre, quase caindo. A gente fazia matéria e ele, como prefeito, tomava as dores. E eu acho que ele estava certo em se preocupar com o assunto, mesmo sendo uma instituição estadual. Tudo que acontece na cidade o prefeito tem a ver. Ele é o prefeito da cidade e não de parte dela. Mesmo que não seja da competência dele, é dever cobrar dele cobrar de quem é responsável.

Na sua visão, por que não prosperam muitas empresas em Canoas?
Em parte, pela proximidade com a capital atrapalha. E também as lideranças empresariais e oficiais parece que não gostam de Canoas e tratam a cidade como terra de garimpo. As autoridades de Canoas festejam seu aniversário em Porto Alegre. Isso cria um desânimo na população.

O gosto pelo trabalho comunitário é algo que vem de família?
Meu pai foi vereador da segunda legislatura de Canoas também foi presidente duas vezes do clube Bolão Gaúcho. Ele nasceu em Santa Maria e minha mãe em Bagé. Nos mudamos de São Francisco de Assis, onde nasci, para Triunfo, em 1939. Chegamos aqui em Canoas no dia 8 de setembro de 1941 e desde essa época eu já via meu pai se interessando pelas pessoas da cidade.

Você veio para Canoas ainda criança, com seus pais, mas depois nunca mais foi embora. Qual foi o motivo que o levou a ficar nesta cidade?
Tive três oportunidades de sair, mas eu não gostava de coisa pronta, queria eu fazer a coisa. Valter Galvani me levou para trabalhar na Folha da Tarde, no grupo Caldas Júnior. Lá ele criou uma equipe que chamou de estagiários, e me integrou nela. Chegou num ponto que eu não podia descuidar do Timoneiro para ser empregado de uma grande empresa. Mas para mim foi uma experiência de crescimento pessoal e profissional impressionante.

Como você define a relação entre ética e jornalismo?
A ética é a medida exata do uso da razão a serviço de uma causa justa e digna, é não sair do trilho e não exagerar e nem ofender o semelhante. É manter uma justa medida para que todos possam divergir, mas sem o intuito de destruir o oponente.

Em que Canoas precisa mudar?
Precisa de um novo plano diretor, para recuperar o urbanismo da cidade, valorizar o Centro Histórico. A antiga Estação Ferroviária abrigou durante 25 anos a Fundação Cultural, que prestou serviços que o atual governo, por falta de competência, jamais seria capaz de prestar. Este prefeito fechou a fundação em 2009, o prédio ficou ocioso, apodrecendo. Agora fizeram uma reforma e tiraram a identidade do prédio. Toda restauração deve preservar as características originais do prédio e agora eles trocaram a cor dele. Esse tipo de imposição não é boa. A mesma coisa acontece na feira do livro, ela não é de Canoas, ela é em Canoas. Eles fazem um evento para mostrar para os canoenses o que os de fora fazem. A Prefeitura paga R$ 200 para um escritor canoense falar e R$ 150 mil para uma cantora se apresentar. Eles estão mais preocupados em aparecer na mídia nacional às nossas custas.

Como você espera ser lembrado daqui a 50 anos, no aniversário de 100 anos do jornal?
Como um aldeão, um cronista da aldeia, que só tem a pretensão de ser compreendido por uma ou duas pessoas. Eu gosto muito de gente. Eu tenho uma série de livros chamada Gente é Mais Importante, que vai ter agora o quarto volume. Quero ser lembrado por escrever sobre pessoas que muitas vezes foram importantes para a cidade e a prefeitura nem sabe que ela contribuiu, ou sabe e não faz nada para valorizar.

Tonito. Foto: Claiton Dornelles-BBC Fotografias

Tonito. Foto: Claiton Dornelles-BBC Fotografias

 

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Moradores que decidiram permanecer na Praia do Paquetá recebem auxílio da Defesa Civil

Redação

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Moradores que decidiram permanecer na Praia do Paquetá recebem auxílio da Defesa Civil

De acordo com a gestão municipal, desde a quinta-feira, 19, quando as águas começaram a subir na Praia do Paquetá, a comunidade local começou a receber suporte da Prefeitura de Canoas, com coordenação da Defesa Civil e contando com a ação integrada entre diversas secretarias.

Entre as ações voltadas a quem optou por permanecer no local, ocorreram entregas de cestas básicas e suporte com acolhimento a famílias atingidas, além de resgate de pets encontrados na região. Na localidade vivem 120 famílias, das quais 100 optaram por permanecer nas suas casas.

Para o secretário da Defesa Civil e Resiliência Climática, Vanderlei Marcos, a estratégia prioritária é antecipar o suporte humanitário, mitigando o impacto sobre a vida das pessoas. Além da entrega de ranchos completos, a Defesa Civil atuou no alerta sobre riscos e na oferta de transporte para quem necessitasse buscar segurança por decorrência da cheia.

Já o secretário da Assistência Social, Márcio Freitas, trabalhou na entrega de alimentos e comandou o serviço de abrigos públicos para desalojados. A secretária de Bem-estar Animal, Paula Lopes, liderou o resgate de bichinhos de estimação para castração e encaminhamento a tutores. As atividades prosseguirão ao longo do final de semana.

“A nossa comunidade vive da pesca e do turismo. Com o tempo adverso, não tem como pescar, nem tem pessoas para comprar nosso pescado. Esse alimento garante segurança para estes dias difíceis”, pontuou o presidente da Associação de Moradores e Pescadores da Praia de Paquetá, Paulo Denilto.

Moradora de Paquetá, Elisabete Saroba agradeceu o donativo que irá manter a família formada por sete pessoas, cujos adultos trabalham na pesca e na construção, pelas próximas semanas. A Defesa Civil mantém plantão na entrada do bairro para orientar e transportar pessoas para acolhimento. As demais áreas da cidade não apresentam mais zonas de alagamento.

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Abrigo em Canoas acolhe 129 pessoas atingidas pelas fortes chuvas da madrugada

Redação

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Abrigo em Canoas acolhe 129 pessoas atingidas pelas fortes chuvas da madrugada

Na tarde desta quarta-feira, 18, a cidade de Canoas segue monitorando os impactos das fortes chuvas registradas na noite anterior. De acordo com informações da Secretaria Municipal de Assistência Social, 129 pessoas seguem acolhidas no Ginásio São Luís, no bairro São Luís.

O abrigo emergencial foi estruturado para garantir acolhimento seguro e digno à população afetada. Além disso, 35 pessoas que estavam abrigadas já puderam retornar com segurança para suas residências no bairro Mathias Velho, uma das regiões mais atingidas.

A Prefeitura reforça que permanece mobilizada, por meio de suas equipes técnicas e voluntários, para oferecer suporte imediato às famílias em situação de vulnerabilidade durante este período de instabilidade climática. A estrutura no Ginásio São Luís conta com alimentação, espaço para higiene, roupas, colchões, atendimento ambulatorial e também acolhimento de animais de estimação.

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Comunidade

Canoas lança Campanha do Agasalho 2025 com o tema “O seu roupeiro não sente frio”

Redação

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Canoas lança Campanha do Agasalho 2025 com o tema “O seu roupeiro não sente frio

Com o tema “O seu roupeiro não sente frio – desapegue do que você não usa mais e aqueça quem precisa”, a Campanha do Agasalho 2025 de Canoas foi lançada oficialmente na manhã de sábado, 14, durante a 3ª edição do evento Prefeitura na Tua Casa, na Praça Dona Mocinha, no bairro Niterói.

A iniciativa busca mobilizar a comunidade para a doação de roupas e cobertores, com foco no acolhimento das pessoas em situação de vulnerabilidade social e em situação de rua. Diante da antecipação das ondas de frio, antes mesmo do início oficial do inverno, a campanha ganha ainda mais relevância neste momento.

Neste ano, a ação contará com telebusca de doações, facilitando a entrega dos itens pela população, além de uma parceria com uma lavanderia industrial de Cachoeirinha, que garantirá a higienização das peças arrecadadas.

Coordenada pela Secretaria Municipal da Defesa Civil e Resiliência Climática, a campanha envolve a parceria das secretarias de Assistência Social, Segurança Pública, Desenvolvimento Econômico e Inovação e Cidadania, Mulher e Inclusão, integrando esforços para ampliar o alcance das ações.

O secretário da Defesa Civil e Resiliência Climática, Vanderlei Marcos, ressaltou o papel fundamental da população na construção de uma cidade mais solidária:

“Essa campanha é um esforço coletivo que depende do engajamento de toda a sociedade. Cada doação representa uma barreira contra o frio para quem não tem proteção. Nosso trabalho é garantir que esses itens cheguem com dignidade a quem mais precisa, e para isso, contamos com o espírito solidário dos canoenses.”

Durante o lançamento, o prefeito em exercício Rodrigo Busato destacou a importância da união da sociedade em torno da causa.

“A Campanha do Agasalho é mais do que uma ação de inverno, é um gesto de cuidado com quem mais precisa. Cada peça doada representa acolhimento e respeito. Nosso compromisso de governo é garantir que nenhum canoense enfrente o frio sem o mínimo necessário para se proteger”, afirmou Rodrigo Busato.

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