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07/09/2024
 

Comunidade

OT 50 anos – “A ética é a medida exata do uso da razão a serviço de uma causa justa e digna”

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Antônio Canabarro Tróis filho, co-fundador de O Timoneiro. Foto: Bruno Lara/OT.

Antônio Canabarro Tróis filho, co-fundador de O Timoneiro. Foto: Bruno Lara/OT.

 

Por Émerson Vasconcelos

 

Antônio Canabarro Tróis filho, o Tonito, é co-fundador do jornal O Timoneiro. Até hoje, cinco décadas após a criação deste veículo de comunicação, ele se mantém como um colaborador fixo e ativo. Seria impensável montar o projeto deste caderno especial sem incluir uma entrevista a respeito de sua carreira e da trajetória de OT.

O Timoneiro – Como foi o processo de criação do jornal O Timoneiro?
Tonito – Eu nem pensava em jornalismo na época. Eu tinha me envolvido com um jornal, chamado O Momento, no qual a equipe era composta por mim, pelo Valter Galvani e por outros amigos. Ele durou três anos, de 1955 a 1958. Depois disso, eu escrevia esporadicamente. Um dia eu estava em casa de noite e bateram na porta o professor Otomar Elvanger e o contabilista Cirilo Rodrigues Lacerda. Na época eles queriam abrir um jornal, procuraram o Lagranha, que era prefeito e falou pra eles: “isso é com o Tonito”. Acabou que eu aceitei e fundei com eles O Timoneiro. Entrou na equipe também o Mário Porto Inda, mas com o tempo eles foram saindo e fiquei só.

Como foi a escolha da linha editorial do jornal?
Fui eu que influi mais para estabelecer esta linha que é seguida até hoje. Uma linha de independência e com alguma agressividade, não contra o governo, mas a favor do povo.

Qual era o contexto da imprensa na cidade naquela época? Algum veículo seguia linha similar?
Era um oba-oba, puro laudatório. Naquele momento os jornais estavam todos vinculados a algum interesse ou a algum partido.

Como era Canoas no período em que OT foi lançado?
Era como é hoje, mas bem menor. Havia uma vida social intensa no Centro. Tinha o Clube Comercial, o Canoas Tênis Clube e o Gremio Niterói, que foi considerado o melhor clube do interior. Foi uma judiaria o que fizeram com aquele clube, deixaram quebrar, depois de tantos anos de história.

Foi na sua gestão que OT começou a fazer frequentes reportagens sobre problemas relativos à habitação. Por que motivo esta situação parece não ter melhorado com o passar dos anos?
Tem coisas irreversíveis. Antigamente os velhos coronéis facilitavam a vinda de gente do interior para morar nos banhados de Canoas. O poder público não tinha autoridade, e quando tinha não usava. Os caras chegavam aqui, faziam loteamento no banhado, vendiam os terrenos, ganhavam um monte de dinheiro e iam embora. A Prefeitura ficava com o pepino, de botar escola lá e levantar o nível da rua pra água não entrar. As enchentes que vieram em seguida completaram a tragédia. Canoas é um modelo de como não administrar uma cidade. A Estância Velha ainda está deserta em grande parte, enquanto um monte de gente mora no banhado.

Quais são as diferenças entre os políticos de hoje e os da época da fundação do jornal?
Diferença é em número, hoje tem mais deles, mas o perfil era o mesmo. Naquela época era mais difícil ser vigarista e lograr o povo. A pessoa era vista por todo mundo como o ladrão, o incompetente. Agora está pulverizado, está cheio de vigaristas aí. Gente que se aproveita e se elege sem servir o povo. Um vereador ganhar R$ 12 mil em Canoas é uma vergonha. Enquanto isso o professor ganha R$ 2 mil. E o retrato do Brasil, a ignorância bem remunerada e a sabedoria mal paga.

Por que as pessoas que vêm morar ou trabalhar em Canoas demoram para criar uma idenfificação com a cidade?
Naquele tempo, quando começamos o jornal, havia uma identidade, um espírito comunitário maior. Havia uma identidade dos bairros Niterói e Rio Branco, depois do Mathias Velho também. Hoje quem governa Canoas é gente daqui? O prefeito nasceu aqui e mora aqui, mas e os secretários e o diretor do fórum moram aqui? Eu acho que não moram por aqui. Naquela época, Lenine Nequette era diretor do Fórum e morava aqui. Havia um relacionamento mais direto com as pessoas. O prefeito andava a pé e tomava cafezinho na esquina. Hoje eu não sei, esse prefeito eu nunca vi na rua. A cidade fica sem feição humana, sem cheiro de gente, parece que dirigida por controle remoto. Canoas está atravessando um período muito triste.

Como você vê as lutas recentes de OT em prol do meio ambiente?
Eu não entro na Villa Mimosa desde que construíram um edifício de apartamentos no meio daquela mata virgem. Eu não boto os pés lá, me recuso. Aquilo foi um crime. Como que a Prefeitura permitiu e não fez nada contra? Eu era amigo da família Ludwig, muito frequentei aquela propriedade. Aquele espaço era para ser preservado, daria um ótimo parque. Se não tivesse outro lugar para fazer prédios eu entenderia, mas tinha. São modelos de degradação urbana. Nas esquinas da Pedro Weingartner com a Guilherme Schell e da Fioravante Milanez com a Victor Barreto existiam arvoredos maravilhosos e agora não tem mais nada, é uma pena isso.

Como você o atual posicionamento do jornal?
A imparcialidade não existe. E o jornal reflete o caráter de quem o faz. Eu vejo isso com satisfação, o jornal que eu ajudei a criar não se submeteu ao poder político e ao poder financeiro, isso é muito bom. Pena que os governos não saibam conviver com a imprensa livre.

Como era, em 1966, a relação dos políticos com o jornal?
Jogo político sempre foi assim. A estratégia é a mesma, convidam a gente pra eventos, almoços, jantares e tentam fazer um relacionamento amistoso e vão levando. Por outro lado as empresas amigas do governo ajudam quem está no poder negando comprar espaços publicitários de quem não se submete. O esquema é bem montado, mas pode nem ser intencional, é instintivo. Se o chefão da cidade não gosta do jornal, o pequeno empresário que depende do chefão não vai prestigiar o veículo.

E como lidar com aqueles que estão na oposição?
A gente deve procurar sempre um equilíbrio. Não se deve fazer uma campanha contra a Prefeitura ou contra quem quer que seja e nem devemos proteger lado nenhum.

E como foi sua passagem como vereador na Câmara?
Eu fui vereador e não concorri à reeleição na época, pois eu sou contra isso. Me elegi pelo Partido Democrata Cristão. Embora eu não seja católico praticante eu gostei do programa e em Canoas elegemos dois vereadores, para a legislatura 1964-1967, eu e a professora Lina, primeira mulher vereadora da cidade.

Como foi conciliar a função de vereador com o trabalho de jornalista?
Eu encarava muita discussão com os outros vereadores e até com o prefeito. Por causa de uma reportagem sobre problemas no colégio André Leão Puente o Lagranha brigou comigo. Daí um dia eu botei na capa do jornal um bilhete para ele, dizendo que ele cuidasse da Prefeitura, onde ele tinha autoridade, porque no jornal ele não tinha. Apesar disso, eu acho que o Lagranha era bem melhor do que o que temos hoje.
O colégio estava com a escada podre, quase caindo. A gente fazia matéria e ele, como prefeito, tomava as dores. E eu acho que ele estava certo em se preocupar com o assunto, mesmo sendo uma instituição estadual. Tudo que acontece na cidade o prefeito tem a ver. Ele é o prefeito da cidade e não de parte dela. Mesmo que não seja da competência dele, é dever cobrar dele cobrar de quem é responsável.

Na sua visão, por que não prosperam muitas empresas em Canoas?
Em parte, pela proximidade com a capital atrapalha. E também as lideranças empresariais e oficiais parece que não gostam de Canoas e tratam a cidade como terra de garimpo. As autoridades de Canoas festejam seu aniversário em Porto Alegre. Isso cria um desânimo na população.

O gosto pelo trabalho comunitário é algo que vem de família?
Meu pai foi vereador da segunda legislatura de Canoas também foi presidente duas vezes do clube Bolão Gaúcho. Ele nasceu em Santa Maria e minha mãe em Bagé. Nos mudamos de São Francisco de Assis, onde nasci, para Triunfo, em 1939. Chegamos aqui em Canoas no dia 8 de setembro de 1941 e desde essa época eu já via meu pai se interessando pelas pessoas da cidade.

Você veio para Canoas ainda criança, com seus pais, mas depois nunca mais foi embora. Qual foi o motivo que o levou a ficar nesta cidade?
Tive três oportunidades de sair, mas eu não gostava de coisa pronta, queria eu fazer a coisa. Valter Galvani me levou para trabalhar na Folha da Tarde, no grupo Caldas Júnior. Lá ele criou uma equipe que chamou de estagiários, e me integrou nela. Chegou num ponto que eu não podia descuidar do Timoneiro para ser empregado de uma grande empresa. Mas para mim foi uma experiência de crescimento pessoal e profissional impressionante.

Como você define a relação entre ética e jornalismo?
A ética é a medida exata do uso da razão a serviço de uma causa justa e digna, é não sair do trilho e não exagerar e nem ofender o semelhante. É manter uma justa medida para que todos possam divergir, mas sem o intuito de destruir o oponente.

Em que Canoas precisa mudar?
Precisa de um novo plano diretor, para recuperar o urbanismo da cidade, valorizar o Centro Histórico. A antiga Estação Ferroviária abrigou durante 25 anos a Fundação Cultural, que prestou serviços que o atual governo, por falta de competência, jamais seria capaz de prestar. Este prefeito fechou a fundação em 2009, o prédio ficou ocioso, apodrecendo. Agora fizeram uma reforma e tiraram a identidade do prédio. Toda restauração deve preservar as características originais do prédio e agora eles trocaram a cor dele. Esse tipo de imposição não é boa. A mesma coisa acontece na feira do livro, ela não é de Canoas, ela é em Canoas. Eles fazem um evento para mostrar para os canoenses o que os de fora fazem. A Prefeitura paga R$ 200 para um escritor canoense falar e R$ 150 mil para uma cantora se apresentar. Eles estão mais preocupados em aparecer na mídia nacional às nossas custas.

Como você espera ser lembrado daqui a 50 anos, no aniversário de 100 anos do jornal?
Como um aldeão, um cronista da aldeia, que só tem a pretensão de ser compreendido por uma ou duas pessoas. Eu gosto muito de gente. Eu tenho uma série de livros chamada Gente é Mais Importante, que vai ter agora o quarto volume. Quero ser lembrado por escrever sobre pessoas que muitas vezes foram importantes para a cidade e a prefeitura nem sabe que ela contribuiu, ou sabe e não faz nada para valorizar.

Tonito. Foto: Claiton Dornelles-BBC Fotografias

Tonito. Foto: Claiton Dornelles-BBC Fotografias

 

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Mutirão de Documentação para imigrantes em Canoas na próxima semana

Redação

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Mutirão de Documentação para imigrantes em Canoas na próxima semana

 

A Prefeitura de Canoas, por meio da Coordenadoria de Igualdade Racial, Povos Originários e Imigrantes, realiza, na próxima segunda, 29, e na terça-feira, 30, o Mutirão de Documentação para Imigrantes Atingidos pela Enchente.

A atividade ocorrerá no prédio anexo da Prefeitura (Rua 15 de Janeiro, 15 – térreo), das 8h às 17h.

O que precisa levar

Para entrar com o pedido dos documentos é necessário fazer o boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia e levar o comprovante de residência atualizado.

Se a pessoa tiver o Registro Nacional Migratório (RNM) ou cédula do país, também pode apresentá-los. Além disso, imigrantes que estão há pouco tempo no Brasil, sem documentação ou com documento vencido também serão atendidos.

 

 

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Atenção, canoenses: serviços do CRAS são oferecidos em único local

Redação

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Atenção, canoenses serviços do CRAS são oferecidos em único local - Foto: Guilherme Pereira

Os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) Mathias Velho, Rio Branco e Harmonia atendem, de forma temporária, na Rua Siqueira Campos, 38, no Centro. Os atendimentos são feitos a partir de agendamento, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Às quartas-feiras, as atividades vão até as 16h. Após, o expediente é interno.

São realizados serviços como atualização e novos cadastramentos no Cadastro Único (CadÚnico) , emissão da Carteira do Idoso e do Passe Livre Intermunicipal para pessoas com deficiência, por exemplo, atendimento com assistentes sociais, encaminhamento para certidões (nascimento, casamento e óbito).

Para se inscrever ou atualizar o CadÚnico é necessário levar documento do responsável familiar com CPF, comprovante de residência, documento de cada integrante da família (RG, certidão de nascimento, CNH, carteira de trabalho ou certidão de casamento, etc), comprovante de renda (se tiver), atestado de frequência escolar das crianças e adolescentes e atestado de vinculação do Posto de Saúde (se tiver).

Nesse mesmo local, uma equipe faz o cadastro dos usuários que buscam o Auxílio Reconstrução do Governo Federal. São cem atendimentos por dia.

As inscrições vão até a próxima sexta-feira, 26. Os interessados também podem se inscrever pelo site da Prefeitura, acessando este link

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Cadastro de currículos no Banco de Oportunidades de Canoas em centros de distribuição

Redação

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Cadastro de currículos no Banco de Oportunidades de Canoas em centros de distribuição

A Prefeitura de Canoas está promovendo o cadastramento de currículos no Banco de Oportunidades em todos os centros de distribuição de doações ao longo desta semana, entre 9h e 14h. Nesta quarta-feira, 3, a EMEF Rio Grande do Sul, localizada no bairro Mato Grande, sediou a ação.

De acordo com a gestão municipal, mais de 1.300 empresas já se cadastraram na plataforma, que atualmente oferece 327 vagas de trabalho disponíveis neste site.

Os interessados podem realizar o cadastro pessoalmente nos seguintes locais e datas:

Quinta-feira, 4: EMEF Paulo VI – Avenida Irineu Carvalho Braga, 2781, Fátima

Sexta-feira, 5: EMEF Nelson Paim Terra – Rua Primavera, 1676, Rio Branco

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