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O discurso hegemônico e a liberdade
Respeitar o outro é muito mais difícil do que se pensa. Formamos nossos grupos de amizade com base em interesses em comum. HQs, filmes, gêneros musicais ou sexuais, jornal impresso ou digital, café forte ou fraco. Podemos discordar se o melhor é o Batman ou o Superman – o Batman com certeza, segundo eu. Se o melhor ator é o George Clooney vivendo Frank Stokes em Caçador de Obras-Primas ou o Hugh Jackman em Wolverine. Podemos discordar na melhor cor de camisa para a social do sábado, na barba serrada ou bem feita, mas estaremos sempre ligados a um interesse em comum. Que não venham os de fora dizer que preferem os filmes aos quadrinhos, os filmes dublados, que andam sem camisa e que não tem barba. Piores aqueles que não tomam café. Será uma relação de oi e tchau, apenas. Não de churrasco no final de semana, tema este também polêmico.
Se o mundo nos deu uma certeza é de que nunca haverá um discurso político-econômico hegemônico e sempre haverá aqueles que querem calar o contraditório. Quem discorda de um pensamento seu, lógico, está errado. Isto se dá em função de nossas experiências anteriores, nossas vivências, nossas lembranças. Crescemos ouvindo, vendo, vivendo algo e era tão bom. Agora vem alguém estranho dizer que é errado? Não pode! O errado é quem diz que é errado. Esquecemos, porém, que aquele que defende o outro lado viveu outra história, cresceu em outro lugar ou nem mesmo teve chance de ter uma infância e, por isso, ainda nem cresceu.
Pessoas são criadas de maneira diferente em todo o mundo e cada nova experiência é um novo filtro. Estes servem para carimbarmos, logo ali na frente, o que consideramos certo e o que consideramos errado, segundo nós mesmos, mas com influência de outros. Alguns não comem carne, outros fazem dietas baseadas nela. Argumentos embasam ambos os lados. Alguns acreditam que o Natal é uma data capitalista que serve para dar lucro aos comerciários, outros a consideram uma época mágica. Nenhum dos dois está errado, apenas com filtros diferentes. Aceitar os discursos diferentes faz parte da tão falada democracia, mas é tão difícil aceitá-los quanto é difícil comer brócolis com a mesma vontade que se come uma barra de chocolate. Apenas esta última afirmação já nos leva a um mar de novos pontos de vista favoráveis e contrários.
Alguns discursos geram o ódio, é verdade. São os principais agentes, por vezes, de vidas que são perdidas por aqueles que aceitaram o que estava dito como uma verdade absoluta e agiram, foram proativos, resolveram o problema pontual que se apresentou. Talvez a única certeza é que nunca haverá uma única certeza. Assim como todos discordam de todos em diversos pontos, alguns acharão que todos concordam. Alguns entenderam que existe sim uma verdade absoluta e que não é esta. Alguns tentarão, assim como a história nos mostra que já tentaram em passados obscuros anteriores, impor seu pensamento dito correto. E muitos vão aceitar. Então por mais certeza, por mais convicção que se tenha frente a um assunto, ponderar é o melhor caminho. Por mais certo, hegemônico, politicamente correto que algo possa parecer, pare e pense com seus próprios filtros. Poderá ser você que não aceita o pensamento diferente do outro e, com isso, por mais nobre que sejam as suas intenções, estará cerceando a liberdade do outro da mesma forma que este esta atentando contra a sua.
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Prestes a completar 85 anos, Canoas olha para o passado para projetar o futuro
por Marcelo Grisa
marcelogrisa@gmail.com
A cidade de Canoas completa 85 anos de emancipação política no dia 27 de junho, enquanto ainda se recupera da maior tragédia de sua história.
As chuvas que atingiram o RS entre o final de abril e o começo de maio de 2024 entraram para a história em todo o Estado. Em Canoas, entretanto, mais de 60% da área urbana da cidade ficou debaixo d’água.
O Grupo O Timoneiro, no objetivo de discutir os rumos do município e para que a importância desse assunto não seja esquecida, foi atrás de histórias anteriores a que os canoenses vivem hoje.
Fala-se muito nas enchentes de 1941, que definiram políticas para as décadas seguintes em Porto Alegre e na Região Metropolitana. Entretanto, os mais antigos lembram-se também de 1967, quando muitos dos bairros que alagaram no mês passado.
Falamos com algumas dessas pessoas que já sabem, a 57 anos, o que é passar por uma enchente.
Primeiras memórias
Zenona Muzykant, de 85 anos, havia chegado a Canoas, vinda de Dom Feliciano, a menos de dois anos quando as águas atingiram a cidade.
Então moradora do Mathias Velho, ela se recorda de ficar confusa ao receber informações, já que pouco conhecia Canoas à época. “A gente ficava sabendo das coisas por quem passava na rua”, relata.
A água chegou até a metade das janelas da sua casa, na Rua Maceió. “O pessoal levantou tudo, não perdemos muita coisa. Mas muitos parentes meus perderam tudo que tinha em casa”, aponta Zenona.
A sensação que ela tem com a enchente de 2024 é bem diferente. “Parece que muito mais gente foi atingida dessa vez”, diz.
Entretanto, para a moradora do bairro Igara, o mais importante é a manutenção da vida. “O resto se batalha e consegue com garra, vontade e fé.”
Socorrista e resgatado
Samuel Eilert nasceu no bairro Rio Branco e, como ele mesmo diz, cresceu na beira do Rio Gravataí. Os diques estavam em construção, e a estrutura que foi afetada em 2024 não estava pronta em 1967.
Então com 23 anos, o professor aposentado saiu pelas ruas junto com seu pai, Douglas, fazendo o que muitos canoenses fizeram em 2024: o resgate dos vizinhos e amigos que não tinham como fazê-lo.
“Naquele momento, os lugares seguros eram dois: a Praça da Igreja ou os trilhos do trem. As pessoas acampavam por lá”, relembra.
Com menos informações a respeito dos rios do que hoje em dia, Samuel diz que não era possível prever o que aconteceria em seguida. “Auxiliávamos e esperávamos. Eu conhecia o terreno, mas nunca tinha visto algo assim”, explica.
Em 2024, o professor Samuca, como muitos ex-alunos o chamam, esteve do outro lado da mesma situação. No mês passado, ele foi resgatado em sua casa por um grupo de jovens em um barco.
“Me senti da mesma forma quando eu resgatava, lá em 67. A juventude salva”, afirma.
Samuel acredita que, assim como no passado, os fatos recentes farão com que os rios não se comportem mais da mesma forma. “A gente precisa que o poder público se prepare de outras formas agora”, diz.
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Prefeitura de Canoas disponibiliza formulário para população se cadastrar no Auxílio Reconstrução do Governo Federal
Todos os canoenses que residem em regiões atingidas pela enchente já podem se cadastrar no formulário disponível pela Prefeitura, para terem acesso ao Auxílio Reconstrução do Governo Federal.
A iniciativa vai garantir R$ 5,1 mil diretamente à população, com pagamento realizado pela Caixa Econômica Federal, via PIX. O município cadastrou todos os CEPs das áreas afetadas. O programa não possui nenhum corte ou limitação de renda, nem a necessidade de inscrição no CadÚnico.
Os canoenses devem realizar o cadastro neste link.
Após o cadastro, a pessoa indicada como responsável deve acessar um sistema do Governo Federal, que será aberto na próxima segunda-feira (27/05), para confirmar o pedido. É necessário ter uma conta GovBr. Quem já possui conta na Caixa receberá o dinheiro diretamente nela. Para quem não tem, será aberta automaticamente uma poupança, onde será depositado o benefício.
No momento do cadastro, os canoenses devem preencher as seguintes informações:
– Nome completo e CPF do responsável da família;
– Nome completo e CPF de todos os outros membros da família;
– Endereço completo e CEP.
– Telefone de contato
*Após a inscrição, o morador deve assinar uma autodeclaração se responsabilizando pelas informações prestadas.
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DESASTRE NO RS: Total de mortos sobe para 83; 111 estão desaparecidos
Na manhã desta segunda-feira, 6, um boletim divulgado pela Defesa Civil apontou que o número de mortos em decorrências das chuvas e enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul subiu para 83. Ainda estão sendo investigadas outras 4 mortes, e há 111 desaparecidos e 276 pessoas feridas.
De acordo os dados da Defesa Civil, 141,3 mil pessoas estão fora de casa, sendo 19,3 mil em abrigos e 121,9 mil desalojadas (na casa de amigos ou familiares). Ao todo, 345dos 496 municípios do estado registraram algum tipo de problema, afetando 850 mil pessoas.
Risco de inundação extrema
O nível do Guaíba, em Porto Alegre, está quase 2,30 metros acima da cota de inundação. Em medição realizada às 5h15min desta segunda-feira, 6, o patamar estava em 5,26 metros. O limite para inundação é de 3 metros.
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