Coluna
PSICOLOGIA: ‘Esgotamento do trabalho’ (por Marianna Rodrigues)
Por Marianna Rodrigues*
Esgotamento do trabalho
É difícil encontrarmos alguém que não esteja esgotado do trabalho. A lista de razões é imensa: muitas horas de jornada, situações de assédio, medo de ser demitido, cobranças por rendimentos, relações conflituosas com colegas, etc.
A instabilidade das relações trabalhistas prejudica ainda mais esse sentimento, já que sem direito a férias, com salários defasados, contratos frágeis e uma série de outras inseguranças, você sequer pode dar-se ao direito de esgotar-se. Pelo contrário, você tenta adaptar-se, adequar-se, sustentar-se. Até que você simplesmente se esgota.
Você sabe identificar quais são os sinais de esgotamento? Noites mal dormidas, vontades sorrateiras de chorar, humor frequentemente irritado, pensamentos de desistência e auto deterioração (achar que não consegue e criticar-se de forma exagerada), são apenas alguns exemplos. Não conseguir levantar-se para ir trabalhar ou ter pânico de pensar no trabalho são alguns dos sinais limítrofes, mas antes deles há uma infinidade de formas de expressar o seu esgotamento.
A questão é que somos educados, geralmente, para ignorar ou desviar deste tipo de sentimento. Se o trabalho é uma necessidade, como eu vou permitir esgotar-me? E, na verdade, isso também é um grande desafio para psicoterapeutas: o que fazer com as situações de esgotamento do trabalho?
Apesar de existirem muitas controvérsias no tema, existem sim estratégias terapêuticas para aliviar o esgotamento. Algumas serão de âmbito muito particulares, como deixar de levar o trabalho para casa, incorporar atividades de lazer e descanso durante a rotina, estimular encontros em que você consiga rir e divertir-se; e outras, de âmbito coletivo/institucional, como organizar greves para conquistar direitos, denunciar situações de assédio ou propor mudanças no seu espaço de trabalho. As estratégias variam de acordo com os objetivos terapêuticos de cada um(a).
Fato é que ser trabalhador(a) e sentir-se esgotado é um sintoma generalizado da sociedade capitalista, já que o trabalho é, sobretudo, um meio de exploração. Uma vez que é muito desproporcional aquilo que você recebe (em termos de salário e de satisfação) frente à quantidade de tempo e de esforço despendida no seu cotidiano, como não querer “largar tudo de mão”?
Ao fim e ao cabo, esgotar-se e revoltar-se em razão do trabalho não podem ser lidos simplesmente como expressões de uma patologia a ser tratada individualmente, tampouco condições naturais e imutáveis do ser humano. Por que não podemos lê-los como estímulos para mudanças que vão além da rotina nossa de cada dia?
Coluna
ECONOMIA: ‘Caminhos para a Inclusão e o Empoderamento’ (por Cristiane Souza)
por Cristiane Souza
Educação Financeira: Caminhos para a Inclusão e o Empoderamento
O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é uma data para refletir sobre a luta histórica da população negra no Brasil e reforçar a importância de ações que promovam a igualdade de oportunidades. Em um país marcado por profundas desigualdades raciais, a educação financeira desempenha um papel essencial na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
A falta de educação financeira afeta desproporcionalmente a população negra, que enfrenta, em média, maiores taxas de desemprego, baixos salários e menos acesso a serviços bancários e financeiros. Essa realidade é reflexo de um histórico de exclusão que perpetua desigualdades. Segundo dados do IBGE, a população negra representa mais de 56% da população brasileira, mas concentra-se, em grande parte, nas classes de menor renda. Neste contexto, a educação financeira se torna uma ferramenta transformadora, pois capacita as pessoas a melhor administrar seus recursos, mesmo em cenários de renda limitada.
Promover a educação financeira entre as comunidades negras significa garantir mais acesso a informações sobre como gerenciar renda, controlar gastos, investir e evitar o endividamento. Esses conhecimentos básicos permitem que famílias construam um futuro financeiro mais estável e ampliem suas oportunidades. Para muitos, o primeiro contato com conceitos de planejamento financeiro ocorre de forma tardia, quando já enfrentam dificuldades financeiras significativas. Esse cenário pode ser revertido através de iniciativas que levem a educação financeira às escolas públicas e projetos sociais que incluam a juventude negra.
É importante reconhecer que as barreiras enfrentadas pela população negra vão além das dificuldades econômicas e incluem desafios estruturais como o racismo e a discriminação, que limitam seu acesso a melhores empregos, salários e oportunidades de ascensão social. Nesse sentido, empresas, instituições financeiras e governos também têm responsabilidade em promover uma educação financeira inclusiva. Iniciativas como workshops, cursos e palestras voltadas a populações historicamente marginalizadas ajudam a reduzir a exclusão financeira.
A educação financeira, ao ser democratizada, promove uma sociedade onde mais pessoas têm acesso às mesmas oportunidades de crescimento e estabilidade financeira. No Dia da Consciência Negra, é importante reconhecer que essa inclusão passa pelo combate às desigualdades econômicas e pela promoção de uma educação financeira que seja acessível e relevante para todos.
Assim, celebrar o Dia da Consciência Negra é também promover o empoderamento financeiro da população negra. Através do acesso a recursos e informações financeiras, é possível transformar vidas, fortalecer comunidades e reduzir as barreiras impostas pelas desigualdades raciais no Brasil.
*Educadora financeira, professora universitária, formada em contabilidade, mestre em economia, estudante de psicologia, conselheira do CRCRS e atua há vários anos como gestora na área contábil e financeira.
Coluna
PSICOLOGIA: Tenho esquizofrenia, e agora? (por Marianna Rodrigues)
por Marianna Rodrigues
Tenho esquizofrenia, e agora?
Receber o psicodiagnóstico de esquizofrenia pode ser muito assustador, principalmente devido ao preconceito que rodeia os temas de saúde mental de modo geral. Na coluna de hoje, vamos desfazer alguns mitos e propor algumas estratégias para conviver com esta situação.
A esquizofrenia se caracteriza como um conjunto de sintomas que envolvem alucinações, delírios e alterações atípicas de comportamento. Trata-se de uma situação crônica, isto é, que acompanhará a pessoa ao longo da sua vida. Geralmente, os sintomas mais conhecidos da esquizofrenia aparecem em um estado de crise que pode durar alguns dias.
Durante muito tempo, sob a justificativa de buscar uma cura para a esquizofrenia, muitas pessoas com este diagnóstico foram submetidas a tratamentos violentos que, hoje, já não são mais recomendados. Atualmente, com o devido tratamento, a pessoa com esquizofrenia pode desenvolver uma vida com felicidade, prazer, harmonia, apesar de ter de enfrentar momentos mais difíceis de crise onde necessitará de auxílios e cuidados.
A pessoa com esquizofrenia pode trabalhar, estudar e ter uma família? Sim, sem dúvidas. Ainda assim, é importante que as pessoas mais próximas da sua convivência possuam consciência do seu psicodiagnóstico para auxiliarem no tratamento e saberem o que fazer em um momento de crise.
A pessoa com esquizofrenia é mais suscetível a cometer crimes? Não, não existe uma correlação direta entre comportamento criminoso e este psicodiagnóstico. Infelizmente, encontramos na indústria cinematográfica uma grande tendência à produção de filmes associando psicose e comportamento violento, o que fortalece a psicofobia e o estigma da doença mental.
A pessoa com esquizofrenia está o tempo todo delirando e alucinando? Não e, inclusive, existem abordagens da psicologia que vão confrontar a fronteira entre loucura e realidade, ou seja, vão desenvolver ferramentas para convivermos com nossas loucuras.
De fato, principalmente durante uma crise aguda, a pessoa com esquizofrenia pode necessitar de acompanhamento especializado para evitar situações de risco, mas isso não é uma exclusividade deste psicodiagnóstico. De modo geral, as pessoas estão suscetíveis a momentos de descontrole, independentemente de suas estruturas psíquicas, não é?
No entanto, vivemos em uma sociedade que procura estabelecer modos de vida completamente controlados. Por essa razão, a esquizofrenia assusta.
Se você possui ou conhece alguém que recebeu este psicodiagnóstico, entenda que não é necessário afastar-se dos círculos de convivência ou deixar de fazer coisas importantes. Assim como qualquer outra questão de saúde mental, a esquizofrenia também pode ser acolhida.
*É psicóloga clínica (CRP 07/30799), Mestre e Doutoranda em Psicologia Social e Institucional (UFRGS) e pesquisadora
Coluna
PSICOLOGIA: Como identificar se estou em uma relação violenta? (por Marianna Rodrigues)
por Marianna Rodrigues
Como identificar se estou em uma relação violenta?
Grande parte das relações têm algum grau de violência, que geralmente aparece em um momento de uma discussão mais intensa ou em meio a conflitos. Há, contudo, um conjunto de comportamentos que tornam uma relação sistematicamente violenta, isto é, aquilo que sustenta a relação é a violência.
O aspecto mais difícil de assimilar, nesses casos, é o fato de que todas as pessoas envolvidas na relação têm algum papel para que se possa romper com o ciclo de violência. Em outras palavras, não há como esperar apenas do polo que comete a agressão, por exemplo, a iniciativa de mudar de comportamento, como se quem estivesse do outro lado fosse um ser totalmente passivo e sem poder. Por isso, a Psicologia tem deixado de falar em pessoas “vítimas de violência” para afirmar que se tratam de pessoas “em situação de violência”.
Quando a violência é física e deixa marcas no corpo, pode ser mais fácil para muitas pessoas identificarem que se trata de uma relação violenta. E se a violência não deixa marcas visíveis? Bem, existem algumas perguntas que podem ajudar a identificá-la:
– Quais são os momentos de prazer e felicidade da relação?
– Para disfrutar de momentos prazerosos, você precisa abrir mão de muitas coisas que são importantes para você?
– A pessoa com quem você se relaciona apoia suas conquistas e seus momentos de alegria quando vocês não estão juntos?
– Você se sente frequentemente em dívida, culpada ou responsável por tudo que acontece com o outro?
– Em uma discussão, ambos conseguem falar? Você se sente obrigada a não expressar o que está sentindo? Você ouve ofensas quando expressa uma crítica?
Infelizmente, nós naturalizamos inúmeros comportamentos violentos, como se não fosse possível ser diferente, como se aquela fosse a única forma possível de se relacionar. Isso não é verdade. É possível construir relações saudáveis.
Relacionar-se de maneira saudável e com base em uma ética não violenta é uma tentativa diária e pode ser difícil no começo. Talvez, precisemos ficar anos sem uma relação duradoura para aprender a impor limites e até encontrar quem nos respeite, admire e esteja disposto a construir um vínculo de companheirismo e cuidado.
Talvez, possamos viver independentemente de uma relação amorosa. Afinal, por que sustentamos determinadas relações que não nos fazem bem? Por que colocamos um status de relacionamento acima de nós mesmos?
*É psicóloga clínica (CRP 07/30799), Mestre e Doutoranda em Psicologia Social e Institucional (UFRGS) e pesquisadora
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