Opinião
Roberto F. Alvarez: “Sorrisos e Lágrimas”

Roberto F. Alvarez
Sorrisos e Lágrimas
O ano era 1978. Meus pais realizaram meu sonho de infância. Ganhei um Falcon, boneco de ação icônico para os meninos daquela época. Compramos na Mesbla. Na volta para Canoas, onde morávamos, deitados no banco de trás do Passat da Família, ouvindo uma trilha característica da época, estávamos eu e meus irmãos, todos sem cintos de segurança, quando meu pai fez uma parada. Esperamos no carro e logo ele volta com as amostras de design para a capa monocromática do seu primeiro e único livro. Era o desenho de um rosto. As opções: amarelo, azul e vermelho. Metade esboça um sorriso e a outra chora.
O título: “Sorrisos e Lágrimas”. Uma compilação de crônicas do cotidiano. Histórias simples de pessoas simples, vistas e narradas por uma delas. Com alguns floreios para garantir ao leitor maior dramaticidade. Ali comecei a entender outras facetas dele que não apenas o pai dedicado e amoroso, que adorava compartilhar momentos com seus filhos. E esse foi um dos projetos que ele se auto impôs desde cedo, ser o melhor possível. Missão cumprida.
Mas na minha petulância infantil, com a imaginação inflamada pelos títulos bombásticos dos gibis e da série do Batman na TV, achei o título escolhido por meu pai simplório, até um pouco bobo.
Mais tarde, naquele ano, estávamos com outros familiares na Câmara de Vereadores de Canoas. Era a Sessão de Autógrafos do livro. Prédio lotado. A cor escolhida para a capa foi amarelo, como a minha blusa com o logo da Copa do Mundo de Futebol na Argentina.
Ali o vi em todo o seu vigor. Eloquente, com seu discurso intenso e sua voz poderosa, atributos aperfeiçoados em suas atividades passadas de radialista e político. Uma figura magnética, com seu aperto de mão firme e olhar confiante. Um homem extrovertido e gregário que expressava seu amor pela família de sangue e o estendia ao sogro, cunhados, sobrinhos. Era também pouco vaidoso e orgulhoso de suas conquistas. Originário de uma família simples, assim como meu tio Oscar, os irmão Alvarez com força de vontade e talentos inatos, conquistaram a duras penas seu espaço.
Estava em uma fase de transição. Era o advogado extremamente dedicado aos seus clientes, idealista, que acreditava que a lei bem aplicada pode resultar em justiça efetiva. Disciplinado em seus estudos para concursos públicos, motivado e apoiado firme e amorosamente pela minha mãe Erika, passou em primeiro lugar em vários deles. A inteligência excepcional quase foi sabotada por sua grande humildade ao ponto de duvidar do seu merecimento em assumir cargos que até então eram reservados a uma elite intelectual e econômica.
Acertadamente escolheu pela carreira de Juiz Federal onde se tornaria mais tarde, Desembargador. Workaholic, quando ainda nem se fala nesse termo por aqui, trazia malas de processos sobre os quais se debruçava em sua máquina Olivetti verde, de segunda a segunda, madrugada afora produzindo sentenças. Porque trabalhar tanto? Perguntávamos. Atrás de cada processo há uma vida, era a resposta. Uma lição que levei para minha carreira profissional como médico.
Ali eu vi o senso de justiça, a dedicação ao Serviço Público, o valor do estudo e do conhecimento, com sua imensa biblioteca e arquivos de jurisprudências que ajudei a montar colando recortes do Diário Oficial em fichas, na época que inexistia tecnologia digital.
O que mais me impressiona e orgulha, e volta e meia me relembram pessoas da área do Direito que o conheceram, foi sua coragem inabalável ao tomar decisões inéditas que serviram a Justiça, contrariando interesses do governo militar, de multinacionais e de grandes latifundiários. Era um visionário, um progressista, um homem adiante de sua época. Por isso também, muito criticado.
Todo esse caldo de stress, poucos cuidados com a própria saúde e trabalhando por três pessoas lhe garantiram um infarto aos cinquenta anos, (minha idade hoje) durante uma sessão do TRF4 e, logo em seguida, o diagnóstico de Mal de Parkinson.
Não fosse esta virada inesperada do destino, bem ao gosto de seus contos agridoces, talvez estivesse o Osvaldo, destinado aos tribunais superiores do Brasil.
A aposentadoria precoce por invalidez nos deu a presença constante de nosso pai, mas, a ele foi negada a plenitude física para que aproveitasse este momento da vida.
A limitação física progressiva mudou sua rotina. O homem imponente foi emagrecendo, encurvando-se, tremendo, caminhando com extrema dificuldade, até ficar praticamente restrito ao leito. Redescobriu o amor pelo canto e pela música. A vida era então os almoços com a família, as visitas, o cuidado e a preocupação contínua com o bem-estar dos filhos. O imenso carinho com os netos. A vida seguia assim. Às vezes algumas histórias relembradas, uns dias de humor, outros de silêncio e o tempo, inexorável, passando velozmente.
O homem enérgico era agora um idoso bonito e simpático com potencial biológico, apesar da fragilidade, para viver mais alguns bons anos. Passamos com muito temor pelo primeiro ano de pandemia. Foram tomados todos os cuidados possíveis e imagináveis. Virei o chato da pandemia na família. Não queria perdê-lo para o vírus.
Ficamos esperançosos com sua vacinação. Primeira dose. Estávamos muito perto de um final feliz.
Após alguns dias, em fevereiro, veio a febre e o diagnóstico de covid. Foi logo no início da segunda onda e do colapso hospitalar em Porto Alegre. A vida aos poucos foi se esvaindo, como a chama de uma vela se apagando lentamente a cada dia, apesar dos enormes esforços da equipe médica que o assistia. E assim ele morreu.
Por um longo tempo imaginei como seria seu funeral. Ele esperaria que suas músicas fossem tocadas para uma grande assistência, pois, foi uma figura pública importante. Meus 28 anos de médico formado não foram suficientes para que eu aceitasse a perda. Não era mais um número, mais uma vítima da pandemia.
Senti mais raiva do que tristeza. Até que por intermédio de uma colega da minha esposa, Roberta Salinet, chegou até a mim um vídeo. O final de uma sessão do TRF4 na qual um desembargador que não conheço, de modo muito informal e generoso, resolveu por homenagear o Osvaldo recontando como o conheceu. Ele um jovem juiz, meu pai o corregedor mostrando aos aprovados no concurso como atender ao público no balcão da vara federal de segunda instância. E ali eu reconheci o homem que tanto amei e que me inspirou. Uma pessoa simples, que amava a vida, fazendo o máximo para melhorar o mundo, ensinando o valor da humildade, do humanismo e da empatia no dia a dia da atividade judiciária. E claro, na vida.
Ele se foi. Teve filhos, escreveu seu livro e plantou sua árvore simbólica, com fortes raízes, no exemplo de juiz, filho, esposo, avô, pai e ser humano comum. Um de nós. Uma das pessoas dessa cidade.
Na grande sombra do seu exemplo, nós, seus três filhos – Roberto, Cristiano e Rafael-, nos dedicamos ao serviço público. Por um tempo em nossas carreiras quisemos, como nosso pai, retribuir à cidade da nossa infância.
Então ele estava certo e eu errado. “Sorrisos e Lágrimas” traduz a experiência da vida em uma simplicidade elegante. Há o calor das lembranças, as alegrias, as conquistas, as perdas e a dor inevitável. Tudo muda. Tudo passa. Nada é permanente. Viva o presente. Seja simples. Mostre seu amor. Ouse sonhar com um futuro melhor. E trabalhe pra isso. Mas, principalmente, viva.
Opinião
Artigo: “PRÊMIO NOBEL DO CESSAR-FOGO?” (por Carlos Marun – ex-Ministro de Estado)

*por Carlos Marun
É evidente que Trump mudou muito depois do fiasco de sua conversação com Putin no Alasca. Estendeu tapete vermelho, trocaram abraços e afagos, falaram em paz e o russo assim que chegou em Moscou mandou bombardear Kiev. E com força até então nunca vista. Me parece que ali o Presidente Americano caiu na real: “Posso muito, mas não posso tudo” deve ter pensado. Certamente não foi fácil para ele se olhar no espelho e concluir que não é um Deus, mas é necessário admitir que as mudanças provocadas em seu comportamento foram para “muito menos pior”.
Vejamos: não mais falou em anexar Canadá, a Groenlândia ou o Canal do Panamá; não estendeu as sanções da Lei Magnitsky aos demais membros do nosso Supremo Tribunal Federal que condenaram Bolsonaro e seus liderados a décadas de prisão; tomou a iniciativa de abrir diálogo com o Governo Brasileiro a respeito das Tarifas; e agora obrigou um contrariado Nethaniahu a aceitar assinar um acordo de Cessar-Fogo com o Hamas. Continua aprontando as suas a nível interno, mas é “um outro Trump” visto de fora. E visto de longe pode até ser considerado um presidente normal.
Tem agora o desafio de fazer com que Nethaniahu cumpra um acordo de cessar-fogo que não deseja cumprir. Bibi precisa da guerra para se manter no poder e longe da cadeia. Chegou ao cúmulo de romper unilateralmente um acordo de cessar-fogo anterior ordenando bombardeios em Gaza minutos antes de depor para o Judiciário Israelense em um caso de corrupção. Foi dispensado do interrogatório porque a “guerra” tinha recomeçado. Vai fazer de tudo para que este cessar-fogo também não dê certo.
Ele é um inimigo declarado da Paz. Ao assumir o poder, em função do assassinato de Rabin, sepultou os Acordos de Oslo articulados por Bill Clinton, causando inclusive constrangimento. Não pense Trump que não pode tentar fazer isto também com ele.
Aí um Trump corajoso e decente, que exija o cumprimentos dos compromissos que ele avslisou, será mais do que necessário. É certo que está sendo heróica a resistência do Povo Palestino. É verdade que foram importantes as posições de países como o Brasil e África do Sul que desde o início repudiaram esta resposta genocida. Foi justa a ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional contra o Primeiro-Ministro israelense por crime de genocídio. Foram também importantes os reconhecimentos ao Estado Palestino promovidos por vários países há alguns dias, em especial França, Reino Unido e Austrália. Contribuiu muito o boicote promovido na ONU por dezenas de países que se retiraram do plenário e deixaram Nethaniahu na ridícula posição de falar para as paredes. Foi louvável a coragem dos participantes da “Flotilha Humanitária” que partiu para Gaza e terminou nas prisões de Israel, mas que levou milhões de europeus as ruas em protestos contra o genocídio. É meritória a ação de todos aqueles que no mundo pelas mais diversas formas expuseram a sua indignação frente ao que acontecia.
Porém nada é tão importante quanto este novo posicionamento americano. Por que? Porque os EUA são os garantidores deste acordo e tem verdadeiro poder sobre Israel. Se não o utilizou até agora foi porque não quis. Dou um exemplo: se não fossem os mísseis americanos “Patriots”, operados por militares americanos de dentro de Israel, teríamos assistido imagens de Tel-Aviv que pensaríamos até tratarem-se de fotos de Gaza quando os Alatoiás decidiram reagir com saraivadas de mísseis as provocações israelenses. Tudo é importante, mas no caso, só os EUA e Trump são imprescindíveis.
É sabido que, na sua megalomania, Trump deseja ser agraciado com um Premio Nobel da Paz. Porém, penso que ele só será digno disto se realmente conseguir efetivar a instalação de um Estado Palestino viável ao lado de Israel, e com o reconhecimento mútuo entre ambos. Ele tem poder para isto. Que o faça e receba então este reconhecimento que será justo.
Este é o caminho para a Paz e estaremos torcendo para que ele seja percorrido…
Por enquanto merece um louvável “Prêmio Nobel do Cessar-Fogo”, mas este prêmio não existe…
*Advogado, engenheiro e ex-Ministro de Estado
Opinião
Artigo: “CESSAR FOGO JÁ!!!” (por Carlos Marun – ex-Ministro de Estado)

CESSAR FOGO JÁ!!!
*por Carlos Marun
Desejo a aceitação pela Resistência Palestina do plano de trégua proposto por Trump. É óbvio que existem razões de sobra para a desconfiança em torno das intenções da besta-fera genocida chamada Nethaniahu. E confiar em garantias oferecidas pela metamorfose ambulante chamada Trump é coisa difícil. Mas é o que temos. E é urgente uma trégua que possa avançar para a paz antes que todos os habitantes de Gaza encontrem a morte provocada por bombas, fome, sede ou falta de remédios.
Os habitantes de Gaza já ofereceram ao mundo um inédito exemplo de resiliência, de coragem e de amor a sua terra. Mas agora merecem uma chance de sobreviver. E Nethaniahu já demonstrou que é suficiente mau para levar a efeito uma “Solução Final” para os Palestinos, coisa que Hitler tentou e felizmente foi impedido de concluir em relação aos Judeus.
Além dos Palestinos, os reféns ainda vivos também merecem sobreviver e os jovens soldados israelenses merecem parar de morrer. Já são 913 os militares israelenses mortos em enfrentamentos terrestres, tudo isto para a libertação de somente 7 reféns em combates.
A reação interna em Israel, onde os israelenses de bem que são muitos repudiam este massacre e exigem a volta dos reféns vivos, os últimos reconhecimentos ao Estado Palestino e o vexame imposto a Nethaniahu com a saída de diversas delegações do plenário da ONU no momento da sua fala pelo jeito abriram os olhos de Trump. E os interresses dos EUA na região são muitos e maiores do que simplesmente permanecer sustentando e apoiando o sanguinarismo de Bibi.
Pelo menos a perspectiva de retirada das tropas israelenses de Gaza e da instalação do Estado da Palestina estão presentes no documento proposto e este é o único caminho para a Paz.
Na sequência será hora de os homens e mulheres de bem que vivem na Terra buscarmos a punição de Nethaniahu. Os líderes do bárbaro atentado terrorista de 07/10/2023 já estão mortos. Falta agora a punição daqueles que desde aquele dia praticaram o Terrorismo de Estado matando e esfolando civis em uma Gaza onde não existe sequer uma única arma anti-aérea.
Julgamento e cadeia para Nethaniahu!!!
O Mundo precisa deste exemplo…
*Ex-ministro de Estado
Opinião
“Sapatão com orgulho: nossa existência não pede licença” (por: Isabela Luzardo – Miss diversidade de Canoas 2025)

por Isabela Luzardo*
Desde cedo, a sociedade tentou me enquadrar em um molde que nunca me serviu: brincar de boneca, não jogar futebol, usar vestido, maquiagem e roupas apertadas. Quebrei cada uma dessas imposições ainda na infância. E deixo a pergunta: por que seguimos insistindo que certas práticas, comportamentos ou desejos pertencem a um “gênero exclusivo”? A resposta é simples: não pertencem.
A construção da minha identidade passou por etapas de compreensão, dúvida e coragem. Entender a diferença entre ser lésbica ou bissexual, assumir a palavra “sapatão” com orgulho, e principalmente, mostrar que amar livremente é um direito inegociável. Não é apenas sobre minha vida — é sobre tantas outras mulheres que ainda enfrentam medo, violência e silêncio para existir.
Hoje, eu vivo meu amor com transparência. Sou noiva da Taciana, estamos de casamento marcado, temos casa, emprego, uma gata e, ao lado da minha companheira, formo uma família. Essa normalidade, para muitos banal, é para nós uma conquista política. Porque quando mulheres que amam mulheres afirmam sua existência, elas desafiam séculos de invisibilização.
Neste Dia do Orgulho Lésbico, lembrar do Levante do Ferro’s Bar é lembrar que nossa liberdade foi arrancada com luta. Em plena ditadura, mulheres lésbicas se recusaram a aceitar a exclusão e o apagamento. Elas nos abriram caminho. Se hoje podemos falar em orgulho, é porque ontem houve resistência.
Ser sapatão é muito mais do que uma identidade. É enfrentar o machismo e a lesbofobia. É se recusar a ser apagada. É afirmar que amar mulheres não é desvio, mas potência.
Por isso, neste 19 de agosto, afirmo com toda força: orgulhem-se, mulheres que amam mulheres. Nossa existência é política, nosso amor é resistência.
*Miss diversidade de Canoas 2025
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