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03/07/2025
 

Opinião

Roberto F. Alvarez: “Sorrisos e Lágrimas”

Redação

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Roberto F. Alvarez

Sorrisos e Lágrimas

O ano era 1978. Meus pais realizaram meu sonho de infância. Ganhei um Falcon, boneco de ação icônico para os meninos daquela época. Compramos na Mesbla. Na volta para Canoas, onde morávamos, deitados no banco de trás do Passat da Família, ouvindo uma trilha característica da época, estávamos eu e meus irmãos, todos sem cintos de segurança, quando meu pai fez uma parada. Esperamos no carro e logo ele volta com as amostras de design para a capa monocromática do seu primeiro e único livro. Era o desenho de um rosto. As opções: amarelo, azul e vermelho. Metade esboça um sorriso e a outra chora.

O título: “Sorrisos e Lágrimas”. Uma compilação de crônicas do cotidiano. Histórias simples de pessoas simples, vistas e narradas por uma delas. Com alguns floreios para garantir ao leitor maior dramaticidade. Ali comecei a entender outras facetas dele que não apenas o pai dedicado e amoroso, que adorava compartilhar momentos com seus filhos. E esse foi um dos projetos que ele se auto impôs desde cedo, ser o melhor possível. Missão cumprida.

Mas na minha petulância infantil, com a imaginação inflamada pelos títulos bombásticos dos gibis e da série do Batman na TV, achei o título escolhido por meu pai simplório, até um pouco bobo.

Mais tarde, naquele ano, estávamos com outros familiares na Câmara de Vereadores de Canoas. Era a Sessão de Autógrafos do livro. Prédio lotado. A cor escolhida para a capa foi amarelo, como a minha blusa com o logo da Copa do Mundo de Futebol na Argentina.

Ali o vi em todo o seu vigor. Eloquente, com seu discurso intenso e sua voz poderosa,  atributos aperfeiçoados em suas atividades passadas de radialista e político. Uma figura magnética, com seu aperto de mão firme e olhar confiante. Um homem extrovertido e gregário que expressava seu amor pela família de sangue e o estendia ao sogro, cunhados, sobrinhos. Era também pouco vaidoso e orgulhoso de suas conquistas. Originário de uma família simples, assim como meu tio Oscar, os irmão Alvarez com força de vontade e talentos inatos, conquistaram a duras penas seu espaço.

Estava em uma fase de transição. Era o advogado extremamente dedicado aos seus clientes, idealista, que acreditava que a lei bem aplicada pode resultar em justiça efetiva. Disciplinado em seus estudos para concursos públicos, motivado e apoiado firme e amorosamente pela minha mãe Erika, passou em primeiro lugar em vários deles. A inteligência excepcional quase foi sabotada por sua grande humildade ao ponto de duvidar do seu merecimento em assumir cargos que até então eram reservados a uma elite intelectual e econômica.

Acertadamente escolheu pela carreira de Juiz Federal onde se tornaria mais tarde, Desembargador. Workaholic, quando ainda nem se fala nesse termo por aqui, trazia malas de processos sobre os quais se debruçava em sua máquina Olivetti verde, de segunda a segunda, madrugada afora produzindo sentenças. Porque trabalhar tanto? Perguntávamos. Atrás de cada processo há uma vida, era a resposta. Uma lição que levei para minha carreira profissional como médico.

Ali eu vi o senso de justiça, a dedicação ao Serviço Público, o valor do estudo e do conhecimento, com sua imensa biblioteca e arquivos de jurisprudências que ajudei a montar colando recortes do Diário Oficial em fichas, na época que inexistia tecnologia digital.

O que mais me impressiona e orgulha, e volta e meia me relembram pessoas da área do Direito que o conheceram, foi sua coragem inabalável ao tomar decisões inéditas que serviram a Justiça, contrariando interesses do governo militar, de multinacionais e de grandes latifundiários. Era um visionário, um progressista, um homem adiante de sua época. Por isso também, muito criticado.

Todo esse caldo de stress, poucos cuidados com a própria saúde e trabalhando por três pessoas lhe garantiram um infarto aos cinquenta anos, (minha idade hoje) durante uma sessão do TRF4 e, logo em seguida, o diagnóstico de Mal de Parkinson.

Não fosse esta virada inesperada do destino, bem ao gosto de seus contos agridoces, talvez estivesse o Osvaldo, destinado aos tribunais superiores do Brasil.

A aposentadoria precoce por invalidez nos deu a presença constante de nosso pai, mas, a ele foi negada a plenitude física para que aproveitasse este momento da vida.

A limitação física progressiva mudou sua rotina. O homem imponente foi emagrecendo, encurvando-se, tremendo, caminhando com extrema dificuldade, até ficar praticamente restrito ao leito. Redescobriu o amor pelo canto e pela música. A vida era então os almoços com a família, as visitas, o cuidado e a preocupação contínua com o bem-estar dos filhos. O imenso carinho com os netos. A vida seguia assim. Às vezes algumas histórias relembradas, uns dias de humor, outros de silêncio e o tempo, inexorável, passando velozmente.

O homem enérgico era agora um idoso bonito e simpático com potencial biológico, apesar da fragilidade, para viver mais alguns bons anos. Passamos com muito temor  pelo primeiro ano de pandemia. Foram tomados todos os cuidados possíveis e imagináveis. Virei o chato da pandemia na família. Não queria perdê-lo para o vírus.

Ficamos esperançosos com sua vacinação. Primeira dose. Estávamos muito perto de um final feliz.

Após alguns dias, em fevereiro, veio a febre e o diagnóstico de covid. Foi logo no início da segunda onda e do colapso hospitalar em Porto Alegre. A vida aos poucos foi se esvaindo, como a chama de uma vela se apagando lentamente a cada dia, apesar dos enormes esforços da equipe médica que o assistia. E assim ele morreu.

Por um longo tempo imaginei como seria seu funeral. Ele esperaria que suas músicas fossem tocadas para uma grande assistência, pois, foi uma figura pública importante. Meus 28 anos de médico formado não foram suficientes para que eu aceitasse a perda. Não era mais um número, mais uma vítima da pandemia.

Senti mais raiva do que tristeza. Até que por intermédio de uma colega da minha esposa, Roberta Salinet, chegou até a mim um vídeo. O final de uma sessão do TRF4 na qual um desembargador que não conheço, de modo muito informal e generoso, resolveu por homenagear o Osvaldo recontando como o conheceu. Ele um jovem juiz, meu pai o corregedor mostrando aos aprovados no concurso como atender ao público no balcão da vara federal de segunda instância. E ali eu reconheci o homem que tanto amei e que me inspirou. Uma pessoa simples, que amava a vida, fazendo o máximo para melhorar o mundo, ensinando o valor da humildade, do humanismo  e da empatia no dia a dia da atividade judiciária. E claro, na vida.

Ele se foi. Teve filhos, escreveu seu livro e plantou sua árvore simbólica, com fortes raízes, no exemplo de juiz, filho, esposo, avô, pai e ser humano comum. Um de nós. Uma das pessoas dessa cidade.

Na grande sombra do seu exemplo, nós, seus três filhos – Roberto, Cristiano e Rafael-, nos dedicamos ao serviço público. Por um tempo em nossas carreiras quisemos, como nosso pai, retribuir à cidade da nossa infância.

Então ele estava certo e eu errado. “Sorrisos e Lágrimas” traduz a experiência da vida em uma simplicidade elegante. Há o calor das lembranças, as alegrias, as conquistas, as perdas e a dor inevitável. Tudo muda. Tudo passa. Nada é permanente. Viva o presente. Seja simples. Mostre seu amor. Ouse sonhar com um futuro melhor. E trabalhe pra isso. Mas, principalmente, viva.

 

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‘Punição exemplar para dar um basta à violência contra as mulheres’ (por Patrícia Alba – deputada estadual)

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'Punição exemplar para dar um basta à violência contra as mulheres' (por Patrícia Alba - deputada estadual)

Patrícia Alba*

Se a punição severa é a única maneira de frear os crimes contra as mulheres, quando se trata de uma autoridade, como o primeiro mandatário de uma grande cidade como Viamão, a sociedade saúda e aplaude a decisão da Justiça. O prefeito Rafael Bortoletti foi condenado pelo Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Viamão a mais de nove anos de prisão, por divulgar áudios íntimos trocados com uma mulher e por tentar silenciar testemunhas que poderiam depor contra ele na Polícia Civil.

Em qualquer sociedade, quem ocupa um cargo público deve prezar pelo respeito, integridade física, moral e intelectual dos seus cidadãos. Agora, cabe ao Legislativo municipal a reparação diante do povo de sua cidade. Votos legitimam uma eleição, mas é a conduta e comportamento do eleito que consagra sua permanência no cargo. É imperioso que os vereadores investiguem e até abram um processo para cassar o mandato. Não podem aceitar essa condenação como um evento banal ou de menor importância. Aliás, em qualquer país ou sociedade civilizada, os ocupantes de cargos dessa representatividade já teriam renunciado, imediatamente.

É inaceitável o ato vil cometido contra a vítima que, seis anos depois, ainda é obrigada a se recolher em uma vida de vergonha. Vejam o absurdo: a vítima foi condenada à humilhação, e o agressor segue livre, no comando do sétimo município mais populoso do Rio Grande do Sul.

Vamos acompanhar esse caso de perto, para que a Justiça seja efetivamente cumprida, dando exemplo para os agressores em potencial e evitando outros casos. Sabemos que há muito trabalho e ações a serem feitas para reduzir a violência contra a mulher – seja física ou moral.

Viamão, uma cidade pujante, com um povo ordeiro e trabalhador, uma comunidade em que praticamente a metade da população é de mulheres, tem a oportunidade de mostrar para o Brasil que não aceita nem banaliza a violência, seja contra quem for e de onde venha, principalmente contra as mulheres.

*Deputada estadual (MDB-RS) e presidente da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia

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“Oportunidades perdidas!” (Por Carlos Marun – ex-Ministro)

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Oportunidades perdidas! (Por Carlos Marun - ex-Ministro)

OPORTUNIDADES PERDIDAS!

Por Carlos Marun – Advogado e ex-Ministro

Não exerço atualmente nenhuma função pública e também não sou aposentado. Sou Advogado e Engenheiro e obtenho a remuneração necessária ao meu sustento e de minha família através da prestação de serviços de advocacia e consultoria a particulares. Niels Bohr, ganhador do prêmio Nobel de Física e um dos pais do modelo atômico, declarou em determinada oportunidade: “A previsão é muito difícil, especialmente se for sobre o futuro!”. Pois bem, a obrigação do consultor é opinar, e muitas vezes sobre o futuro. Obviamente não utilizando uma bola de cristal ou poderes extra-sensoriais, mas a lógica somada a razoável conhecimento.

Acordo cedo e diariamente envio para clientes, até as 9hs da manhã, um boletim matinal com análises políticas e jurídicas sobre a vida governamental, jurídica e legislativa do país. No de 3a feira(07/01) passada, declarei pensar que o fato de a imensa maioria dos brasileiros continuarem repudiando os atos do 08 de Janeiro somado à onda de “patriotismo fraterno” decorrente da vitória de Fernanda Torres se constituíam em uma excelente oportunidade para Lula buscar atrair o Centro com gestos de pacificação. E daí opinei sobre o futuro, arriscando dizer que o Presidente da República não estava à altura de conseguir se posicionar desta forma.

Infelizmente, acertei. No dia 09/01, Lula, no lugar de agir neste sentido, retomou a verborragia tragicômica, afirmando durante visita à galeria de fotos de ex-presidentes da República que Dilma foi vítima de um golpe comandado por Temer.

Dilma caiu, na forma prevista na Constituição, porque cometeu crime de responsabilidade e porque a isto se somaram condições políticas resultantes do péssimo governo que fazia. Lula não consegue entender que Temer não é mais o Presidente da República pressionado por uma conspiração comandada pelo então Procurador Geral da República que, através de chantagem, obteve o apoio de dois dos maiores grupos econômicos do país, um do ramo das Comunicações e outro do ramo das proteínas animais.

Michel Temer é hoje enormemente reconhecido como o chefe de um exitoso Governo de Centro, que teve coragem de promover reformas fundamentais e positivas. Tão positivas que, não obstante a já citada verborragia, não foram até hoje revogadas pelo atual governo do PT. Até algumas foram levemente alteradas, mas sempre para pior.

Lula não consegue entender também que estas declarações constrangem seus aliados não PTistas ou PSOListas, muitos inclusive ministros(as) que foram na sua grande maioria favoráveis ao impeachment, inclusive votando desta forma. Constrangem de forma especial aqueles MDBistas que participam de seu governo, todos hoje concientes do avanço representado pelo breve Governo Temer.

Lula pensa que pode “comprar” o Centro com cargos. Está errado. Pode no máximo “alugar”. Ele me parece um “caso perdido” que precisa do Centro para a sua reeleição, mas que se afasta dele e dela cada vez que expressa o seu rancor pela deposição constitucional de Dilma, perfeitamente prevista no Estado Democrático de Direito do qual apregoa ser um “amante”.

Porém, como eu afirmei, consultor tem que opinar também sobre o futuro e vou então falar de outra oportunidade que provavelmente será perdida.

O Centro não tem candidato a presidência e segue como uma boiada para o matadouro, “mugindo tonta” e sabendo que ao final terá que optar entre um candidato de direita ou de esquerda. Pois bem, um simples gesto pode hoje fazer surgir este candidato.

Neste caso uma candidata. Falo de Simone Tebet e afirmo que se deixasse o Governo agora em função das palavras de Lula, estaria iniciando uma trajetória que poderia levar o Centro a Presidência em 2026. Não precisaria e nem deveria sair atirando em um governo do qual participa, mas teria que deixar claro que sai porque discorda destas palavras reincidentemente repetidas por Lula.

Conheço Simone. Trata-se de mulher capaz e honrada e que de forma alguma precisa do cargo de Ministra para viver. Mas por dever de ofício devo declarar que penso que ela não aproveitará esta oportunidade.

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Opinião

“Quando o Jogo Se Torna Armadilha: A importância da Educação Financeira em Tempos de Apostas” (por Cristiane Souza)

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O crescimento das plataformas de apostas, popularmente conhecidas como “bets“, tem gerado um impacto profundo e preocupante em diferentes segmentos da população brasileira, especialmente entre as famílias em situação de vulnerabilidade econômica.

O fácil acesso a essas plataformas, aliado à promessa de ganhos rápidos, atrai indivíduos que, diante de oportunidades limitadas e dificuldades financeiras, veem no jogo uma esperança de alívio imediato. No entanto, essa promessa frequentemente se transforma em uma armadilha perigosa, levando a perdas financeiras expressivas e aumentando ainda mais a instabilidade das famílias.

Um dos aspectos mais alarmantes desse fenômeno é o uso de recursos provenientes de programas assistenciais, como o Bolsa Família, para financiar apostas. Segundo dados do Banco Central, em agosto deste ano, cerca de 3 bilhões de reais destinados a apoiar famílias em extrema pobreza foram direcionados para plataformas de apostas. Embora o Bolsa Família seja apenas uma das fontes de renda afetadas, o impacto das apostas não se restringe a esses beneficiários, atingindo diversas famílias de baixa renda que, por falta de orientação financeira, acabam comprometendo seu sustento em busca de ganhos ilusórios, oferecidos por jogos online.

Nesse aspecto, a educação financeira surge como uma ferramenta essencial para evitar que famílias sejam atraídas pelas armadilhas do jogo. Porque muitas vezes, a falta de conhecimento sobre os riscos envolvidos nas apostas e a ausência de planejamento financeiro adequado levam as pessoas a decisões impulsivas, agravando sua situação econômica. A falta de controle sobre os gastos, a tentação de compensar perdas com novas apostas e a dificuldade em priorizar necessidades básicas criam um ciclo vicioso que coloca em risco não apenas as finanças, mas também o bem-estar emocional e social dessa população.

É crucial que a educação financeira seja acessível e adaptada às realidades dessas populações, ensinando-as a planejar, poupar e gastar de forma consciente. Mais do que nunca, em um cenário de crescente popularidade das apostas, as famílias, especialmente as em situação de vulnerabilidade precisam ser capacitadas para tomar decisões financeiras responsáveis, evitando que o sonho de um ganho rápido as leve a uma armadilha de dívidas e frustrações.

Além disso, a conscientização sobre os perigos das apostas deve ser acompanhada por políticas públicas que incentivem o uso responsável dos recursos e ofereçam alternativas viáveis para melhorar a qualidade de vida dessas famílias. O jogo, em si, não é a raiz do problema, mas sim a combinação de vulnerabilidade econômica, falta de informação e ausência de planejamento financeiro que expõe famílias aos riscos das apostas.

Em tempos de apostas, é urgente reforçar a importância da educação financeira para proteger as famílias e oferecer-lhes a oportunidade de construir um futuro mais seguro e estável. Somente com conhecimento e conscientização será possível romper com o ciclo de perdas e garantir que os recursos recebidos sejam utilizados para sua verdadeira finalidade: promover dignidade e segurança.

Cristiane Souza – Educadora financeira e estudante de Psicologia

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