Canoas 85 anos
NOSSAS ORIGENS: Há 150 anos, estação ferroviária dava início ao povoado de Canoas
Marcelo Grisa
marcelogrisa@gmail.com
Desde 1985, uma das principais formas de deslocamento dos canoenses para cidades ao Sul, como a capital Porto Alegre, e ao Norte, indo até Novo Hamburgo, é o uso das composições da Trensurb. Com 23 estações, mais o aeromóvel gratuito entre a estação Aeroporto e os terminais do Aeroporto Salgado Filho, os trens normalmente levam centenas de milhares por dia aos seus destinos na Região Metropolitana e no Vale dos Sinos.
Nos dias atuais, sem os trabalhos plenamente restabelecidos após as enchentes de maio, o transporte metroviário vai do Centro de Canoas até Novo Hamburgo. Os trens estão mais espaçados, com intervalos de 18 minutos entre cada viagem, mas a cobrança de passagens segue suspensa.
Dessa forma, o deslocamento de muitas pessoas está afetado. A existência de linha férrea entre a capital, Canoas e essas outras cidades, entretanto, não é nova. A Trensurb é apenas uma nova forma de fazer o trajeto que já era feito desde o século 19.
Os primeiros trilhos
O começo das discussões políticas sobre a necessidade de trens para o transporte de passageiros datam da década de 1860. Naquela época, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, se percebia a obrigatoriedade de deslocamento de trabalhadores do Interior do Estado para áreas mais próximas à capital.
Em concorrência pública, o empresário inglês John MacGinity venceu uma licitação para implantar o que seria chamado de “The Porto Alegre & New Hamburg Brazilian Railway Company Limited” (Companhia Brasileira de Estradas de Ferro de Porto Alegre e Novo Hamburgo, em tradução do inglês).
A construção começou em 1971, com a pedra fundamental na cidade de São Leopoldo. O primeiro trecho, que incluiu a primeira versão da estação ferroviária que hoje é preservada em Canoas, iniciou as viagens em 14 de abril de 1874, há 150 anos.
Esse trajeto é bastante similar ao que hoje a Trensurb percorre. Mas a viação férrea foi expandida nos anos subsequentes. No começo de 1876, houve o prolongamento até Novo Hamburgo.
Depois disso, a malha foi até a Serra, em cidades como Carlos Barbosa e Caxias do Sul, além da implantação de viagens mais distantes. Antes do começo do século 20, trens levavam passageiros e cargas para Santa Maria, Ijuí, Passo Fundo, Uruguaiana e Pelotas, entre outros destinos.
Estatização
Nem todos os trechos descritos anteriormente eram feitos pela empresa inglesa. O governo estadual decidiu mudar isso em 1905, quando unificou a malha férrea e deu o controle dela à belga “Compagnie Auxiliaire de Chemins de Fer au Bresil” (Companhia Ferroviária Auxiliar do Brasil, em tradução do francês).
Denúncias de falta de investimentos e má gestão geraram um movimento pela estatização dos serviços, liderado pelo deputado federal Augusto Pestana. Mais tarde, ele seria o primeiro presidente da Viação Ferroviária do Rio Grande do Sul (VFRGS), companhia estadual criada em 1920.
Em 1934, a estação ganha um novo prédio, mantido até hoje como patrimônio municipal, no mesmo endereço. A companhia estadual implantou as locomotivas a óleo diesel Minuano, além de recuperar a malha ferroviária.
Na década de 1950, o governo federal começou a absorver as malhas estaduais em uma única empresa pública. A Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), conhecida como Refesa, absorveria a VFRGS em 1959.
Novos tempos
Os planos de desenvolvimento dos modais ferroviários estavam previstos nos planos de governo militares na década de 1970. Entretanto, a malha era pouco atrativa ao capital privado nesta época, e os governos da ditadura promoveram apenas a manutenção das linhas existentes.
Na década de 1980, a Trensurb, que tem capital federal, estadual e da Prefeitura de Porto Alegre, foi criada. Na mesma época, outros grandes centros urbanos do país modernizavam suas linhas em movimento semelhante.
O restante da malha estadual, hoje utilizado para transporte de cargas, foi privatizado para a Rumo Logística em 1996.
A Trensurb começou com composições de fabricação de um consórcio de três empresas japonesas, ainda em operação 40 anos após a sua construção. Em 2013, a primeira linha de Aeromóvel, fabricado no Brasil, foi inaugurada. Em 2014, os trens mais modernos em circulação foram implantados. Eles foram fabricados em conjunto pelas empresas Alstom, de capital francês, e a espanhola CAF.
Canoas 85 anos
LADO OESTE: Como as características do terreno definem a relação de Canoas com as águas
Marcelo Grisa
marcelogrisa@gmail.com
Muitos canoenses se relacionam com o território da cidade como uma área dividida. Há a Canoas a Leste dos trilhos da Trensurb e da BR-116, e há a Canoas do lado Oeste.
Essa última chegou nos noticiários ao redor do mundo com as enchentes de maio de 2024, por ter sido uma das regiões mais atingidas da Região Metropolitana. A água chegou a marcas históricas por conta do volume de chuvas e das falhas no sistema de diques, nos bairros Fátima, Rio Branco e Mathias Velho.
Mas essa dualidade entre os polos da cidade é, de fato, um processo histórico. “Essa lateralidade vem desde os processos de formação urbana da cidade, no século 19”, afirma o historiador Airan Milititsky Aguiar, chefe da unidade de Museu e Arquivo do Arquivo Histórico Municipal de Canoas.
Há, pelo menos, registro de quatro grandes enchentes na história da Região Metropolitana e na capital, Porto Alegre. Além de 2024, há outras em 1967 e em 1941.
A primeira, entretanto, ocorreu antes mesmo do estabelecimento da estrada de ferro que daria origem a Canoas, em 1874. Um ano antes, em 1873, registros históricos apontam que a construção da malha ferroviária foram atrasadas por uma grande cheia dos rios do Sinos, Gravataí e do lago Guaíba.
Formação católica
Segundo Airan, as estruturas que possiblitaram a consolidação do município que começou como um povoado em torno da linha férrea se originaram todas do lado Leste. A Paróquia São Luís Gonzaga cuja matriz hoje está junto à Praça da Bandeira, no Centro, inicialmente foi construída na Av. Santos Ferreira.
Inaugurada em 21 de julho de 1898 com construção em estilo barroco, a igreja precede a chega dos irmãos lassalistas, em 1908, e das freiras do que viria a ser o Colégio Maria Auxiliadora, em 1944. Sua mudança de endereço está ligada a disputas pelo terreno da igreja e suas adjacências.
Com a demolilção do antigo prédio, as pedras fundamentais que simbolizam a sede religiosa foram movidas para a atual base, já do lado Oeste de Canoas, na Rua Cônego José Leão Hartmann. A nova igreja, feita em estilo gótico, começou a ser feita em 1926, com a primeira missa celebrada em 1931.
A rua leva o nome do padre, natural do município de Harmonia, que comandou a paróquia de 1941 até 1975, e ainda auxiliou párocos subsequentes até 1986, dois anos antes de seu falecimento. Ele foi sepultado no antigo Cemitério Católico de Canoas, em cerimônia celebrada por mais de vinte padres e presença de grande público.
Terreno difícil
A vulnerabilidade da parte mais baixa da cidade em relação aos rios, em especial no lado Oeste, passou a ficar mais evidente depois da emancipação, ocorrida em 1939.
Entretanto, há registros de que já se sabia do potencial para que as cheias ocorressem ali há mais de 100 anos. “Em estudos recentes do invetário, ficou claro que há mapas que delimitam a área de enchente da região ainda no século 19”, explica Airan. Essas marcas, segundo ele, são semelhantes às regiões que foram atingidas do lado Oeste no mês de maio.
Há, também nos arquivos municipais, registros de como a área desses bairros, antes ocupados por plantações de arroz, eram problemáticas para o estabelecimento de construções. Devido à dinâmica hídrica, o solo acumulava inclusive material orgânico.
Por isso que, ao longo dos anos, grandes edifícios não foram construídos na parte Oeste. “Temos relatos do prefeito Hugo Simões Lagranha, ainda em primeiro mandato, falando sobre como esses acúmulos às vezes produziam fogo, porque realmente esses depósitos podem sofrer combustão espontânea”, contorna Airan.
Plano Diretor
O desenvolvimento de projetos urbanos de habitação em áreas como o Harmonia e Mathias Velho começou entre as décadas de 1950 e 1960.
O históriador do Arquivo Público Municipal aponta que, naquela época, a cidade ainda não dispunha de um Plano Diretor, o que permitiu que as construtoras pudessem fazer o que fosse possível na região sem restrições. “Na ausência do regramento, isso podia acontecer”, diz Airan.
Os contratos originais com as construtoras para a construção de casa no Mathias, foram assinados por Walter Peracchi Barcelos, governador do Rio Grande do Sul entre 1966 e 1971, no começo da ditadura militar. Esses contratos apontavam que tudo deveria ser feito conforme o Plano Diretor de Canoas. Entretanto, o documento não existia nessa época.
Canoas 85 anos
O trem, o avião e a cidade: conheça a história de Canoas
Legenda: Almoço comemorativo à emancipação de Canoas em 27 de junho de 1939, no Salão Paroquial da cidade. Foto: Arquivo Histórico Municipal/Divulgação/OT
Marcelo Grisa
marcelogrisa@gmail.com
Nesta quinta-feira, 27 de junho, Canoas completou 85 anos de emancipação política ainda em meio à maior crise de sua história. Entretanto, é necessário conhecer a história da cidade para pensar nas próximas décadas. Muitos indivíduos e organizações tornaram o munícipio uma realidade, e outras tantas possibilitaram o seu crescimento até os dias atuais.
Origens e nome
A primeira estação de trem, de madeira, foi inaugurada em 1874, há 150 anos, onde hoje fica a Av. Victor Barreto. O local era uma das estações de uma linha férrea anterior à Trensurb. Essa linha chegou a ser usada no caminho entre Porto Alegre e cidades como Caxias do Sul e Uruguaiana, na Fronteira Oeste do Estado.
À época, o território canoense e de outras cidades da Região Metropolitana era a Fazenda Gravataí. Sua sede ficava onde hoje é o bairro Estância Velha. O povoamento foi ideia do Coronel Vicente Ferrer da Silva Freire, marido de Rafaela Pinto Bandeira, uma das herdeiras daquelas terras.
Os trabalhadores aproveitavam as toras derrubadas na construção para fazer canoas, necessárias para a travessia dos córregos e arroios da região. Por isso, a vila que cresceu em volta da estação passou a se chamar Capão das Canoas. Era, na época, ponto de veraneio das famílias de Porto Alegre.
Ao longo das décadas, o território, então pertencente a Gravataí, foi se expandindo. Em 1908, os irmãos lassalistas chegaram à cidade e fundaram o que viria a se tornar, atualmente, a Unilasalle, que fica hoje em frente à antiga estação de trem.
A autonomia religiosa pela Igreja Católica foi o primeiro de uma série de movimentos que viria a culminar na emancipação política.
Década de 1930 e a emancipação
Em 1934, há 90 anos, o atual prédio da estação férrea passava a funcionar. O local hoje abriga um espaço para encontros, ensaios e apresentações de grupos culturais.
Três anos depois, em 1937, instalava-se o 3º Regimento de Aviação Militar (RAV). A ocupação pela Aeronáutica colocava o local como uma base aérea estratégica próximo da capital. Isso viria a ser provado em várias ocasiões, tais como a enchente de 2024, com o local sendo usado como aeroporto na impossibilidade de uso do Salgado Filho, em Porto Alegre.
Depois disso, em 1938, Canoas é elevada à condição de vila pelo governo do Estado. Esse movimento foi encabeçado pelo médico Victor Hugo Ludwig, que levou à Porto Alegre uma carta, ainda no ano anterior, expondo os motivos para a emancipação.
Canoas se tornaria uma cidade de fato apenas um ano depois, em 27 de junho de 1939. O primeiro prefeito, apontado pelo interventor federal no Estado, o general Flores da Cunha, foi Edgar Braga da Fontoura, em 15 de janeiro de 1940.
A pessoa que passou mais tempo como prefeito de Canoas foi Hugo Simões Lagranha. Além de ter sido eleito para três mandatos, também foi nomeado em duas oportunidades, somando 18 anos no comando do Executivo municipal. O Museu Histórico Municipal, inaugurado por ele em 1990, mais tarde passaria a levar seu nome.
Desenvolvimento
O que começou como um ponto de veraneio passou a se expandir de forma ainda mais rápida após a emancipação. Na década de 1970, o município teve ampla expansão populacional, e hoje é o terceiro maior do RS, com 347.657 habitantes, atrás apenas de Caxias do Sul e da capital.
Canoas também tem forte presença da indústria ao longo dos anos. A construção da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) pela Petrobrás incluiu a cidade no polo petroquímico estadual, atraindo outras empresas.
O município também conta com sedes de grandes empresas de máquinas e implementos agrícolas, por exemplo. Essas e outras empresas, junto com os setores de serviço e comércios da cidade, fizeram dela o terceiro maior PIB do Estado.
Segundo dados relativos a 2021, Canoas tem um Produto Interno Bruto de cerca de R$ 21,99 bilhões, o 56º maior resultado do país. A cidade produz R$ 63.267,42 por habitante, o chamado PIB per capita.
Canoas 85 anos
A cidade dos aviões monumento: conheça a história das aeronaves cartões-postal
por Cauê Nascimento
cauetche@hotmail.com
Canoas não é marcada somente pela relação de sua população com as águas e estações de trem. Quem passa pela BR-116 no Centro da cidade consegue ver, em uma praça, o mais conhecido monumento do município: um avião que adorna uma praça.
Localizada próximo da sede da prefeitura, a Praça do Avião foi inaugurada em 20 de janeiro de 1968. Em seu centro, um avião F-8 Gloster Meteor, de fabricação inglesa, está suspenso em uma estrutura de concreto. Há também uma bandeira do Brasil hasteada de forma permanente em um poste de 36 metros de altura.
Registros da Aeronáutica
O local, antes chamado de Praça Cinquentenário La Salle, foi primeiro criado em 1958 como uma comemoração à permanência dos irmãos lassalistas na cidade desde 1908. Entretanto, mesmo antes da década de 1950, a importância da presença da Aeronáutica tinha importância para o desenvolvimento de Canoas.
De acordo com os registros da força militar, a instalação da primeira base aérea no território que, à época, ainda era do município de Gravataí, era discutida desde a criação da 3º Regimento de Aviação da Aviação Militar (RAV), em 1933, ainda na cidade de Santa Maria.
Como o espaço escolhido em 1937 era no que então era o povoado de Canoas, o então comandante, capitão Miguel Lambert, chegou a ser discutida a mudança da sede do município de Gravataí para onde fica Canoas. Como a emancipação já era desejo de muitos canoenses consultados pelos militares nesse momento, a Aeronáutica decidiu apoiar o movimento que tornaria o local em um novo município.
Três décadas depois, a edição semanal de 17 a 24 de janeiro de 1968 de O Timoneiro falava da reinauguração do espaço. O então prefeito Hugo Simões Lagranha, em seu primeiro mandato, afirmava que “que este será o mais importante ponto turístico de nosso município”.
O nome oficial da Praça do Avião foi dado ao patrono da aviação brasileira em 1977: Praça Alberto Santos Dumont.
Desde então, a tradição foi expandida, com a colocação de outros seis aviões em pontos em torno de Canoas. Três deles estão dentro do V Comar, o quarto está na entrada da Base Aérea, o quinto foi reformado pela Ulbra Canoas e está no campus, e o último foi colocado na Praça da FAB em 2011.
Presença na cidade
Desde 27 de maio, a Base Aérea de Canoas recebe voos comerciais em função de alagamento por enchente no Aeroporto Internacional Salgado Filho.
Todos os anos, a Aeronáutica promove, em 12 de outubro, o evento de Portões Abertos, a chamada EXPOAER. O evento, que já teve 34 edições, comemora o Dia da Criança e a Semana da ASA.
Em 2023, 40 mil pessoas estiveram na Base Aérea. Ocorreu a arrecadação de 25 mil quilos de alimentos, entregues à Defesa Civil Municipal.
Na EXPOAER, os presentes podem acompanhar a movimentação das aeronaves em operação e participar de atividades promovidas no espaço.
Na parte da tarde, o Esquadrão de Demonstração Aérea, mais conhecido como Esquadrilha da Fumaça, faz um show de acrobacias nos céus, celebrando a união dos povos que fundaram a cidade com os militares, que a escolheram há quase 90 anos.
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