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16/08/2025
 

Comunidade

Vila de Passagem se torna Vila dos Esquecidos

No loteamento falta infraestrutura e esperança de reassentamento a famílias

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Vila de Passagem está mais esquecida ainda. Foto: Bruno Lara/OT

Vila de Passagem está mais esquecida ainda. Foto: Bruno Lara/OT

Texto: Émerson Vasconcelos
Fotos: Bruno Lara

 

Na última semana a equipe de reportagem de O Timoneiro voltou à Vila de Passagem. O que encontramos lá foi um cenário de total abandono, com dezenas de famílias vivendo em casas de chapas de compensado praticamente destruídas pela umidade. Além disso, a maior parte da infraestrutura da vila não recebeu manutenção ou foi totalmente desmontada.

Cenário caótico

A Vila de Passagem certamente não poderia mais ser chamada por este nome. É fato que muitas das pessoas que foram levadas para lá pela Prefeitura já receberam suas casas definitivas, mas, à medida que umas iam saindo, a administração municipal ia colocando outras lá. Atualmente, a maioria dos que lá residem alegam que não foram levados para casas definitivas porque tiveram algum problema de documentação. Por outro lado, várias casas estão ocupadas por famílias que aproveitaram a situação de abandono da vila para se mudarem para lá de forma irregular.

O início

O assentamento, situado próximo ao loteamento Prata, foi montado para que as famílias residentes nas vilas localizadas nos diques da cidade fossem transferidas provisoriamente em 2011. Na época, a Prefeitura explicou que a medida era necessária para liberar o caminho para a construção da BR-448, uma vez que as vilas dos diques estavam na área onde ocorreria a construção.

Quando foi inaugurada, a vila tinha ares de campo de concentração. Quando nossa equipe visitou o local pela primeira vez, em 2011, os guardas do local exigiram que os repórteres se retirassem, assim que perceberam se tratar de profissionais de imprensa. As visitas só podiam acontecer de forma guiada pela Prefeitura.

Deterioração

Com o passar do tempo, a vigilância foi ficando cada vez menos rígida, mas isso não foi algo bom. Não apenas a imprensa parou de ser barrada, mas a guarita onde estava o guarda que protegeria os moradores foi demolida e atualmente não passa de escombros.

Da mesma forma, deixaram de existir o canil, a horta comunitária e a brinquedoteca. O estábulo, onde ficavam os cavalos dos moradores que trabalham com carroças, está em ruínas e oferece risco a qualquer animal que for deixado ali.

A pavimentação das ruas, a manutenção inicial realizada na rede de esgoto, a promessa de casas duradouras e de cuidados com animais se provaram, ainda em 2011, uma maquiagem de má qualidade. O asfalto colocado nas ruas da vila para a inauguração se despedaçou poucos meses depois, e, agora, em 2016, não existe mais nem em forma de cacos. Restam buracos, areia e brita constantemente molhados pelo esgoto que transborda a todo momento. No meio do lodo formado por esta mistura insalubre, crianças brincam e ficam expostas a possíveis doenças. E este cenário não é novo, verificamos este problema de saneamento desde nossa primeira visita.

O compensado utilizado para a construção das casas, e que, segundo a Prefeitura afirmou em 2011, deveria durar cinco anos começou a mostrar claras marcas de deterioração em 2013 e hoje está completamente tomado pela umidade.

Na ocasião da nossa visita, percebemos também que várias casas estão destelhadas. Segundo um morador, que preferiu não se identificar, a Prefeitura se negou a fornecer telhas para as famílias que ocuparam irregularmente o local, deixando aquelas famílias ao relento. O mesmo morador desabafou para a nossa equipe que tem medo das condições de segurança atuais da vila e que sequer deixa seus filhos pequenos brincarem fora do pátio. Ele ressaltou, ainda, que se sente abandonado pelo poder público. “Não sou só eu, várias famílias estão aqui há mais de dois anos e não recebemos nem previsão pra sair. Agora dizem que é por documentação, mas sempre tem uma desculpa”, lamentou.

Vila de Passagem continua oferecendo um estado degradante para os moradores. Foto: Bruno Lara/OT.

Vila de Passagem continua oferecendo um estado degradante para os moradores. Foto: Bruno Lara/OT.

O que diz a Prefeitura

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SMDUH) informou que “Do total de 599 famílias, a Prefeitura já reassentou 431. Esta semana foram reassentadas mais 16 famílias e, a cada mês, serão reassentadas mais 16. O motivo da realocação da comunidade foi a construção da BR-448, obra que serviu para desafogar a BR-116”.

Informou que, em função da transferência para unidades definitivas, “a cada mudança, os módulos estão sendo desfeitos”. Ressaltou que a SMDUH “criou um grupo de trabalho, a fim de promover não apenas a limpeza e revitalização das áreas, mas também abordar a questão da educação ambiental e do combate às pragas e endemias”.


 

 

In loco: repórteres relatam sua experiência ao visitar a Vila de Passagem

Émerson

Condições mais desumanas que nos diques   

Por Émerson Vasconcelos   

 

Quando voltei à Vila de Passagem, esperava encontrar uma situação pior do que tinha visto na minha última visita. Isso era óbvio, considerando a degradação gradual das casas. Só que eu confesso que não estava preparado para ver as coisas no estado em que encontrei. Não faz sentido algum que o governo abandone uma área lotada de pessoas jogadas por ele mesmo. Lembro de que na minha primeira visita, em 2011, contestei a Prefeitura sobre a deterioração rápida da infraestrutura e uma pessoa me disse por telefone, antes de me enviar a resposta oficial por email: “Olha Émerson, não entendo do que O Timoneiro está reclamando. Essas pessoas viviam no dique, em condições desumanas e agora têm até brinquedoteca para as crianças”. Passados quase cinco anos, posso garantir que as condições de vida destas pessoas estão ainda mais desumanas do que eram nos diques ou em qualquer outra vila que já visitei. Afinal, a maioria não escolhi viver neste campo de concentração desativado, foram jogados ali. Aliás, desta última não vi nem sinal da tal brinquedoteca que tanto orgulhava a Prefeitura.


 

 

BrunoUm cenário pós-guerra  

Por Bruno Lara

 

 

Ao longe o cenário era de guerrilha.Destroços dominavam a maioria da paisagem. Alguns sobreviventes ao longe, sentados, descansando. No gramado que servia para o pasto dos cavalos, as crianças jogavam futebol. Nada diferente das grandes guerras.
Mais distante ainda, prétios enfeitam a paisagem. Uma dualidade que salta aos olhos. Uma esperança dos moradores de sairem de onde estão para quem sabe, um dia, contarem com as mesmas oportunidades daqueles que estão cercados de cimento e areia, com telhas de zinco.
A primeira imagem foi assim. Um sentimento de desrespeito, de falta de oportunidades. Pessoas que lá foram jogadas para que outras pudessem viver mais confortavelmente. Seres humanos abandonados.

 

 

FOTOS:

 

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XVI Conferência Municipal da Assistência Social reúne comunidade e entidades em Canoas

Redação

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XVI Conferência Municipal da Assistência Social reúne comunidade e entidades em Canoas

Na quinta-feira, 14, a Associação Pestalozzi de Canoas foi palco da XVI Conferência Municipal da Assistência Social, que teve como tema “20 anos do SUAS: Construção, Proteção Social e Resistência”. O evento reuniu usuários, trabalhadores, entidades e gestores da política de assistência social, promovendo debates e a troca de experiências.

O objetivo, conforme a gestão municipal, foi fortalecer as ações de assistência social no município, com espaço para discussão sobre políticas públicas municipais, estaduais e nacionais. Para Edina Aparecida Alegro, presidente do Conselho Municipal de Assistência Social, “estamos aqui num momento muito importante de fala para tratar de políticas ligadas à assistência social em todas as esferas”.

Participante do encontro, Paola Estalamartes, integrante da Associação das Senhoras das Campanhas dos Bebês, destacou a relevância do apoio recebido: “Somos gratos pelo apoio da Prefeitura e de instituições parceiras. Nosso foco é trabalhar o fortalecimento do vínculo familiar”.

Representando a gestão municipal, o secretário de Assistência Social, Márcio Freitas, reforçou o compromisso com a área: “Estamos participando deste grande evento com o comprometimento de manter e ampliar as políticas públicas de assistência social, voltadas especialmente para a população que mais precisa”.

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Canoas retoma acordo para regulamentar comércio indígena no Centro

Redação

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Canoas retoma acordo para regulamentar comércio indígena no Centro

O comércio indígena no Centro de Canoas passará por mudanças nos próximos meses. Representantes de quatro aldeias, do Ministério Público Federal (MPF), da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação (SMDEI) definiram a retomada do acordo firmado em 2019, que estabelece 12 pontos fixos para a comercialização de produtos.

O pacto original foi firmado após o Município relatar ao MPF a expansão das bancas indígenas, a venda de produtos industrializados e problemas de circulação de pedestres e veículos, especialmente na Rua Quinze de Janeiro. Na época, ficou determinado que, fora dos pontos autorizados, valeria a legislação municipal que proíbe o comércio transitório na área central.

Em vistoria realizada em julho deste ano, a SMDEI identificou 29 bancas ativas no Centro, número superior ao acordado. O levantamento motivou pedidos de providências de entidades empresariais e levou à retomada das negociações.

Com o novo entendimento, será mantido o limite de 12 bancas, que receberão placas e crachás de identificação para facilitar a fiscalização. Três boxes da Praça da Bíblia serão disponibilizados para depósito de materiais.

Segundo a SMDEI, a medida busca equilibrar a preservação do direito de comercialização dos povos indígenas com a organização do espaço público e o cumprimento da legislação municipal.

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Campanha do Agasalho 2025 de Canoas recebeu 28.340 peças e distribuiu 15.774

Redação

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Campanha do Agasalho 2025 de Canoas recebeu 28.340 peças e distribuiu 15.774

A Campanha do Agasalho deste ano em Canoas atingiu os quantitativos de 28.340 peças recebidas e 15.774 itens distribuídos. Nesta quarta-feira, 6, a ação ocorreu com parceria entre agentes da Defesa Civil do município e voluntários para estender solidariedade aos moradores do bairro Rio Branco.

Em uma busca cuidadosa, pilha após pilha, sem desdobrar nem desarrumar os itens separados sobre uma grande mesa, propiciou que a dona de casa Tânia de Jesus, 46 anos, encontrasse roupas para proteger seus quatro filhos, de 13, 11, 8 e dois anos de idade.

Conforme o secretário de Defesa Civil e Resiliência Climática de Canoas, Vanderlei Marcos, a ação é estratégica para fazer com que os bens doados pela comunidade cheguem efetivamente para quem precisa. “A parceria com lideranças e pessoas que são referências nas localidades é fundamental para ampliar o acesso daqueles que precisam dos agasalhos”, descreve o gestor.

Ao lado da parceira de voluntariado Celi Oliveira, Vera confirma que o elo se fortalece e a corrente de solidariedade estende sua proteção.

“Fazemos isso há dez anos. Abro minha casa para receber quem precisa da ajuda. Cada pessoa que sai daqui com uma roupinha para sua família faz valer o trabalho da gente”, define Vera.

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