Coluna
ECONOMIA: Educação Financeira e Comportamento (por Cristiane Souza)
por Cristiane Souza
Educação Financeira e Comportamento
No nosso dia a dia, somos constantemente influenciados por nossos comportamentos e hábitos. Desde a maneira como organizamos nossa rotina até as pequenas decisões que tomamos, nossos comportamentos moldam o caminho que seguimos na vida. Seja no trabalho, nos relacionamentos ou na gestão do tempo, a forma como agimos reflete nossas prioridades e valores.
O comportamento no cotidiano é o alicerce das nossas vidas. Ele determina como nos relacionamos com as outras pessoas, como enfrentamos desafios e, principalmente, como fazemos escolhas. Por exemplo, uma pessoa que tem o hábito de planejar suas atividades e cumprir prazos é vista como organizada e confiável. Já alguém que frequentemente age por impulso pode enfrentar dificuldades para alcançar objetivos de longo prazo, pois não dedica o tempo necessário para pensar nas consequências de suas ações.
Esses padrões comportamentais não se limitam a aspectos emocionais ou profissionais. Eles se estendem também à maneira como lidamos com nossas finanças. O comportamento financeiro é uma extensão natural dos nossos hábitos cotidianos. Quando falamos de dinheiro, a importância de ter disciplina, responsabilidade e visão de futuro torna-se ainda mais evidente.
A história de Ana e Lia, duas jovens que trabalham juntas e ganham o mesmo salário, é um exemplo claro de como o comportamento no cotidiano pode influenciar diretamente a vida financeira. Ambas estão no mesmo ciclo da vida financeira, chamado do clico da aprendizagem, com as mesmas oportunidades, mas fazem escolhas muito diferentes que acabam por afetar drasticamente suas situações financeiras.
Ana, por exemplo, aprendeu a valorizar a responsabilidade e o planejamento desde cedo. Essa atitude não se manifesta apenas em seu trabalho ou nos estudos, mas também na forma como ela gerencia seu dinheiro. Ana contribui para as despesas de casa, paga sua educação e ainda consegue poupar, mostrando que seus hábitos diários de disciplina e organização se refletem em uma gestão financeira saudável.
Lia, por outro lado, adota um comportamento mais voltado para o imediatismo. Sem responsabilidades financeiras em casa, ela gasta seu salário em lazer, moda e festas, sem considerar as consequências a longo prazo. Esse comportamento impulsivo faz com que ela frequentemente se encontre em dificuldades financeiras, apesar de ganhar o mesmo que Ana.
Ao observarmos essas histórias, fica claro que o comportamento no cotidiano e o comportamento financeiro estão interligados. Nossas escolhas diárias, por mais simples que possam parecer, têm o poder de moldar nosso futuro. Por isso, é fundamental desenvolver uma consciência sobre nossos hábitos e buscar constantemente o equilíbrio entre as necessidades presentes e os objetivos de longo prazo.
A educação financeira, portanto, não é apenas uma questão de aprender a economizar ou investir. Trata-se de fazer escolhas conscientes, que refletem uma compreensão mais ampla das consequências de nossas decisões financeiras. Ana e Lia são exemplos de como o comportamento pode ditar o rumo das nossas finanças. E, ao observarmos essas histórias, podemos nos inspirar a refletir sobre as nossas próprias escolhas e buscar uma relação mais saudável com o dinheiro.
*Educadora financeira, professora universitária, formada em contabilidade, mestre em economia, estudante de psicologia, conselheira do CRCRS e atua há vários anos como gestora na área contábil e financeira.
Coluna
ECONOMIA: ‘Caminhos para a Inclusão e o Empoderamento’ (por Cristiane Souza)
por Cristiane Souza
Educação Financeira: Caminhos para a Inclusão e o Empoderamento
O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é uma data para refletir sobre a luta histórica da população negra no Brasil e reforçar a importância de ações que promovam a igualdade de oportunidades. Em um país marcado por profundas desigualdades raciais, a educação financeira desempenha um papel essencial na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
A falta de educação financeira afeta desproporcionalmente a população negra, que enfrenta, em média, maiores taxas de desemprego, baixos salários e menos acesso a serviços bancários e financeiros. Essa realidade é reflexo de um histórico de exclusão que perpetua desigualdades. Segundo dados do IBGE, a população negra representa mais de 56% da população brasileira, mas concentra-se, em grande parte, nas classes de menor renda. Neste contexto, a educação financeira se torna uma ferramenta transformadora, pois capacita as pessoas a melhor administrar seus recursos, mesmo em cenários de renda limitada.
Promover a educação financeira entre as comunidades negras significa garantir mais acesso a informações sobre como gerenciar renda, controlar gastos, investir e evitar o endividamento. Esses conhecimentos básicos permitem que famílias construam um futuro financeiro mais estável e ampliem suas oportunidades. Para muitos, o primeiro contato com conceitos de planejamento financeiro ocorre de forma tardia, quando já enfrentam dificuldades financeiras significativas. Esse cenário pode ser revertido através de iniciativas que levem a educação financeira às escolas públicas e projetos sociais que incluam a juventude negra.
É importante reconhecer que as barreiras enfrentadas pela população negra vão além das dificuldades econômicas e incluem desafios estruturais como o racismo e a discriminação, que limitam seu acesso a melhores empregos, salários e oportunidades de ascensão social. Nesse sentido, empresas, instituições financeiras e governos também têm responsabilidade em promover uma educação financeira inclusiva. Iniciativas como workshops, cursos e palestras voltadas a populações historicamente marginalizadas ajudam a reduzir a exclusão financeira.
A educação financeira, ao ser democratizada, promove uma sociedade onde mais pessoas têm acesso às mesmas oportunidades de crescimento e estabilidade financeira. No Dia da Consciência Negra, é importante reconhecer que essa inclusão passa pelo combate às desigualdades econômicas e pela promoção de uma educação financeira que seja acessível e relevante para todos.
Assim, celebrar o Dia da Consciência Negra é também promover o empoderamento financeiro da população negra. Através do acesso a recursos e informações financeiras, é possível transformar vidas, fortalecer comunidades e reduzir as barreiras impostas pelas desigualdades raciais no Brasil.
*Educadora financeira, professora universitária, formada em contabilidade, mestre em economia, estudante de psicologia, conselheira do CRCRS e atua há vários anos como gestora na área contábil e financeira.
Coluna
PSICOLOGIA: Tenho esquizofrenia, e agora? (por Marianna Rodrigues)
por Marianna Rodrigues
Tenho esquizofrenia, e agora?
Receber o psicodiagnóstico de esquizofrenia pode ser muito assustador, principalmente devido ao preconceito que rodeia os temas de saúde mental de modo geral. Na coluna de hoje, vamos desfazer alguns mitos e propor algumas estratégias para conviver com esta situação.
A esquizofrenia se caracteriza como um conjunto de sintomas que envolvem alucinações, delírios e alterações atípicas de comportamento. Trata-se de uma situação crônica, isto é, que acompanhará a pessoa ao longo da sua vida. Geralmente, os sintomas mais conhecidos da esquizofrenia aparecem em um estado de crise que pode durar alguns dias.
Durante muito tempo, sob a justificativa de buscar uma cura para a esquizofrenia, muitas pessoas com este diagnóstico foram submetidas a tratamentos violentos que, hoje, já não são mais recomendados. Atualmente, com o devido tratamento, a pessoa com esquizofrenia pode desenvolver uma vida com felicidade, prazer, harmonia, apesar de ter de enfrentar momentos mais difíceis de crise onde necessitará de auxílios e cuidados.
A pessoa com esquizofrenia pode trabalhar, estudar e ter uma família? Sim, sem dúvidas. Ainda assim, é importante que as pessoas mais próximas da sua convivência possuam consciência do seu psicodiagnóstico para auxiliarem no tratamento e saberem o que fazer em um momento de crise.
A pessoa com esquizofrenia é mais suscetível a cometer crimes? Não, não existe uma correlação direta entre comportamento criminoso e este psicodiagnóstico. Infelizmente, encontramos na indústria cinematográfica uma grande tendência à produção de filmes associando psicose e comportamento violento, o que fortalece a psicofobia e o estigma da doença mental.
A pessoa com esquizofrenia está o tempo todo delirando e alucinando? Não e, inclusive, existem abordagens da psicologia que vão confrontar a fronteira entre loucura e realidade, ou seja, vão desenvolver ferramentas para convivermos com nossas loucuras.
De fato, principalmente durante uma crise aguda, a pessoa com esquizofrenia pode necessitar de acompanhamento especializado para evitar situações de risco, mas isso não é uma exclusividade deste psicodiagnóstico. De modo geral, as pessoas estão suscetíveis a momentos de descontrole, independentemente de suas estruturas psíquicas, não é?
No entanto, vivemos em uma sociedade que procura estabelecer modos de vida completamente controlados. Por essa razão, a esquizofrenia assusta.
Se você possui ou conhece alguém que recebeu este psicodiagnóstico, entenda que não é necessário afastar-se dos círculos de convivência ou deixar de fazer coisas importantes. Assim como qualquer outra questão de saúde mental, a esquizofrenia também pode ser acolhida.
*É psicóloga clínica (CRP 07/30799), Mestre e Doutoranda em Psicologia Social e Institucional (UFRGS) e pesquisadora
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PSICOLOGIA: Como identificar se estou em uma relação violenta? (por Marianna Rodrigues)
por Marianna Rodrigues
Como identificar se estou em uma relação violenta?
Grande parte das relações têm algum grau de violência, que geralmente aparece em um momento de uma discussão mais intensa ou em meio a conflitos. Há, contudo, um conjunto de comportamentos que tornam uma relação sistematicamente violenta, isto é, aquilo que sustenta a relação é a violência.
O aspecto mais difícil de assimilar, nesses casos, é o fato de que todas as pessoas envolvidas na relação têm algum papel para que se possa romper com o ciclo de violência. Em outras palavras, não há como esperar apenas do polo que comete a agressão, por exemplo, a iniciativa de mudar de comportamento, como se quem estivesse do outro lado fosse um ser totalmente passivo e sem poder. Por isso, a Psicologia tem deixado de falar em pessoas “vítimas de violência” para afirmar que se tratam de pessoas “em situação de violência”.
Quando a violência é física e deixa marcas no corpo, pode ser mais fácil para muitas pessoas identificarem que se trata de uma relação violenta. E se a violência não deixa marcas visíveis? Bem, existem algumas perguntas que podem ajudar a identificá-la:
– Quais são os momentos de prazer e felicidade da relação?
– Para disfrutar de momentos prazerosos, você precisa abrir mão de muitas coisas que são importantes para você?
– A pessoa com quem você se relaciona apoia suas conquistas e seus momentos de alegria quando vocês não estão juntos?
– Você se sente frequentemente em dívida, culpada ou responsável por tudo que acontece com o outro?
– Em uma discussão, ambos conseguem falar? Você se sente obrigada a não expressar o que está sentindo? Você ouve ofensas quando expressa uma crítica?
Infelizmente, nós naturalizamos inúmeros comportamentos violentos, como se não fosse possível ser diferente, como se aquela fosse a única forma possível de se relacionar. Isso não é verdade. É possível construir relações saudáveis.
Relacionar-se de maneira saudável e com base em uma ética não violenta é uma tentativa diária e pode ser difícil no começo. Talvez, precisemos ficar anos sem uma relação duradoura para aprender a impor limites e até encontrar quem nos respeite, admire e esteja disposto a construir um vínculo de companheirismo e cuidado.
Talvez, possamos viver independentemente de uma relação amorosa. Afinal, por que sustentamos determinadas relações que não nos fazem bem? Por que colocamos um status de relacionamento acima de nós mesmos?
*É psicóloga clínica (CRP 07/30799), Mestre e Doutoranda em Psicologia Social e Institucional (UFRGS) e pesquisadora
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